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Puxada por energia elétrica, inflação fica em 0,53% em junho e atinge 8,35% em 12 meses

IPCA desacelerou em relação a maio, mas ainda teve o maior resultado para o mês desde 2018; mesmo subindo menos, a conta de luz teve o maior impacto individual no indicador

Foto do author Cicero Cotrim
Por Daniela Amorim (Broadcast) e Cicero Cotrim (Broadcast)
Atualização:

RIO e SÃO PAULO - Com altas mais brandas na conta de luz e na gasolina, a inflação oficial no País desacelerou de 0,83% em maio para 0,53% junho, segundo os dados do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) divulgado nesta quinta-feira, 8, pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

O resultado veio praticamente no piso das estimativas mais otimistas de analistas do mercado financeiro ouvidos pelo Projeções Broadcast, que estimavam uma alta mediana de 0,59%. No entanto, a taxa de inflação acumulada em 12 meses subiu a 8,35%, ante uma meta de 3,75% perseguida pelo Banco Central este ano, consideravelmente acima do teto de tolerância de 5,25%. O quadro inflacionário tem feito economistas revisarem para cima suas projeções para a inflação do ano.

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O Departamento de Pesquisa Macroeconômica do Itaú Unibanco elevou sua projeção de inflação em 2021 de 5,6% para 6,1%. O Banco MUFG Brasil ainda espera uma inflação de 6% em 2021, mas alerta que a projeção tem viés de alta.

"Acho que a leitura geral continua sendo de um IPCA mostrando um quadro que não é tão favorável”, resumiu o economista Daniel Lima, do Banco ABC Brasil, que estima um IPCA de 6,50% ao fim deste ano e de 3,70% em 2022.

Lima prevê aceleração do IPCA a 0,85% em julho, impulsionado pela energia elétrica, devido ao reajuste do valor da bandeira vermelha 2, que acrescenta uma cobrança extra sobre o consumo na conta de luz.

"Ainda podemos ter pressões de gasolina, com o reajuste da Petrobrás, com alguma coisa desse aumento repassada", diz o economista. "Outro risco é a questão das geadas, que está começando a pegar nos produtos (alimentícios) in natura. Tubérculos, raízes e legumes tiveram deflação de 11,15% em junho, mas espero uma reversão ao longo de julho em função das questões climáticas", completou Lima.

O desempenho de junho não muda a avaliação de que a inflação continua pressionada, corroborou o economista Luis Menon, da gestora de recursos Garde Asset Management.

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“Acho que esse número de junho não muda muito o cenário também para o Banco Central, que disse que estava desconfortável com os números. O cenário é de continuar o aperto”, afirma Menon, sobre a expectativa de alta na taxa básica de juros, a Selic.

Mesmo tendo subido menos em relação a maio, a conta de luz teve o maior impacto individual no IPCA de junho. Foto: Ueslei Marcelino/Reuters

A Garde Asset prevê que o Comitê de Política Monetária do BC decida por um aumento de 0,75 ponto porcentual da Selic em agosto, com altas subsequentes até que a taxa de juros chegue a 7,0% ao ano, em dezembro.

Em junho, as famílias brasileiras só gastaram menos com comunicação. Todos os demais grupos de bens e serviços ficaram mais caros, com destaque para os custos maiores com habitação, transportes, alimentação, saúde e vestuário.

A energia elétrica aumentou 1,95% em junho. Embora tenha subido menos que no mês anterior (5,37%), a conta de luz ainda foi o item de maior impacto individual no IPCA do mês, uma contribuição de 0,09 ponto porcentual.

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Em junho, passou a vigorar a bandeira tarifária vermelha patamar 2 - acrescentando R$ 6,243 à conta de luz a cada 100 quilowatts-hora consumidos - em substituição à bandeira vermelha patamar 1 que vigorou em maio (cujo acréscimo era menor, de R$ 4,169). Além disso, houve um reajuste nas tarifas em Curitiba.

O gás de botijão subiu 1,58% em junho, enquanto o gás encanado aumentou 5,01%.

Os combustíveis subiram 0,87% em junho, acumulando uma alta de 43,92% nos últimos 12 meses. A gasolina aumentou 0,69%, segundo maior impacto sobre a inflação do mês, após os preços já terem subido 2,87% em maio. Também ficaram mais caros em junho o etanol (2,14%), óleo diesel (1,10%) e gás veicular (0,16%).

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Na alimentação, o gasto com as compras nos supermercados aumentou 0,33% em junho, sob impacto, principalmente, da elevação de 1,32% nas carnes, que subiram pelo quinto mês consecutivo e já estão 38,17% mais caras em relação a um ano antes.

De acordo com o IBGE, ainda não há sinais de pressão de demanda sobre a inflação, mas sim de aumentos de bens e serviços administrados pelo governo.

“Não dá para dizer que existe efeito de demanda no IPCA. Quando a gente fala de pressão de demanda, a gente costuma olhar para a inflação de serviços. Como a gente vai ver, a inflação de serviços ainda está abaixo do índice geral”, afirmou André Almeida, analista do Sistema Nacional de Índices de Preços do IBGE.

Dentro do índice, a inflação de serviços - usada como termômetro de pressões de demanda sobre a inflação - passou de uma deflação de 0,15% em maio para uma alta de 0,23% em junho. Já a inflação de itens monitorados pelo governo desacelerou de 2,11% em maio para 0,81% em junho. “Os itens monitorados vêm exercendo essa influência na inflação”, apontou Almeida.

A inflação de serviços acumulada em 12 meses saiu de 1,74% em maio para 2,24% em junho. A inflação de monitorados em 12 meses passou de 13,08% em maio para 12,99% em junho. O analista do IBGE lembra que a energia elétrica e os combustíveis subiram menos em junho do que em maio, contribuindo para a desaceleração do IPCA, mas ainda foram os itens que exerceram maior pressão sobre a inflação do último mês.

“A gente não pode afirmar que exista uma pressão de demanda no índice de preços. Porém, com o avanço da vacinação, uma melhora no cenário da pandemia, a tendência é de retomada econômica, e os serviços podem retornar ao normal. A demanda por serviços e produtos pode retomar ao cenário normal de antes da pandemia”, previu Almeida. “Por outro lado, os monitorados continuam acima do IPCA geral. A pressão da gasolina e dos outros combustíveis e da energia elétrica tem contribuído para essa alta na inflação”, acrescentou.

O índice de difusão do IPCA, que mostra o porcentual de itens com aumentos de preços, permaneceu em 64% em junho, mesmo resultado de maio. A difusão de itens alimentícios saiu de 60% em maio para 63% em junho, enquanto a difusão de itens não alimentícios passou de 68% para 66%.

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