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Integrante do FI-FGTS pede ajuda a empresas

Emediato pediu a companhias que têm negócios com o fundo dinheiro para filme

Foto do author Murilo Rodrigues Alves
Foto do author Andreza Matais
Por Murilo Rodrigues Alves e Andreza Matais
Atualização:

BRASÍLIA - Integrante do conselho que aprova os investimentos do bilionário fundo do FGTS (FI-FGTS), o jornalista Luiz Fernando Emediato procurou ao menos quatro empresas, já beneficiadas ou na fila de espera por recursos do fundo, para que patrocinassem a montagem de um filme baseado num livro que escreveu. No caso do Banco Original, do grupo J&F, ele concluiu a captação de R$ 1 milhão, conforme documento ao qual o Estado teve acesso. As construtoras Camargo Correa, Odebrecht e o banco BTG, de André Esteves, também foram consultadas para darem apoio ao longa-metragem. Depois de questionado pelo Estado sobre as operações na última sexta-feira, Emediato pediu que as duas construtoras desconsiderassem o pleito, alegando que poderia causar conflito de interesses. O BTG confirmou ter sido procurado, mas que o projeto não se encaixa em sua política de patrocínio. Quando recebeu dinheiro do Banco Original para o filme, Emediato fazia parte do comitê de investimento, órgão responsável por definir em quais projetos o FI-FGTS coloca dinheiro, seja por meio de sociedades acionárias ou comprando dívidas das empresas. No comitê, Emediato era representante do Ministério do Trabalho, então sob comando de Brizola Neto (2013). O fundo tem R$ 1,8 bilhão em debêntures (papéis de dívida) da Eldorado Brasil Celulose, controlada pelo grupo J&F, que mantém empresas em diversos segmentos com destaque para JBS, maior produtora de carne bovina do mundo. O Estado apurou que a intenção da companhia era ampliar os negócios com o fundo para viabilizar a expansão da fábrica de celulose em Três Lagoas (MS), além de investimentos em transporte rodoviário, ferroviário e hidroviário. Atualmente, Emediato representa a Força Sindical no conselho do FI-FGTS desde fevereiro. Paraíso. O Banco Original informou ter dado patrocínio ao filme por meio da Lei Audiovisual de incentivos fiscais (Lei Federal n.º 8.685/93), mas com um valor inferior, de R$ 515 mil. O longa O Outro Lado do Paraíso, de André Ristum, está orçado em R$ 7,3 milhões, e até o momento foram captados R$ 4,6 milhões. O filme é inspirado no livro homônimo de Emediato, publicado em 1981. A busca por patrocínios começou em 2007, mas ainda continua. A Agência Nacional de Cinema (Ancine) prorrogou o prazo para captação, via incentivo fiscal, até o último dia deste ano. Nesse sistema, uma empresa injeta dinheiro no filme e paga menos imposto. O Estado apurou que, além do patrocínio do grupo J&F, Emediato procurou neste ano as duas maiores construtoras do País para pedir recursos para o filme: a Odebrecht e a Camargo Correa. O grupo Odebrecht é o que mais tem negócios com o FI-FGTS, como revelou o Estado em maio, entre R$ 3,5 bilhões e R$ 4 bilhões. Já a Camargo Correa tem um projeto na fila para receber recursos do fundo: o Estaleiro Atlântico Sul (EAS), que pode ter aportes de até R$ 400 milhões. Se a operação for aprovada, o fundo poderá ter até 20% do estaleiro, em sociedade com as empresas Camargo Correa, Queiroz Galvão e um grupo de companhias japonesas liderado pela IHI Corporation. Emediato afirmou que procurou as duas empreiteiras, assim como fez com outras construtoras "pioneiras que trabalharam na construção de Brasília", já que esse é um subtema do filme. "Em muitas dessas cartas os produtores pediam que eu, autor do livro a ser filmado, reforçasse o pedido. Foi o que fiz, sempre". Ele disse que chegou a enviar e-mail para conhecidos nas duas construtoras, mas depois pediu que desconsiderassem o pedido por "possível conflito de interesse". Procuradas, Odebrecht e Camargo Correa confirmaram ao Estado que houve o pedido de patrocínio ao filme, mas disseram que os recursos não foram liberados. Procurado nos últimos dias, Emediato deu duas versões de como agirá para evitar conflitos de interesses. Primeiro, disse que não aceitaria mais apoio das empresas sócias ou que receberam dinheiro do fundo. Depois, disse que resolveu não participar de reuniões deliberativas do FI-FGTS envolvendo eventuais patrocinadoras do filme.

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