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Íntegra do discurso de Lula na festa de 50 anos da Petrobras

Por Agencia Estado
Atualização:

Discurso do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, na solenidade de comemoração dos 50 anos da Petrobras, realizada na sede da empresa no Rio de Janeiro Queria saber do presidente da Petrobrás se com esse crachá eu já posso passar no caixa para receber o salário. Meu querido companheiro José Eduardo Dutra, presidente da Petrobrás, Minha companheira Rosinha Garotinho, governadora do Estado do Rio de Janeiro, Minha querida companheira Dilma Rousseff, ministra de Minas e Energia, Minha querida companheira Marisa, Meus amigos ministros e ministras, Meus amigos e amigas senadores e senadoras, Deputados e deputadas, Diretores e diretoras da Petrobrás, gerentes, meus amigos petroleiros e minhas amigas petroleiras, Meu caro companheiro funcionário número um da Petrobrás, Eu fico imaginando hoje, comemorando 50 anos da Petrobras, vendo este monumento de empresa, motivo de orgulho para todos nós, em qualquer parte do planeta terra. E fico imaginando o que foi a luta de meia dúzia de abnegados há 50 anos. Eu fico imaginando quantas vezes aqueles que ousaram fazer a campanha ?O Petróleo é Nosso? foram chamados de malucos, de comunistas, de pessoas que pensavam pequeno, que não tinham dimensão. E que o Brasil não tinha petróleo. E hoje, passados 50 anos, estamos aqui para ter, mais uma vez, a capacidade de afirmar diante de nós, dos nossos filhos, dos nossos netos: não há nenhuma possibilidade de construirmos alguma coisa, se não acreditarmos naquilo que estamos fazendo. Na história da humanidade todas as grandes descobertas, todos os grandes feitos, ocorreram porque alguém ousou, porque uma minoria ousou, porque alguns foram chamados de loucos, porque alguns foram presos, porque alguns morreram, e depois nós colhemos os frutos da grande conquista. No Brasil foi assim a nossa Independência. Precisou morrerem muitos para que um dia nós descobríssemos que era preciso ter independência. Também foi assim em todos os países. E a Petrobras é motivo de orgulho, e eu, que nesses últimos nove meses tenho viajado muito pelo mundo, sei o que representa a Petrobrás. Eu sei como é que as pessoas de fora se dirigem quando falam sobre a Petrobras. E, obviamente, isso se deve à capacidade humana do nosso país. Um país que produz um presidente da Petrobras, que veio aqui e ao fazer um discurso, fica fazendo política com uma música, mostra que é um país diferente, é um país mais criativo, é um país em que, mesmo na adversidade, o povo consegue dar um salto de qualidade fantástico. Eu quero então homenagear, antes de ler o meu pronunciamento, que normalmente é a parte mais chata de tudo que a gente faz, homenagear aqueles que lutaram antes de nós, muito antes de nós, porque eu tinha apenas cinco anos em 1950. Portanto, aqueles que vieram muito antes de nós, que ousaram levantar a cabeça e acreditar neste país, que ousaram desafiar a lógica dos países ricos do mundo, que teimavam em dizer que nós não tínhamos nascido para ser pobres. E que ousaram, um dia, sair pelas ruas do Rio de Janeiro, pelas ruas de São Paulo, pelas ruas de Salvador, pelas ruas de Recife, como se fossem um bando de meninos e meninas, dizendo: ?O Petróleo é Nosso?. Meus parabéns a vocês porque, certamente, a minha geração, a nossa geração será eternamente grata à coragem que um dia vocês ousaram ter. Espero que outras gerações, como vocês, surjam a cada década, para que possamos descobrir novas coisas para o nosso país. A Petrobras nasceu de uma vontade nacional, é uma causa pública que se tornou sinônimo de eficiência e soberania, ao provar na prática que o petróleo, que era um sonho, agora é nosso. Hoje, ela garante mais