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Inflação virou ''''crocodilozinho'''', diz Bernardo

Para o ministro, aceleração do IPCA é fruto de entressafra agrícola e consumo ?bombando?

Por Fabio Graner
Atualização:

O ministro do Planejamento, Paulo Bernardo, afirmou ontem que a inflação brasileira não é mais um dragão, mas, no máximo, "um crocodilozinho". Segundo ele, a aceleração recente no Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) reflete a combinação de entressafra agrícola com consumo "bombando". Ele afirmou que é necessário avaliar se a alta nos preços é pontual ou vai perdurar. Tal avaliação vem sendo feita no Ministério da Fazenda, que não vê motivos para apreensão e reversão do processo de queda nos juros, como já acreditam alguns analistas de mercado. Em entrevista ao Estado, o secretário de Acompanhamento Econômico, Nelson Barbosa, avaliou que a atual aceleração do IPCA é determinada pelos alimentos, que passam por um choque de preços no mercado internacional, e será revertida no médio prazo. "Essa alta não representa risco de aumento permanente na inflação", disse o secretário. E aproveitou para alfinetar o mercado financeiro, às vésperas da reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC): "O que estou falando é direcionado aos analistas que usam a atual elevação dos alimentos como possível motivo de pânico, que levaria a uma reversão da política monetária. Assim como a inflação mais baixa não era motivo para euforia descontrolada, essa inflação mais alta não é motivo para reversão de expectativa". Embora enfatize que o recado é voltado para os economistas do mercado, a avaliação de Barbosa tem de ser vista no contexto em que se discute se haverá mudança na dosagem da política de juros do Copom e também sob a ótica desenvolvimentista do ministro Guido Mantega, que já disse abertamente não ver motivos para interrupção dos cortes nos juros. Mas, cuidadoso, Barbosa evitou comentar o que deveria ocorrer na próxima reunião da diretoria do BC. "A política monetária é atribuição do BC. Nossa posição nós transmitimos diretamente para eles." O secretário destacou que, nos últimos três anos, a inflação dos alimentos ficou menor que o IPCA cheio e este ano esse processo se reverteu, determinado pela alta internacional de produtos como leite, carne e trigo. Para Barbosa, no entanto, com preços mais elevados, a produção de alimentos vai aumentar e, no médio prazo - possivelmente já no fim do ano - os preços cairão. Segundo o assessor de Mantega, flutuações de preços nos alimentos são normais. "É um fato da vida. Não deve ser descartado, mas não é motivo para mudanças repentinas", comentou. O ministro Paulo Bernardo, por sua vez, disse que a inflação sempre preocupa, tendo sido até sinônimo de doença no Brasil no passado. Para combater a pressão causada pelo crescimento acelerado no consumo, o ministro disse que é preciso estimular os investimentos para a elevação da oferta. "Já estamos fazendo isso. O governo é bom", disse, em tom bem-humorado. Bernardo elogiou o trabalho do BC nos últimos quatro anos e meio, que, segundo ele, conseguiu fazer com que a inflação não tenha sobressaltos. Mas ele evitou fazer apostas sobre a próxima decisão do Copom. "Não sou a favor de se fungar no cangote do BC", afirmou o ministro.

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