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Investidores dão sinais de calma, mas incertezas ainda rondam mercados

Clima de maior tranqüilidade dominou investidores nos últimos dias, mas incertezas, como os juros dos Estados Unidos, não devem manter calmaria por muito tempo

Por Agencia Estado
Atualização:

Apesar dos mercados brasileiros terem fechado a semana em queda, um clima de maior tranqüilidade começou a dominar os investidores em países emergentes nos últimos dias. Analistas listam até um fator psicológico para explicar essa reação: após tantas semanas de tensão e perdas em maio, a aproximação da Copa do Mundo está tendo um impacto positivo, com os mercados buscando uma trégua para reavaliar suas perdas e esfriar a cabeça diante do novo cenário global de maior aversão ao risco e menor liquidez. Mas poucos arriscam apostar se e quanto tempo essa aparente calmaria vai durar. As incertezas em torno dos juros nos Estados Unidos não deverão ser dissipadas tão cedo. Pelo menos até a próxima reunião do Federal Reserve no dia 29 deste mês os investidores vão continuar muito inseguros. O primeiro teste para o ensaio de recuperação da serenidade aconteceu na sexta-feira, com a divulgação do Payroll, que contabiliza a criação de empregos nos Estados Unidos. E o que se viu não foi muito animador. A abertura de apenas 75 mil novas vagas de trabalho nos Estados Unidos em maio surpreendeu os analistas estrangeiros, cuja aposta média era de cerca de 170 mil novas empregos. Inicialmente o número foi recebido com entusiasmo pelos mercados, pois foi visto como um indício que a escalada dos juros nos Estados Unidos vai ter uma pausa em junho diante da desaceleração econômica. Os preços dos ativos emergentes reagiram positivamente logo após a divulgação do indicador. Mas não havia passado nem uma hora, os investidores fizeram uma releitura mais cautelosa dos dados, concluindo que ele não ajudou muito a esclarecer os próximos movimentos dos juros. Além disso, poderia ser interpretado como um sinal preocupante de desaceleração econômica, com efeitos nocivos em todo o mundo. Debate intenso Diante dessa insegurança nos mercados, poucos arriscam afirmar se pior já passou. O debate é intenso e inconcluso. Henry Stipp, economista do fundo Threadneedle, observa que há aqueles que avaliam que os recursos sacados de ativos emergentes nas últimas semanas já foram suficientes para refletir o novo grau de aversão ao risco. Outros, pensam o contrário. "É difícil saber, tudo vai depender dos próximos indicadores dos Estados Unidos", disse Stipp a Agência Estado. "O fato é que tem muita gente ainda comprada nos emergentes que pode aproveitar a primeira chance para reduzir sua exposição a esses ativos." O analista observa que os fundamentos dos mercados emergentes continuam positivos. "Nada de substancial mudou nas últimas semanas", disse. "Resta saber se os recursos sacados nas últimas semanas vão retornar rapidamente após o fim desse período de incertezas. Enquanto a situação não estiver clara, acho difícil que isso aconteça." Os estrategistas do banco HSBC observam que há uma aparência de maior estabilidade retornando aos mercados globais. "Mas ainda não está claro se a volatilidade foi deixada para trás", afirmam. "Gostaríamos ver mais evidência de que o risco foi substancialmente reduzido". Eles observaram, no entanto, que o recente movimento de venda deixou vários ativos emergentes com preços mais atrativos. "Obviamente, desde que essa onda de volatilidade passe", afirmaram. "Acreditamos que isso acontecerá nas próximas semanas." O Deutsche Bank avalia que apesar do aumento da incerteza com os juros nos Estados Unidos, os fortes fundamentos que sustentaram durante um longo período um ambiente positivo para os mercados emergentes continua positivo. Entre os países emergentes, o banco alemão está otimista com aqueles exportadores de commodities e outros que registram superávits em conta corrente. "Mas os riscos para os importadores e aqueles com grandes necessidades de financiamento externo cresceram", afirmam os analistas Marc Balston e Piero Ghezzi, do banco alemão. Eles observam que a desvalorização de várias moedas emergentes alterou a dinâmica de curto prazo da política monetária de vários países, principalmente na Turquia. "Mas em termos de valor, a correção nos preços não altera nossa visão de os fundamentos de várias moedas continuam atraentes, principalmente na América Latina", afirmaram. Balston e Ghezzi, no entanto, alertam que as incertezas em torno da política monetária do Federal Reserve vão durar semanas, talvez meses. "Será difícil ver os preços dos ativos emergentes retornarem rapidamente aos seus níveis do início de maio no curto prazo", disseram. "Se os mercados se consolidarem com êxito nos próximos dias e os indicadores dos Estados Unidos mostrarem um quadro mais leve para a inflação, aí sim podemos ver os emergentes tendo uma performance forte." Em contrapartida, alertam, se os mercados começarem a precificar os juros nos Estados Unidos em 5,5% ou mais, a aversão ao risco seria renovada, ferindo ainda mais os emergentes.

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