de 85% da demanda e ocupa um espaço destacado na identidade brasileira. É uma das principais alavancas e orgulho do desenvolvimento nacional. Há 50 anos, uma geração de homens e mulheres apostou que seria assim. A Petrobras ganhou essa aposta ao entregar ao país aquele que talvez seja o poço mais valioso já descoberto em toda a sua história, o poço de onde jorram o orgulho e a confiança no trabalho da Nação. Não foi uma prospecção fácil, quando essa bandeira foi erguida há meio século. Muitos acharam que ela se destinava ao fracasso. Como um país pobre iria concorrer com gigantescos grupos de países estrangeiros? Por que ousar competir num setor que pressupunha alta tecnologia, administração sofisticada, investimentos tão vultosos? De fato, parecia irrealista, mais uma teimosia do que uma estratégia de desenvolvimento. Nossa esperança colidia com a palavra do especialista Walter Link, geólogo norte-americano contratado pelo Conselho Nacional do Petróleo. Emitia sinais taxativos. O famoso Relatório Link descartava todas as possibilidades, exceto uma: o petróleo brasileiro se escondia na plataforma marítima, mas em profundezas tecnologicamente inacessíveis a custos economicamente inviáveis. Um sonho, porém, nem sempre é uma miragem, especialmente quando é sonhado por milhões de pessoas, onde une a vontade nacional, constrói um projeto, define um rumo. Quando isso acontece, a política cumpre seu papel maiúsculo, de servir como ponte entre duas épocas. Ontem como hoje, é assim que a História se renova. Significa dizer que o desenvolvimento não é um automatismo na vida das nações, mas uma combinação delicada de necessidades e possibilidades. A economia é a máquina, produz riquezas para o ser humano, condiciona o campo de ação, mas não decide o nosso destino. Se dependesse somente da lógica fria, dos condicionantes da época, certamente Getúlio Vargas não teria criado a Petrobrás, Juscelino não teria feito Brasília, nem tampouco Celso Furtado teria feito a Sudene. Hoje, talvez, nem tivéssemos o direito de ostentar a palavra Nação. Em 3 de outubro de 53, o Brasil decidiu construir seu caminho, fazendo o próprio caminhar, como disse o poeta, e criou uma empresa nacional estratégica, para ampliar as bases de nosso projeto de desenvolvimento. Assim, nasceu a Petróleo Brasileiro S/A. Quando a lei 2.004 foi assinada por Getúlio Vargas, nossa produção era inferior a 3 mil barris-dia. A dependência externa chegava a 80%. Foi preciso criar uma subscrição compulsória sobre a venda de combustíveis, porque não havia recursos nem para financiar os primeiros passos dessa empreitada. Hoje, a Petrobras é a maior empresa brasileira e uma das maiores do mundo. Tornou-se uma verdadeira âncora de estabilidade da nossa economia. Mesmo nas mais severas crises mundiais, quando capitais refluem e a volatilidade impera, jamais faltou petróleo ao Brasil. O sonho da Nação, alimentado nas ruas, acrescentou ao mercado uma dinâmica própria, que poupa bilhões de dólares em divisas. Gera 120 mil empregos, alimenta a indústria naval, garante encomendas a 2 mil empresas fornecedoras e protege a produção da instabilidade inerente ao cenário político internacional. As maiores reservas, de fato, repousam no fundo do mar. Mas lá estariam, até hoje, se, ao invés de abdicar, uma geração de brasileiros não tivesse lutado pela exploração dessa riqueza, sem delegar o futuro à competência alheia, sem desperdiçar uma janela multiplicadora de oportunidades. A luta pelo petróleo desencadeou o processo de industrialização que levou o Brasil a crescer às maiores taxas do planeta, durante cerca de 30 anos. Hoje, o país produz mais de 1 milhão de barris-dia. É o maior produtor mundial em águas marítimas, com poços a mil e oitocentos metros de profundidade e com competência para