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Investidor deve manter calma diante da crise

Neste momento de crise dos mercados financeiros, o investidor que não é profissional deve manter a calma, para evitar perdas mais expressivas. O momento crítico exige planejamento cuidadoso.

Por Agencia Estado
Atualização:

O nervosismo do mercado financeiro nos últimos dias está preocupando os investidores. Para quem não é investidor profissional, as oscilações diárias podem causar ansiedade e gerar ações que nem sempre são necessárias ou rentáveis. Nestes momentos de crise, o mais seguro é fazer um planejamento estratégico, ponderando questões como rentabilidade, risco, liquidez e objetivos para o uso dos investimentos, bem como os riscos de endividamento e desemprego, diz Jorge Simino, diretor da Unibanco Asset Management. Desta forma, é possível reduzir eventuais perdas e evitar ações precipitadas. "Ficar trocando de investimento sem fundamentos apenas aumenta as chances de perdas, além de precisar pagar a CPMF (Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira)", diz Roseli Machado, diretora de renda variável da Fator Administração de Recursos. Para ela, o cenário econômico no Brasil não é de ruptura. "Num cenário de ruptura, com calote, todo mundo perde." Veja abaixo recomendações importantes de analistas de investimento sobre como fazer seu planejamento estratégico de médio prazo. Reconheça a dimensão da crise A crise nos mercados financeiros no Brasil tem duas origens distintas e relacionadas. Do ponto de vista interno, os investidores estão preocupados com o modelo econômico que será adotado pelo futuro presidente da República. Os principais pontos de preocupação neste caso são se o novo governo vai controlar os gastos públicos e a inflação, mantendo o controle sobre as dívidas interna e externa, e se vai conseguir ou não honrar rigorosamente os contratos. Em outras palavras, o investidor quer saber se o governo vai pagar a dívida tal como combinado, em termos de prazos, ou se vai dar um calote ou alongamento compulsório do prazo de resgate da dívida pública. Este tipo de medo surge justamente porque alguns candidatos prometem resultados de curto prazo e não esclarecem suas propostas do ponto de vista prático. Do lado externo, a crise também tem dimensões expressivas. O ponto central foi a quebra da confiança do investidor global nos resultados das empresas norte-americanas, devido às fraudes nos balanços de muitas importantes companhias. Esta quebra de confiança está causando pesados saques nos fundos de ações norte-americanos. Dado o tamanho do mercados financeiro nos Estados Unidos, os efeitos de movimentos fortes nas bolsas acabam contaminando todo o mundo. Estabeleça um prazo para seu investimento Como a crise tem grandes proporções, é preciso entender que as oscilações mais fortes não vão acabar logo. O risco subiu e deve permanecer alto por um bom tempo. No Brasil, o prazo mínimo para uma estratégia de investimentos defensiva, que considere a manutenção ou até a piora da atual crise, é até o final do ano ou começo do próximo, quando o novo presidente terá apresentado suas propostas práticas. No mercado global, especialmente no mercado de ações norte-americano, a crise pode durar até mais. A Unibanco Asset Management, por exemplo, trabalha com um horizonte de no mínimo 18 meses para que os investidores globais reduzam sua aversão ao risco. Isso implica que o Brasil pode continuar tendo problemas em seus mercados mesmo depois das eleições. Defina um objetivo para seus investimentos Antes de escolher o destino do dinheiro, é preciso estabelecer os objetivos do investimento. Isso exige um planejamento de longo prazo. A aplicação deve ser mais conservadora se o poupador vai precisar dos recursos para algum investimento ou gasto nos próximos meses. Se for uma poupança de longo prazo, que vai reforçar a aposentadoria, já é possível aceitar um pouco de risco, como as ações, porque num horizonte sem prazo de venda as ações devem garantir bons retornos. Por último, se a pessoa vai viajar