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Inflação vai a 0,24% em agosto, puxada por combustíveis e alimentos

IPCA desacelerou em relação a julho, quando subiu 0,36%, mas resultado é o maior para o mês de agosto desde 2016

Por Daniela Amorim (Broadcast)
Atualização:

RIO - As famílias brasileiras voltaram a gastar mais com alimentação no mês de agosto. Os alimentos e os combustíveis foram os itens que mais pressionaram a inflação oficial no País, que fechou o mês em 0,24%, segundo os dados do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) divulgados nesta quarta-feira, 9, pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

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O índice desacelerou em relação a julho, quando subiu 0,36%, mas o resutlado é o maior para o mês de agosto desde 2016. No ano, o indicador acumula alta de 0,70% e, em 12 meses, de 2,44%.

Após um repique no início da pandemia, provocado por uma corrida da população aos supermercados com receio de desabastecimento, o gasto com o grupo alimentação e bebidas voltou a pesar no orçamento doméstico em agosto, com uma elevação de 0,78%. Os alimentos para consumo no domicílio, aqueles comprados nos supermercados, tiveram um avanço de 1,15% no mês.

Os aumentos de preços são impulsionados agora por uma elevação nas exportações brasileiras e pela alta do dólar ante o real, mas também por uma pressão da demanda doméstica, aquecida pelo pagamento do auxílio emergencial, apontou Pedro Kislanov, gerente do Sistema Nacional de Índices de Preços do IBGE. A alimentação para consumo no domicílio acumula um aumento de 11,39% nos 12 meses encerrados em agosto, maior resultado desde novembro de 2016.

Alimentos embalados no supermercado Foto: Daniel Teixeira/Estadão - 28/3/2020

“Alguns alimentos estão em alta, outros estão em queda, como alho, cebola, batata. O consumidor acaba percebendo muito mais as altas que as quedas. E sua percepção de inflação depende muito da sua cesta de consumo individual. Se você é vegetariano vai sentir menos preço das carnes”, disse Kislanov.

Embora o Brasil esteja colhendo uma safra recorde de grãos em 2020, Kislanov lembra que o dólar mais valorizado estimula as exportações e reduz a oferta de produtos no mercado doméstico.

“Essa alta nos alimentícios tem a ver com vários fatores, um deles é demanda externa, principalmente chinesa. Outro é câmbio, porque com dólar alto é interessante para o produtor exportar. E o auxílio emergencial ajudou a sustentar preços de alimentos, especialmente arroz e feijão, produtos mais básicos. Aumenta demanda também por laticínios”, justificou Kislanov. “O auxílio emergencial foi importante para sustentar a demanda por alguns produtos da cesta mais básica, e pode continuar sustentando nos próximos meses.”

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No mês de agosto, houve pressão dos preços do tomate (12,98%), leite longa vida (4,84%), frutas (3,37%), carnes (3,33%), óleo de soja (9,48%) e arroz (3,08%). O arroz acumula uma alta de 19,25% no ano de 2020. Por outro lado, ficaram mais baratos a cebola (-17,18%), alho (-14,16%), batata-inglesa (-12,40%) e feijão-carioca (-5,85%).

A pressão nos itens alimentícios fez a XP Investimentos aumentar sua projeção para a inflação de 2020, que passou de 1,4% para 1,7%. "A alta de preços em alimentos, que já víamos no atacado, chegou ao consumidor final, e isto também está relacionado com a demanda agregada, já que a população está com dinheiro dos auxílios do governo", justificou o economista da corretora, Vitor Vidal.

Por outro lado, num momento em que a população ainda tem saído menos de casa, por conta da pandemia, a alimentação fora do domicílio voltou a recuar em agosto: -0,11%. A refeição fora de casa ficou 0,56% mais barata.

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Também aliviaram o orçamento doméstico os recuos nos preços de itens de vestuário e, principalmente, das mensalidades escolares. Os descontos concedidos pelas instituições de ensino em decorrência da pandemia foram captados pelo IBGE apenas na inflação de agosto, mas já ajudaram a deter o IPCA em 0,22 ponto porcentual. Os gastos com educação recuaram 3,47%. Os preços dos cursos regulares diminuíram 4,38%, com descontos em todas as etapas: pré-escola (-7,71%), seguida por cursos de pós-graduação (-5,84%), educação de jovens e adultos (-4,80%) e creches (-4,76%).

O IPCA teria subido de 0,48% não fosse a queda dos cursos regulares, calculou Pedro Kislanov. / COLABOROU GREGORY PRUDENCIANO

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