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Instabilidade dificulta rolagem de dívidas das empresas

Por Agencia Estado
Atualização:

A instabilidade no mercado financeiro já começa a se refletir nas contas externas do País. Apesar da redução do déficit nas transações com o resto do mundo, alguns indicadores importantes no balanço de pagamento mostram uma piora na percepção dos investidores estrangeiros em relação à economia brasileira. As empresas privadas estão tendo mais dificuldade para rolar as dívidas que vencem este ano. A taxa média de rolagem está em 65% do total de compromissos que deve ser quitado no período. Além disso, os empréstimos intercompanhias, considerados operações de melhor qualidade e, por isso, classificadas como investimentos estrangeiros diretos, caíram US$ 800 milhões nas últimas semanas. Em junho o Brasil recebeu apenas US$ 700 milhões em investimentos estrangeiros diretos e a expectativa é encerrar o mês com algo próximo a US$ 1 bilhão. Praticamente o mesmo valor registrado em junho do ano passado, quando a crise de energia postergou por um período a realização de novos investimentos. Em maio, o total de investimentos diretos foi de US$ 1,4 bilhão ante os US$ 2 bilhões verificados em maio de 2001. O valor registrado no acumulado deste mês é resultado de um ingresso de US$ 1,5 bilhão para compra ou ampliação de parques industriais (no jargão do mercado, esses recursos são classificados como participação no capital) e saídas de US$ 800 milhões para quitar empréstimos realizados entre matrizes no exterior e filiais instaladas no Brasil. Em maio, os empréstimos intercompanhias foram de apenas US$ 159 milhões contra US$ 977 milhões no mesmo mês do ano passado. Segundo o chefe do Departamento Econômico do BC, Altamir Lopes, parte dos empréstimos intercompanhias foi convertido numa operação de participação no capital, o que afetou o número do mês de junho. Mas ainda assim ele admite que o cenário turbulento deve afetar as operações intercompanhias. Tanto é que, apesar de manter a projeção de investimento para o ano em US$ 18 bilhões, o BC reviu a composição desses investimentos. Os recursos classificados como participação no capital passaram de US$ 17 bilhões para US$ 17,326 bilhões enquanto os empréstimos intercompanhia que estavam estimados em US$ 1 bilhão, caíram para US$ 675 milhões este ano. "Os empréstimos intercompanhias podem ter alguma sensibilidade mas, no geral, os investimentos diretos são mais imunes às turbulências", afirma Lopes. "Além disso, temos um histórico de investimentos diretos que demanda capital complementar para modernização do parque produtivo já instalado no País", completa, ressaltando que os investidores estrangeiros estão menos olhando mais para os fundamentos da economia. Na avaliação do BC, o que está ocorrendo é uma redução dos empréstimos e financiamentos de médio e longo prazos e um crescimento do capital de curto prazo. Para este ano, as estimativas do BC são de um aumento de cerca de US$ 2 bilhões de capital de curto prazo. Isso porque antes da crise o BC projetava uma saída desse tipo de capital de US$ 566 milhões e, agora com a revisão do balanço de pagamentos, estima uma entrada de US$ 1,593 bilhão. A taxa média de rolagem das dívidas do setor privado que vencem este ano deverá ficar em 65%, um dos valores mais baixos já registrados desde a crise da Ásia, no final de 1997. Normalmente, o governo trabalha com uma taxa de rolagem de 100%. Em março, a previsão para o ano foi revista para 75% e, agora, caiu ainda mais. Em 2001, mesmo com os desdobramentos da crise da Argentina, o setor privado conseguiu rolar com folga os seus compromissos no exterior.

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