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Integração é chave de produção sustentável

Integração Lavoura-Pecuária-Floresta da Embrapa torna propriedade rural modelo

Por Tania Rabello
Atualização:

Uma propriedade rural com rotatividade constante de atividades na mesma área, que está sempre em produção, garantindo renda o ano todo, produtividade acima da média e qualidade do solo, das águas e do meio ambiente. Assim poderia ser definida a Fazenda Santa Brígida, em Ipameri (GO), propriedade de Marize Porto Costa. Ali são produzidos eucalipto, soja e milho na safra de verão; milho, sorgo e girassol na colheita de inverno; além de bovinos de corte. Tudo em 5 mil hectares, sendo 2,5 mil próprios e 2,5 mil arrendados. 

O eucalipto foi plantado há dez anos e dá madeira com cortes a cada sete anos, além de proporcionar sombra para o gado; os grãos, colhidos em duas safras anuais, representam mais uma fonte de renda; e o pasto, cultivado entre os renques de eucalipto, concomitantemente com a soja e o milho de verão, garante alimento para os bovinos assim que as lavouras são colhidas, num sistema harmônico e sucessivo.

Marize, dona da Santa Brígida, em Ipameri (GO), que produz soja e milho , entre outros, além de criar gado Foto: Marize Porto Costa

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Marize Porto adotou em sua propriedade uma técnica preconizada pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), denominada Integração Lavoura-Pecuária-Floresta (ILPF). Essa tecnologia tem sido importante para recuperar pastagens degradadas no País – calcula-se que haja 80 milhões de hectares de pastos deteriorados nos campos brasileiros – e uma alternativa sustentável e intensiva de uso da terra.

A produtora conta que quando assumiu a propriedade, em 2006, havia dois problemas: endividamento e solos degradados, infestados por cupinzeiros. “Fizemos as contas e vi que a recuperação da área da forma tradicional seria cara e, naquele momento, economicamente inviável”, diz. “Procurei a Embrapa e eles me sugeriram a integração lavoura-pecuária (ILP), que me pareceu bastante inteligente, pois a agricultura subsidia a recuperação da pastagem.”

Ela começou plantando soja e semeando pasto na mesma área, concomitantemente. “O resultado foi muito positivo. Colhemos os grãos, pagamos as contas e o pasto estava lá, reformado e pronto para receber os animais”, relata. Atualmente, em 3 mil hectares, ela mantém agricultura (com duas safras anuais), em 1,5 mil hectares, pecuária (com pasto entremeado na área de grãos), e em 250 hectares, o eucalipto.

Aquecimento

A ocupação intensiva do solo por meio da ILPF vai além da maior lucratividade da Fazenda Santa Brígida. Esse pacote tecnológico contribui também para reduzir o aquecimento global. “Diversos pesquisadores já realizaram trabalhos aqui e a conclusão é que a propriedade reduz em 55% as emissões de gases de efeito estufa, quando comparados a sistemas convencionais, além do sequestro e fixação de 5 toneladas de gás carbônico equivalente por hectare/ano”, relata a produtora.

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Não à toa, essa tecnologia vem sendo difundida pela Embrapa como contribuição para o Brasil atingir suas metas de redução das emissões, dentro do Acordo de Paris. De acordo com o pesquisador em Mudança de Clima da Embrapa Solos, Renato Aragão Ribeiro Rodrigues, que também é presidente do Conselho Gestor da Rede ILPF, “o País criou o Plano de Agricultura de Baixa Emissão de Carbono (Plano ABC), do qual a ILPF é uma das tecnologias”. “E, no âmbito do Acordo de Paris, o Brasil vem trabalhando a ILPF como a principal tecnologia de produção de alimentos, com mitigação das emissões e adaptação à mudança do clima.” 

Atualmente, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a área com ILPF no Brasil – considerando-se todas as suas variáveis, como ILP, ILF e ILPF – soma 15 milhões de hectares. Um crescimento expressivo se se considerar que em 2005 a área correspondia a menos de 2 milhões de hectares, diz Rodrigues. “Essa evolução demonstra a eficácia das políticas públicas e o engajamento dos produtores na busca de soluções sustentáveis de produção”, ressalta o pesquisador. Essa área total já quase alcançou a meta sugerida pelo Brasil para reduzir as emissões de gases do efeito estufa. 

Restauração

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O País comprometeu-se a restaurar 15 milhões de hectares de pastagens e adotar, em 5 milhões de hectares, sistemas integrados, como a ILPF, até 2030. Mas o pesquisador comenta que a perspectiva de crescimento da área agricultável ocupada com ILPF no Brasil seja de mais de 20 milhões de hectares até 2030. “Chegaríamos, portanto, a 35 milhões de hectares com a tecnologia”, diz Rodrigues. “É muito importante destacar que a ideia é que esse crescimento seja todo feito em áreas de pastagens degradadas ou pouco produtivas, sem a necessidade de abertura de novas áreas de floresta. O desmatamento zero é uma questão de importância vital para posicionar o país como a grande potência agrícola e ambiental do planeta.”

Para Rodrigues, a ILPF pode ser considerada um sistema de produção de alimentos, fibras e energia extremamente sustentável. “Ela promove ganhos econômicos, sociais e ambientais, como redução da erosão, aumento da matéria orgânica do solo e conservação da sua estrutura, conservação de água, aumento do conforto térmico para os animais, redução do uso de agrotóxicos, aumento do estoque de carbono, mitigação das emissões de gases do efeito estufa, adaptação do sistema aos impactos da mudança do clima, entre outros”, relaciona o pesquisador.

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