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Mercado se prepara para ‘inverno das criptomoedas', com temor de recessão nos países ricos

Só na semana passada, esses ativos digitais perderam mais de US$ 300 bilhões em valor de mercado; analistas dizem que, quem puder, deve esperar para vender

Por André Marinho e Lucas Agrela
Atualização:

A postura mais firme dos bancos centrais dos países ricos no combate à inflação, com altas nos juros que deixam a renda fixa mais atraente, tem abalado o mercado de criptomoedas. Somente na última semana, o setor perdeu nada menos do que US$ 300 bilhões em valor de mercado. Com a desvalorização, a quantia total desses ativos virtuais perdeu a marca de US$ 1 trilhão pela primeira vez desde janeiro de 2021 e ronda os US$ 900 bilhões, de acordo com dados do CoinMarketCap.

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O bitcoin despencou do nível de US$ 30 mil por unidade, no qual estava estabilizado há cerca de um mês, para perto de US$ 20 mil. O principal criptoativo do planeta acumula desvalorização superior a 50% em 2022 e opera nos menores níveis desde o fim de 2020, com valor de mercado de US$ 400 bilhões – distante do pico histórico de US$ 1,2 trilhão há um ano.

“Os temores sobre a inflação galopante e o fim abrupto da era do dinheiro barato levaram as criptomoedas a um precipício, à medida que os investidores se afastam de ativos arriscados", diz a analista Susannah Streeter, da corretora britânica Hargreaves Lansdown.

Bitcoin;o setor de criptomoedas perdeu US$ 300 bilhões em valor de mercado em uma semana Foto: Dado Ruvic/Reuters

O catalisador do choque atual foi a divulgação do índice de preços ao consumidor (CPI, na sigla em inglês) americano, que saltou 8,6% na comparação anual de maio e subiu ao maior patamar desde dezembro de 1981. A alta dos preços nos Estados Unidos sepultou as esperanças de que a escalada inflacionária no país pudesse ter atingido o pico e renovou os riscos de estagflação – período de crescimento econômico lento combinado com inflação em alta.

Ainda mais importante para investidores, o quadro provocou um rearranjo nas expectativas para os planos do Federal Reserve (Fed, o banco central americano). Na quarta-feira, 15, a autoridade monetária se viu forçada a abandonar o compromisso em subir juros em meio ponto porcentual e promoveu uma elevação de 0,75 ponto, o maior aumento em uma reunião de política monetária desde 1994. Com isso, o mercado financeiro já estima que a taxa básica de juros dos Estados Unidos atinja um pico acima de 4% ao ano em 2023, mais que o dobro da faixa atual entre 1,50% a 1,75%. 

Um longo inverno

O derretimento das moedas digitais levou muitos especialistas do setor a classificarem o contexto atual como um “inverno das criptomoedas". O analista Edward Moya, da corretora Oanda, avalia que o risco de recessão nos Estados Unidos deve manter as criptomoedas em valores mais baixos, algo que também tem afetado as ações na Bolsa. “Os crescentes temores de recessão estão prejudicando o apetite por ativos de risco e isso faz com que os investidores de criptomoedas permaneçam cautelosos em comprar bitcoin”, diz.

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Em meio ao panorama desafiador, as principais empresas do setor se preparam para uma crise que pode ser duradoura. A Coinbase demitiu 18% de sua força de trabalho e sugeriu que novos cortes podem ser necessários. 

No Brasil, o grupo 2TM, dono do Mercado Bitcoin (uma das maiores corretoras no País), demitiu 90 dos cerca de 750 funcionários no começo do mês. A empresa também apontou que o cenário financeiro global, com alta de juros e da inflação, foi uma das razões para o enxugamento da equipe. "O cenário exigiu ajustes que vão além da redução de despesas operacionais, tornando-se necessário também o desligamento de parte de nossos colaboradores", afirmou a empresa em nota na época. 

Já a plataforma de empréstimos de criptoativos Celsius Network suspendeu os saques de depósitos, com objetivo de “estabilizar a liquidez e as operações enquanto tomamos medidas para preservar e proteger os ativos”. Segundo a empresa, a decisão reflete “as condições extremas do mercado”.

Atualização: Diferentemente do informado previamente, a corretora Binance não demitiu 18% de seus colaboradores, e sim a concorrente Coinbase. A reportagem foi atualizada. A Binance informou que está contratando 2.000 novos colaboradores.

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