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INSS negocia com MPF prazo máximo de dois meses para análise de processos represados

Ideia do acordo é fixar um prazo máximo de atendimento por tipo de benefício e evitar que nesse período a Justiça conceda a segurados o direito de “furar a fila”

Por Idiana Tomazelli
Atualização:

BRASÍLIA - O INSS negocia um acordo com o Ministério Público Federal (MPF) e órgãos de controle para garantir “blindagem jurídica” à força-tarefa que pretende pôr fim à fila de espera por benefícios. O presidente do órgão, Leonardo Rolim, antecipa ao Estadão/Broadcast que um dos compromissos será o de que nenhum processo aguardará mais de 60 dias (dois meses) para análise. O objetivo é zerar a fila em seis meses.

Pessoas com deficiência e idosos ficam mais tempo nas filas do INSS Foto: Estadão - Arquivo

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A ideia do acordo é fixar um prazo máximo de atendimento por tipo de benefício e evitar que nesse período a Justiça conceda a segurados o direito de “furar a fila”. “O máximo será 60 dias, mas alguns serão menos, 45 dias”, diz Rolim. “O objetivo é dar transparência e assumir um compromisso público”, argumenta. O órgão ainda está finalizando a proposta e desenhando os prazos específicos de cada fila.

As decisões judiciais buscam atender mais rapidamente às emergências na vida do cidadão que depende do pagamento para sobreviver, mas, segundo o presidente do INSS, acabam dificultando a tarefa do órgão de eliminar o estoque de pendências. Muitas dessas decisões acabam até mesmo parando em outra fila, a de atendimento a demandas judiciais, que também está atrasada. Essa demora, admite Rolim, tem deixado a Justiça “bem azeda”.

Se colocado em prática, o plano significaria uma aceleração em relação à situação dramática vivida pelos brasileiros que aguardam uma resposta do órgão. No início deste ano, momento de maior pressão sobre o governo devido às filas, a espera pelo BPC (assistência à baixa renda) chegava a 195 dias em média. Esse prazo era de 125 dias nas aposentadorias, 86 dias nas pensões e de 63 dias no caso do salário-maternidade.

Filas

Até 23 de março, o INSS tinha 1,16 milhão de pedidos de benefícios aposentadoria, pensão, auxílio doença e BPC sem resposta havia mais de 45 dias, prazo legal para análise. Considerando os que estão dentro do prazo, são 1,75 milhão de requerimentos.

Mas essa fila é apenas uma entre os diversos focos de acúmulo de processos dentro do órgão. O represamento é geral e envolve cerca de 7 milhões de análises ainda pendentes no órgão, incluindo recursos, manutenção de cadastros e atendimento a demandas judiciais.

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A crise do novo coronavírus obrigou o INSS a fechar as agências até o fim de abril, para evitar riscos à saúde de seus segurados – muitos já idosos, que integram o grupo de risco para a covid-19. Apesar de a razão ser negativa, uma pandemia de um vírus, a suspensão dos atendimentos ajudará o órgão a “arrumar a casa”.

Segundo Rolim, cerca de 7 mil servidores foram deslocados do atendimento para a análise dos processos. “O fechamento das agências já teve efeito (em aumento nas análises), mas deve subir mais nesta semana. Eram 6 mil servidores estavam na análise, agora são 13 mil. Claro que não vai dobrar a performance porque eles não têm o mesmo treinamento, mas vai ajudar”, diz. Quando as agências reabrirem, a ideia é que as contratações temporárias de servidores aposentados e militares inativos sirvam para reforçar essa frente.

Nas três primeiras semanas de março, o estoque de requerimentos de benefício caiu em quase 100 mil na comparação com fevereiro. Mas outras filas quase não andam.

A maior delas tem 2,7 milhões de processos pendentes e reúne os benefícios com indícios de irregularidade. São pagamentos que já despertaram o alerta em órgãos de controle ou na própria equipe de inteligência previdenciária, mas ainda não foram verificados pelo INSS. O histórico indica que 16% a 19% costumam ser cancelados porque são indevidos, o que traria economia aos cofres públicos.

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Há ainda cerca de 400 mil processos esperando análise na chamada “fila de manutenção”. São pedidos de revisão de período de contribuição não registrado, cadastro de procuração, entre outros. O presidente do INSS editou um ato para permitir que os documentos relacionados a essas solicitações sejam agora aceitos em meio virtual, sem necessidade de atendimento presencial nas agências.

Outra fila é a de recursos (quando um pedido de benefício é negado, por exemplo), com 1,5 milhão de processos – 600 mil deles dependendo de uma ação exclusiva do INSS. Os pedidos de atendimentos a demandas judiciais também se acumulam

Há também a fila de compensação previdenciária, que concentra as solicitações de reembolso entre o INSS e os regimes próprios de Previdência de Estados e municípios. Esses pedidos ocorrem quando um regime (estadual, por exemplo) paga benefício a um segurado que passou parte da vida contribuindo para outro (como o INSS), que precisaria repassar as contribuições recolhidas no passado.

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Acordo

O acordo do INSS para fixar prazos será feito no âmbito de um processo que tramita no Supremo Tribunal Federal (STF) e questiona o prazo de realização das perícias. Nas instâncias anteriores, o governo havia sido condenado a conceder os benefícios de forma automática em caso de impossibilidade de realização de perícia médica no prazo legal de 45 dias. A União recorreu da decisão, e o processo seria julgado ainda este ano.

Um grupo técnico formado por integrantes do MPF, da Defensoria-Pública da União (DPU), do Tribunal de Contas da União (TCU) e da Controladoria-Geral da União (CGU) passou a conversar com o INSS sobre a possibilidade de um acordo, inclusive ampliando para benefícios que não dependem da perícia médica, como é o caso de aposentadorias e pensões por morte. É dessa negociação que virá a proposta de cronograma por parte do INSS.

“A ideia é ter uniformidade. Se conseguir um acordo com o INSS de que ele vai analisar processos em tanto tempo, talvez o Judiciário possa negar mandados de segurança para tentar furar a fila”, avalia a procuradora regional da República Zélia Pierdoná, que participa do grupo institucional.