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Inquietação é o nome do ano que chega

Por MARCO ANTONIO ROCHA
Atualização:

Mais 12 dias, ano-novo. Dias de olhar para trás e para a frente ao mesmo tempo. Na vida pessoal, nas famílias, nas empresas, na economia, no País. A lanterna de popa (como diria um ex-ministro brasileiro, já falecido, e que sabia escrever como pouco se vê na economia deste país - Roberto Campos) ilumina um passado recente que, do ponto de vista pessoal e das famílias, não justifica muitas festas de arromba no Natal e na passagem de ano. Mas também não chega a dar motivo a choradeiras. O emprego não piorou demais, o desemprego não se aprofundou demais, as rendas pessoais e familiares não subiram como em anos anteriores, mas não pioraram demais. Ou seja, no geral, a vida cotidiana dos brasileiros, na comparação entre o ano que passou e o ano que o precedeu, ficou mais ou menos na mesma, como o nosso Produto Interno Bruto (PIB): zerada. Isso é preocupante do ponto de vista macroeconômico e do médio prazo. A população do Brasil aumentou no mesmo período, então, a economia deveria ter aumentado pelo menos na mesma proporção ou um pouco mais, para dar conta da parcela da população que deixa de ser produtiva em razão da idade, dos acidentes, de doenças, etc., e que tem de ser sustentada pela parcela que trabalha. Acho possível dizer, todavia, sem recorrer a pesquisas, que, até agora pelo menos, a queixa maior da população neste finalzinho de ano é quanto ao encarecimento de tudo, os aumentos de preços. A novidade é que a inflação se tornou aflitiva. Mais adiante, isso pode se tornar um problema muito perturbador para a vida normal, e aí começam seus efeitos realmente perniciosos para a economia em geral. Já do ponto de vista das empresas e da condução da economia como um todo, a lanterna de popa ilumina um ano desastroso. O governo, no ano que termina, foi mais do que displicente e errático: sua política econômica (se houve) foi perigosa para o futuro próximo. Os faróis que estamos acendendo para o ano que se aproxima nos mostram desafios extremamente complicados e preocupantes. Não apenas para a condução da economia do dia a dia, mas para a escolha de estratégias de médio e de longo prazos. A tal de Nova Economia do mandato Dilma desaguou em crescimento zero e, pior, num vácuo de alternativas. A história das políticas econômicas governamentais mostra, aliás, que o experimentalismo imprudente e desavisado, a par de desorganizar aquilo que pedia correções, mas era administrável, resulta em perplexidade sobre o que fazer para pelo menos retornar ao rumo que foi abandonado. É a situação em que se encontram neste começo de um novo mandato a presidente Dilma e a equipe econômica por ela designada. Esta, por sua formação acadêmica e experiência prática, sabe que, dada a desordem que se estabeleceu, o caminho é um retorno rápido à mais estrita ortodoxia administrativa e econômica. Mas sabe também que não pode dizer isso. No entretempo, tateia e adia o anúncio de suas ideias. Essa indefinição no palco repercute na plateia: IBGE, CNI, FGV, etc. - institutos e entidades empresariais - divulgam pesquisas atestando que o mundo empresarial está tomado pela perplexidade. Atarantados e inseguros, os empresários simplesmente trocam a propensão de investir pela de esperar sentados e ver no que dá. Isso contribuirá para afundar ainda mais o PIB num ano que começa sob o megaescândalo da Petrobrás, do reajuste de preços da energia e de combustíveis, da seca nas regiões produtoras, cujos efeitos veremos em 2015, e, agora, com o novo temporal financeiro mundial vindo da Rússia. Os 12 anos Lula-Dilma deixaram a economia brasileira num parque de estacionamento lamacento de onde será difícil retirá-la para fazê-la andar de novo. É difícil pensar no futuro nesse vendaval. Vive-se o aqui e agora. Só Lula pensa em 2018, e no 5.º mandato do PT.* Jornalista. E-mail: marcoantonio.rocha@estadao.com

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