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Investidor francês se volta para o prazo fixo

Por Agencia Estado
Atualização:

As bolsas não traduzem o estado das economias, mas sim a psicologia dos investidores. Essa reflexão da jornalista e romancista Françoise Giroud constitui a melhor definição para o momento que os mercados financeiros mundiais estão atravessando. Os analistas não têm mais pudor em utilizar a palavra crash para explicar as fortes turbulências dos mercados financeiros desses últimos dias. Nesta terça-feira, a recuperação de Nova York salvou as bolsas européias de uma nova degringolada. "Onda que mata" Todas as bolsas européias voltaram a cair nesta quarta-feira, e o índice Eurostoc 50 registrou uma nova baixa, menos 1,77%, mas chegou a perder mais de 5%. O índice europeu só se recuperou depois de constatada uma retomada em Wall Street, quase no fechamento dos mercados na Europa. Diante disso, alguns analistas, como Nathalie Pelras, do grupo Richelieu Finances, estão convencidos de que a chamada "onda que mata" como está sendo chamada essa instabilidade dos mercados, chegou ao fim, pois já "atingimos o fundo do poço". Ninguém escapou a essa nova queda. A Bolsa de Paris, com queda de 1,51%, atingiu o nível mais baixo desde outubro de 1998. O índice CAC na França chegou a ficar abaixo dos 3.000 pontos, apagando quatro anos de ganhos. No final, recuperou-se e fechou um pouco acima, 3.023 pontos. Desde o início do ano, a Bolsa de Paris já perdeu 33%. Seguros e bancos A nova queda foi explicada pelo temor em relação aos fundamentos do setor de seguros, nos EUA e na Europa, notadamente sobre as relações de solvência das empresas, depois da queda espetacular do grupo Axa (menos 11%). Antes, outras do setor já haviam sofrido baixas importantes como Aegon, Aviva e Zurich Financial. Também os bancos, com resultados muito aquém dos esperados, contribuíram para aumentar as incertezas e o nervosismo. A bolsa de Frankfurt foi a que registrou a queda mais espetacular, 7%, mas também produziu a recuperação mais brilhante e limitou a queda a 0,65%. Os analistas financeiros e operadores estão totalmente desorientados, sem saber o que recomendar. Sangue-frio Nesta quarta, logo na abertura dos mercados, era o próprio presidente do Banco Central, Jean Claude Trichet, que nos tempos das vagas gordas já havia advertido para os excessos cometidos pelos mercados, que recomendava sangue-frio aos investidores, diante da "excessiva volatilidade dos mercados que provoca fortes desequilíbrios nos preços". Ninguém encontrou ainda uma solução para a crise de confiança atual. Os investidores indagam, mas não obtêm respostas concretas. O que fazer neste contexto das economias? Desde 1997, bancos, empresas de seguros, experts, indicavam e insistiam em que se investisse na bolsa, o caminho milagroso para ganhos substanciais. Hoje, esses mesmos conselheiros, sem remorso ou autocrítica, afirmam que é tarde para vender. Aconselham esperar, convencidos de que não haverá solução a curto prazo. Prazo fixo Os investidores voltam-se para obrigações com prazo fixo, cujo rendimento varia de 4% a 5%, sem imposto ou risco, mas devem esperar os prazos de vencimento. O prestígio da velha caderneta de poupança está de volta: rendimento baixo, mas seguro. Na França o chamado "livret A", rendimento anual de 3 a 3,5 % , reúne 46 milhões de carteiras. François Floquet, diretor do patrimônio do grupo CIC, recomenda paciência aos investidores, garantindo que eles vão recuperar a posição anterior desde que não tenham muita pressa. Só os que têm necessidade urgente do dinheiro aplicado correm o risco de pagar um preço excessivamente elevado. Ele, como a maior parte dos analistas, ainda aposta numa retomada das bolsas baseando-se nos fundamentos da economia européia. As boas previsões de crescimento, o nível baixo das taxas de juros e uma relativa fragilidade do dólar, reduzindo o preço dos importações, principalmente de petróleo, permitem um relativo otimismo. Outros, entretanto, acreditam que só a volta dos investidores institucionais ao mercado poderá pôr fim à instabilidade, isto é, os sofisticados "hedge funds", mas este não parece ser ainda o caso.

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