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Interesse de estrangeiro por mercado de ações no Brasil é o menor desde janeiro de 2000, diz índice

Indicador que mede presença do País nas carteiras internacionais caiu para apenas 4,27% em fevereiro, ante 17% alcançados logo após a crise mundial de 2008; cenário econômico deteriorado do Brasil preocupa

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Por Altamiro Silva Junior (Broadcast)
Atualização:

A participação do Brasil no índice de ações MSCI Emerging Markets, um dos principais referenciais internacionais para investidores, caiu para apenas 4,27% em fevereiro, a menor da série histórica desde janeiro de 2000, mostram números da MSCI Inc. a pedido do Estadão/Broadcast. Logo após a crise financeira mundial de 2008, quando o Brasil passou a ser um dos preferidos dos emergentes pelos investidores globais, o país chegou a ter 17% do MSCI EM.

O economista-chefe de mercados emergentes da consultoria inglesa Capital Economics, William Jackson, destaca que, no caso do Brasil, a preocupação com a situação fiscal, a pior entre os principais emergentes, turva o cenário para a economia. Essa visão pode pesar na decisão de investidores em aportar recursos no mercado de ações brasileiro. Um sinal amarelo adicional veio da recente intervenção do governo na troca de comando da Petrobrás, movimento que fornece munição para mais cautela com o País.

Os mercados acionários do Brasil e da América Latina estão ficando menos atraentes para o estrangeiro. Foto: Daniel Teixeira/Estadão

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O estrategista do banco Société Générale, Dev Ashish, avalia que um quadro pouco animador paira sobre o Brasil: mercado de trabalho deteriorado, com elevado desemprego, o que diminui a perspectiva para o consumo doméstico; contas fiscais ruins; segunda onda da pandemia muito pior que a primeira; pressão inflacionária e, por fim, ruídos políticos, com queda da popularidade de Jair Bolsonaro. Este último ponto ajuda a aumentar a preocupação com a questão fiscal do País, na medida em que o presidente pode ser pressionado a elevar ainda mais os gastos públicos, o que acaba piorando a perspectiva de recuperação da atividade, observa a consultoria internacional TS Lombard.

A estimativa de executivos financeiros é que US$ 15 trilhões aplicados em fundos de investimento e fundos de pensão tenham como referência os índices da MSCI. Por isso, a cada mudança, precisam ajustar suas carteiras. A composição mais recente mostra uma clara predominância da Ásia. A China, sozinha, tem 40% do índice. Em janeiro de 2000, quando o Brasil respondia por 10% do MSCI EM, a economia chinesa tinha apenas 0,42%. O MSCI EM tem em sua carteira mais de 1.300 empresas, de 27 países.

Com o forte crescimento da economia chinesa nos últimos anos, mais companhias do país passaram a fazer parte da carteira teórica do MSCI. Com isso, a fatia da China no índice vem crescendo de forma consistente. O mesmo vale para outros países da Ásia, a região que mais rápido se recuperou dos efeitos da pandemia. China, Coreia do Sul e Taiwan respondem por mais de 65% do MSCI de mercados emergentes.

No Brasil, ao contrário, a economia enfraquecida, o risco fiscal em alta e a pandemia não dando mostras de arrefecer, estão aumentando a desconfiança dos investidores internacionais.

Jackson, da Capital Economics, pontua que a Ásia vem ganhando peso nas carteiras mundiais, refletindo o crescimento mais forte de seus países, além da concentração relativamente mais forte de empresas de tecnologia. Na América Latina, ao contrário, predominam grandes companhias ligadas a commodities, além de o crescimento das economias ser mais fraco. O reflexo é que o peso da região no MSCI caiu de 22% em 2013 para 7% este ano.

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Cenário fiscal

Se antes a vulnerabilidade maior do Brasil era na conta externa, agora é no lado fiscal, alertou esta semana o Instituto Internacional de Finanças (IIF), formado pelos 500 maiores bancos do mundo, com sede em Washington. Por isso, o Brasil permanece na lista dos emergentes mais frágeis e vulneráveis à piora do mercado internacional, junto com pares como Turquia e África do Sul.

"A dinâmica de crescimento menor do Brasil com uma dinâmica fiscal ruim são os dois grandes fatores que norteiam a desaceleração dos aportes no País", avalia o economista-chefe e sócio da gestora JF Trust, Eduardo Velho. Assim, mesmo em um ambiente de liquidez alta no mercado internacional, por conta das medidas de estímulo dos países desenvolvidos, e a elevação dos preços das commodities, o Brasil não está figurando na lista de preferência dos grandes investidores. Após a crise de 2008, em que o ambiente externo era parecido ao de hoje, o País recebeu aportes significativos, comenta ele. "A economia brasileira está sendo avaliada agora com risco muito maior do que era naquela época."

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