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Inflação surpreende e vira desafio para governo

Por Agencia Estado
Atualização:

A inflação brasileira, pressionada pelas tarifas públicas, tem surpreendido os técnicos da área econômica todos os meses. De janeiro a junho, não houve uma única reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central que tenha deixado de reavaliar, para cima, as projeções para a inflação e para o aumento dos preços administrados, como gasolina, gás, eletricidade e telefonia, em 2002. Na ata da reunião de junho, a mais recente, a inflação medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) do ano estava projetada "em torno de 5,5%", para uma elevação de 8,1% nos chamados preços administrados. Em janeiro, estimava-se uma inflação "abaixo de 4%" para o ano e reajustes de 5,4% para os preços públicos. Os preços da gasolina também têm se mostrado difíceis de estimar. Em março, as projeções do Banco Central eram que, neste ano como um todo, a gasolina contabilizaria uma redução de 7,5% no preço ao consumidor. Em junho, a estimativa da queda já estava bem menor: 4,5%. O mesmo ocorreu com relação ao gás. Em março, a estimativa era que os reajustes ficariam pouco acima de 20% em 2002. Em junho, a projeção já estava em 28%. Tantas revisões fizeram surgir, dentro do governo, um debate sobre a necessidade de ajustes no modelo de projeção de inflação utilizado pelo Banco Central. Há suspeitas que os parâmetros para reajustes de preços baseados em contratos, como energia elétrica, estejam imprecisos. O Banco Central é o responsável pela administração da política de metas de inflação. Para este ano, a meta é de 3,5%, com uma margem de tolerância de dois pontos porcentuais para cima ou para baixo. Isso significa que uma inflação do IPCA de até 5,5% seria considerada dentro da meta. No entanto, as apostas do mercado na semana passada eram que o IPCA chegará a 5,81% de janeiro a dezembro deste ano. O governo ainda acredita que, com um pouco de sorte, será possível manter a inflação dentro da meta mais alta de 5,5%. Porém, os técnicos admitem que há um grande fator de incerteza nessa área: os preços do petróleo. A alta do barril registrada nos últimos meses foi responsável pela revisão, para cima, das projeções do aumento da gasolina e do gás de cozinha. A política de permitir a oscilação do preço dos combustíveis de acordo com a cotação internacional do petróleo e do dólar foi criticada até pelo candidato do PSDB à presidência da República, José Serra, e defendida pelo ministro da Fazenda, Pedro Malan. Também os demais candidatos têm batido firme na alta dos preços das tarifas públicas. A cotação do barril de petróleo se mantém em alta apesar de a economia mundial estar operando num nível abaixo do esperado porque existe o risco latente de um conflito no Oriente Médio. Essa é a razão pela qual os técnicos do governo vêm modificando para pior, mês a mês, as projeções para os derivados de petróleo. Esse quadro é agravado, no Brasil, com a desvalorização do real ante o dólar. Os economistas do governo já sabem que os índices de inflação de julho virão altos por causa do reajuste das tarifas de energia em São Paulo e do aumento das tarifas de telefonia em todo o País, além de novos reajustes nos preços dos combustíveis. O que pode evitar uma alta mais acentuada da inflação são os chamados preços livres, aqueles que não são regulados pelo governo. Como a economia vai crescer menos do que o esperado neste segundo semestre, haverá menos renda circulando na economia. Ou seja, haverá menos espaço para reajustes.

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