ao exterior, para turismo ou estudo, é fundamental ter a reserva em dólar ou euro (depende do país de destino da viagem). Neste caso, o que vai pesar na escolha do investimento é a segurança, e não o rendimento. Equacione suas dívidas Controlar as dívidas é fundamental em momentos de crise. Quem está planejando comprar um imóvel financiado deve lembrar que o valor da dívida é corrigido por índice de inflação. Dependendo da condução da política econômica, a inflação pode subir com mais força no próximo governo, o que significa aumento da dívida. Como nem sempre os salários acompanham a inflação, o dono do imóvel pode acabar inadimplente. Pior ainda, em quadros de crise econômica, especialmente se houver recessão, há muito desemprego. O profissional deve avaliar se seu setor tem segurança suficiente de emprego e qual o risco que corre de ficar sem renda, antes de entrar numa dívida de longo prazo. A inadimplência neste caso pode significar perder parte relevante da economia de muitos anos. Pondere a rentabilidade, o risco e a liquidez de seus investimentos Os investimentos devem ser avaliados sempre por seus resultados em termos de rentabilidade, risco e liquidez, que é a facilidade de venda do ativo. Nenhum investidor escolhe uma aplicação apenas por um destes fatores. É preciso que o nível de rendimento oferecido seja atraente diante do risco que o investidor aceita correr. Sobre a liquidez, os investidores se sentem mais confortáveis quando a aplicação pode ser transformada em dinheiro com certa facilidade. Aplicações em imóveis e títulos de renda fixa muito longos trazem um incômodo pelo simples fato de ser mais difícil transformá-las em dinheiro de um dia para o outro. Quanto ao item rentabilidade, não há dúvidas de que todos querem ganhar mais. Então, os fatores limitantes são risco e liquidez. Na questão do risco, o investidor não deve escolher ativos que possam perder valor se não aceita estas perdas. Atualmente, mesmo os fundos de renda fixa prefixados e pós-fixados (DI) podem registrar perdas, mas elas são menos expressivas que as perdas potenciais com ações, por exemplo. Na questão da liquidez, é preciso lembrar que alguns ativos podem ser vendidos rapidamente, em condições normais. Outros demoram para ser transacionados. Imóveis e fundos imobiliários, por exemplo, têm uma liquidez baixa em relação a ações de primeira linha. Os fundos de investimento oferecem hoje liquidez diária, assim como a caderneta de poupança, que, mesmo pagando juros apenas uma vez por mês, permite o saque a qualquer dia. Então o investidor deve escolher ativos que estejam dentro de suas necessidades de liquidez. Uma pessoa com poupança de R$ 30 mil não deve comprar tudo em fundo imobiliário, por exemplo, porque pode precisar do dinheiro em um momento que ninguém quer comprar seu ativo. Lembre-se também que esta questão de liquidez muda com o tempo. Dependendo do tamanho da crise, mesmo as ações de boas empresas podem ficar sem compradores. Reserve um tempo para reavaliar sua estratégia Investir dinheiro sempre exige planejamento estratégico, levando em consideração os pontos acima. Em épocas de crise, no entanto, é preciso reavaliar as opções feitas com maior freqüência. Convém acompanhar o noticiário político e de economia, para ficar alerta se algum movimento mais dramático está acontecendo. E convém também comparar o rendimento de sua carteira de investimentos com outras opções do mercado, para mudar em caso de estar perdendo muito ou deixando de ganhar. Neste momento de crise, não dá para fazer uma carteira e esquecer do mercado financeiro por muito tempo. Por outro lado, também não adianta ficar correndo de um ativo para o outro, sem rumo e razão, apenas porque nas últimas semanas um ativo subiu e outro perdeu. Cuidado para que as oscilações diárias não prejudiquem sua capacidade de manter uma estratégia mais segura. Dicas de investimento Veja na seqüência matéria com dicas específicas de investimento, segundo os analistas entrevistados pela Agência Estado.

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