exploração a três mil metros de profundidade. A empresa que nasceu sem recursos investirá 34 bilhões e 300 milhões de dólares até 2007. Quase 60% de caixa próprio, que redundarão em encomenda de navios, refinarias, dutos, novas petroquímicas, tecnologia de ponta e oportunidades de emprego e de negócios. Abdicar da geração de empregos nesta área seria um equívoco quase tão grande quanto abrir mão do petróleo nacional nos anos 50. Ainda mais com trabalhadores tão qualificados e dedicados como nós temos no Brasil e como estamos vendo aqui na Petrobras. Por isso, mudamos as regras para licitação nas plataformas P51 e P52. Vocês estão lembrados de que, durante a campanha eleitoral, a Petrobrás afirmava, através da direção da época, que o Brasil não tinha condições de produzir aqui. Foram muitas reuniões. Os companheiro da COP, o Pinguelli se lembra disso, os companheiros dos estaleiros do Rio de Janeiro se lembram disso, os trabalhadores da indústria naval e os petroleiros se lembram disso. Depois de muitos debates com trabalhadores, empresários, engenheiros, ficou provado que os nossos estaleiros tinham condições de fazer as plataformas no Brasil. Passaram vários meses. Eleito presidente da República, vou a Minas Gerais participar de um encontro com o primeiro-ministro da Noruega e, pasmem, ele me disse: ?Presidente, eu sei que o senhor não permitiu que a P51 e a P52 fossem feitas na Noruega. Pois bem, nós compramos um estaleiro no Brasil e vamos participar para construir as plataformas da Petrobras aqui, no Brasil?. Era exatamente isso que nós queríamos. Nós não queríamos evitar que empresas estrangeiras produzissem os nossos navios ou a nossa plataforma. O que nós queríamos era que o nosso dinheiro fosse gasto dentro do Brasil, para gerar empregos para homens e mulheres brasileiros. E vamos manter a exigência mínima de 65% de conteúdo nacional nos equipamentos destinados a prospecção marítima do petróleo brasileiro. Meus companheiros e minhas companheiras, não se ergue uma catedral sem ter fé. Não se constrói um país sem grandeza política. Se Deus quiser, até o final do meu mandato, atingiremos o objetivo que mobilizou essa geração visionária de homens e mulheres: a auto-suficiência com 100% de petróleo nacional. Agora, uma nova causa se impõe, tão desafiadora quanto a campanha dos anos 50. E tenho certeza tão decisiva quanto ela para o nosso futuro. Falo da luta por um desenvolvimento que faça da inclusão social o novo motor da economia brasileira. Esse é o caminho de um futuro encabeçado por imperativo ético, econômico e político. Mais desumana que a sociedade pobre é a economia rica que nunca reparte. A Petrobras é uma gigantesca prova da viabilidade do desenvolvimento brasileiro. Ela demonstra que, quando a vontade nacional se junta à determinação de um governo, o país supera seus limites e renova suas possibilidades. Por isso, eu estou convencido de que um povo que fez a Petrobras há meio século, que fez Brasília há mais de 40 anos, pode acabar com a fome e com a miséria no século XXI, pode erradicar o analfabetismo, pode unir-se aos demais países em desenvolvimento e ajudar a construir uma nova ordem internacional, mais justa na repartição dos recursos, mais equilibrada na divisão do comércio mundial e, sobretudo, propiciadora de paz. Nos anos 50, quem disse que o Brasil não devia fazer, porque não sabia nem podia fazer, cometeu, talvez, um dos maiores equívocos da nossa História. A luta pela justiça social é o divisor de águas do desenvolvimento brasileiro do século XXI, é a campanha do petróleo da nossa geração. Cabe-nos provar, também dessa vez, que quando o Brasil quer o Brasil pode. Parabéns, Petrobrás, parabéns, petroleiros e petroleiras de todo o Brasil.

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