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‘Investidor espera resultados antes de abrir champanhe’

Para executivo, mercados deram o benefício da dúvida a Bolsonaro, mas aguardam reformas estruturais para investir

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Por Anna Carolina Papp
Atualização:
Para Christensen, chefe-estrategista do fundo BlackRock, o ano de 2019 será menos volátil para emergentes Foto: Amanda Perobelli

O chileno Axel Christensen, estrategista-chefe para América Latina e Ibéria da BlackRock – maior gestora de recursos do mundo, com US$ 6 trilhões sob gestão – prevê, para 2019, uma trégua aos países emergentes, que neste ano conviveram com mercados mais voláteis. O executivo afirma, porém, que o investidor estrangeiro ainda está cauteloso em relação ao Brasil. “Os mercados reagiram de forma positiva ao novo presidente, mas não estão 100% convencidos: querem resultados, principalmente as reformas.” A seguir, os principais trechos da entrevista.

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Quais as perspectivas paraa economia global em 2019?  Depois de um longo ciclo, a economia global está passando por uma fase de desaceleração. Mas, deve ser um processo gradual – a economia não vai despencar. Isso porque os Estados Unidos, ainda que mais devagar, têm uma inércia de um alto nível de crescimento. Além disso, na esperança de que as negociações comerciais entre China e EUA sigam adiante, a China vai ter um crescimento estável. Os investidores estão muito preocupados com o que pode acontecer em 2020 ou 2021, ou mesmo temem recessão nos Estados Unidos, já este ano. Na nossa opinião, essa avaliação é um pouco precipitada.

Haverá menos volatilidade? Este ano foi muito marcado pelo aumento de juros nos Estados Unidos e, consequentemente, por um dólar mais forte – o que teve um impacto significativo nos mercados. Isso deve acalmar no ano que vem: teremos um dólar mais estável e mais uma ou, no máximo, duas altas de juros – e depois, pausa. Isso significa que a volatilidade gerada por esses fatores deve enfraquecer, dando aos mercados, especialmente aos emergentes, uma trégua em 2019. 

Como esse novo cenário molda os investimentos? Vamos combinar algumas posições de riscos, e as apostas vão continuar mais em ações do que em renda fixa no portfólio global. Vamos procurar oportunidades naquelas classes de ativos, países ou setores que acreditamos que foram castigados em excesso este ano. 

Quais setores?  O setor de tecnologia apanhou muito este ano, especialmente no último mês. Mesmo assim, acreditamos que os fundamentos da maioria dos nomes continuam fortes. Muitas dessas companhias estão liderando mudanças disruptivas em suas áreas. Por exemplo: no varejo, com os e-commerces desafiando o varejo físico. 

E do ponto de vista regional? Os mercados emergentes, sobretudo na Ásia: China, Coreia Sul e Taiwan. E na América Latina, é claro, com o fim do ciclo eleitoral em países como Brasil, México e Colômbia. Estamos vendo alguma reação, embora ainda haja incerteza sobre os novos governos, especialmente no México e no Brasil – se a nova gestão será bem-sucedida em implementar as reformas. No caso do Brasil, temos perspectivas de uma retomada nos investimentos, que caíram de forma bem significativa nos últimos anos, e até alguns sinais de recuperação no consumo. 

A Bolsa ainda está barata? O Brasil não foi tão mal este ano, sobretudo se você analisar na moeda local, e não em dólar. Essa recuperação, porém, foi concentrada em um número razoavelmente limitado de empresas. Então, outros setores que talvez não foram tão bem terão um novo ambiente em termos de oportunidade. Tendo em vista o cenário de desaceleração global, teremos de buscar crescimento mais previsível, companhias com balanços mais consistentes. Com a alta recente, a Bolsa pode não estar mais tão barata como um todo – mas ainda há setores e empresas baratas e com bom potencial de valorização. 

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Os investidores estrangeiros devem aumentar exposição a ativos brasileiros? Acredito que houve uma reação favorável do mercado a respeito do time econômico que está sendo montando por Jair Bolsonaro, bem como sobre sua intenção de dar continuidade à agenda de reformas, dado o patamar insustentável dos gastos públicos e do déficit fiscal no Brasil. Mas, talvez ainda haja alguma hesitação sobre a habilidade do novo governo de implementar essas reformas e passá-las pelo Congresso Nacional, uma vez que o novo presidente não tem a maioria entre os parlamentares. 

Os investidores vão aguardar a retomada do grau de investimento, ou apenas a sinalização reformista já será capaz de atrair esse capital para o País?  Imagino que retomar o grau de investimento deve ser o foco do próximo governo. Porém, os mercados tendem a antecipar esses movimentos. Assim, teremos investidores antecipando, mas com algum grau de cautela, porque não é 100% certo que o novo governo vai tomar as medidas para acelerar o crescimento e, sobretudo, atacar o grande déficit fiscal. Há algumas discussões sobre dar ao novo governo o benefício da dúvida. Certamente, os mercados reagiram de forma positiva ao novo presidente, mas não estão 100% convencidos: querem resultados, principalmente as reformas. A nomeação da equipe econômica, por exemplo, foi bem recebida pelos investidores. Mas, antes de abrir as garrafas de champanhe, acredito que eles estão esperando para ver a capacidade de implementação das propostas. Isso será definitivamente um desafio para um governo que não tem uma ampla maioria no Congresso Nacional. Terão de negociar, o que sempre é um processo complicado.

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