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Interior entra no radar das empresas

Custo de vida menor e facilidade do home office atraem trabalhadores e companhias

Por Renée Pereira
Atualização:

A mudança de parte da população das grandes cidades rumo ao interior entrou no radar do setor corporativo. A força do mercado consumidor de municípios menores já vinha sendo uma aposta das empresas antes mesmo de a pandemia impulsionar o êxodo urbano nas capitais. Agora, o movimento se fortaleceu, seja para fugir do caos das capitais ou para atender a uma demanda que tende a crescer bastante nos próximos anos.

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Com a popularização do home office, tanto trabalhadores como empresas podem escolher onde ficar fisicamente, sem comprometer as operações. Um levantamento da DataZap mostra que entre fevereiro do ano passado e fevereiro deste ano a demanda por locação de imóveis no interior aumentou 154% e no litoral, 47%. Na capital, esse movimento teve queda de 9%.

Nessa nova realidade criada pela pandemia, a Ness Health, uma empresa de serviços para inovação na medicina diagnóstica, viu uma oportunidade e decidiu mudar a sede hoje localizada na Berrini, em São Paulo, para um parque tecnológico, em São José dos Campos.

“A princípio só a parte de robótica iria para a cidade, mas percebemos que compensaria mais levar a matriz para lá do que deixar em São Paulo”, diz o sócio da empresa José Leovigildo Coelho. Segundo ele, o custo do aluguel e o IPTU são menores e a qualidade de vida, melhor. Com exceção dos funcionários da área de robótica, que vão se mudar, todos os demais funcionários terão a opção de continuar em home office.

XP fecha patrocínio com o COB e o Time Brasil para um ciclo olímpico. Foto: MATHEUS LOMBARDI/XP

Outra que decidiu levar a sede para um local mais calmo foi a XP, que anunciou no ano passado a construção da Villa XP, em São Roque, cidade a uma hora e meia da capital. Atualmente, a XP ocupa alguns andares de um prédio, localizado em frente ao Shopping JK Iguatemi, no Itaim Bibi, em São Paulo.

Expansão 

A mudança física, no entanto, não é a única estratégia das empresas para explorar o mercado do interior. Algumas continuarão com suas estruturas atuais, mas começam a traçar planos de expansão rumo a essas praças. A AAX Digital, empresa que começou como um marketplace de crédito e virou um banco digital, deve inaugurar no segundo semestre do ano (ou início de 2021) um novo prédio com uma agência modelo em Ribeirão Preto.

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A instituição nasceu em São Paulo, mas foi em Campinas que teve o maior boom de crescimento, da ordem de 200% ao ano. Um dos focos da AAX é o empréstimo com garantia (como imóveis) voltado para pequenos empresários. Na pandemia, com os bancos apertando ainda mais o crédito, eles se tornaram uma opção para esse público do interior. “Na medida em que eles apertaram a torneira, nós aproveitamos esse espaço”, diz o presidente da empresa, André Avelino. 

Outra de olho na expansão do interior é a empresa de locação de boxes para armazenagem M3storage. Com 23 operações em São Paulo, a companhia agora está ampliando a atividade para Sorocaba, Campinas e São José dos Campos, além de cidades de outros Estados. Segundo o diretor de negócios Luciano Montenegro de Menezes, o entorno de São Paulo tem um potencial e uma demanda muito grande. “Então antes de pensar em outros locais, temos de explorar essas praças.”

Com a pandemia, diz ele, a demanda aumentou bastante por causa dos e-commerces – a taxa de crescimento da M3storage é de 15% ao mês. “Os boxes viraram uma extensão do estoque dessas empresas. E as grandes empresas dessa área estão indo para o interior.”

O consultor da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas, Eduardo Zylberstajn, diz que no futuro pós-pandemia, se o modelo do home office continuar, as pessoas vão poder ficar em qualquer lugar que tenha um custo menor ou seja mais tranquilo. É nesse movimento que as empresas estão atentas. Mas, por ora, ainda não é possível saber se a mudança das pessoas é estrutural.

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