Publicidade

Investimento começa com a reserva de emergência; veja o que é e como ter uma

Antes de pensar no lucro com aplicações, é preciso garantir recursos para enfrentar surpresas; investimentos em Tesouro Selic, CDB e fundos DI podem fortalecer o fundo de emergência

Por Carlos Pegurski e Érika Motoda
Atualização:

Mais da metade dos brasileiros não têm investimentos relacionados a um fundo de emergência, de acordo com a Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima). Não é difícil entender, portanto, por que tantas pessoas estão endividadas.

PUBLICIDADE

São 62,2 milhões de brasileiros com pendências financeiras, de acordo com o Mapa da Inadimplência e Renegociação de Dívidas, elaborado pelo Serasa e atualizado em agosto deste ano. O uso do cartão de crédito é responsável por 29% do endividamento, e as utilities – que representam contas básicas como gás e luz –, por 23,3%.

Mas, com um pouco de conhecimento sobre o assunto e algumas medidas simples, é possível iniciar essa reserva e investir parte da renda em bons ativos, que vão unir o melhor da poupança (liquidez imediata) e dos investimentos do mercado financeiro (rentabilidade).

Fundo de emergência: o que é e quanto poupar

Como o próprio termo diz, esse é um investimento cujo capital deve estar acessível a qualquer momento, para casos de emergências, como despesas médicas ou perda de emprego. Por isso, na hora de aplicar, o investidor precisa se basear em um tripé: segurança, liquidez e alguma rentabilidade.

Na opinião da educadora financeira da Acordo Certo, Bruna Allemann, os produtos em renda fixa que reúnem essas três características são o Tesouro Selic, o CDB de liquidez diária e os fundos DI, além das contas remuneradas de bancos digitais que rendem 100% do CDI.

O Tesouro IPCA tem apresentado bom rendimento, mas esses títulos costumam ter um prazo de vencimento mais longo, ou seja, não têm o critério de liquidez necessário para ser considerado um bom investimento para imprevistos financeiros. Esses títulos são melhores para se pensar em uma aposentadoria, ou seja, para ser resgatado bem mais para a frente.

Publicidade

Qual o valor ideal a ser reservado no fundo de emergência?

Não há um consenso sobre um valor específico, já que cada família tem sua realidade e necessidades particulares. Mas especialistas costumam recomendar de três a seis vezes do seu custo de vida mensal com alimentação, educação, moradia e transporte – somente os itens essenciais. Os mais conservadores falam em até 12 meses, caso você consiga se organizar para isso.

Assim, o primeiro passo é somar suas despesas fixas para conhecer o montante gasto. Então, se os custos girarem em torno de R$ 7 mil ao mês, por exemplo, é importante ter de R$ 21 mil a R$ 42 mil em ativos de fácil resgate.

Conheça 5 opções de investimento para criar uma reserva de emergência:

PUBLICIDADE

Embora o investimento mais popular entre as pessoas não habituadas com o mercado financeiro ainda seja a caderneta de poupança, ela está distante de ser o ideal. Seu rendimento mensal é baixo, de 70% da Selic (caso a taxa básica de juros esteja no máximo a 8,5% ao ano) mais a taxa referencial (TR), que está zerada, ou de 0,5% ao mês mais TR, quando a Selic for superior a 8,5%.

Isso não significa que a caderneta de poupança não deva ser utilizada, mas sim que ela não deve ser a única forma de investimento. Seu lado positivo é a liquidez diária e isenção de Imposto de Renda.

1. Contas digitais com remuneração pelo CDI

Publicidade

Uma boa opção para iniciar seu fundo de emergência são as contas em bancos digitais. Queridinhos do público jovem, as fintechs costumam não cobrar taxas e contam com investimentos que seguem o CDI (Certificado de Depósito Interbancário, a taxa de juros cobrada nos empréstimos entre bancos). Em geral, pagam de 100% a 150% do valor do índice. Há incidência do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) e Imposto de Renda.

É possível deixar o dinheiro parado nas contas digitais, enquanto ele rende um valor baseado na CDI, cujo resgate pode ser feito a qualquer momento. No Nubank, por exemplo, na função Guardar Dinheiro, existe a opção de deixar qualquer valor parado no “cofrinho”, rendendo 100% do CDI, no caso de aplicações com liquidez imediata. Outras contas digitais também têm funções semelhantes, mas o rendimento varia de acordo com cada instituição.

2. CDB

A ideia do CDB (Certificado de Depósito Bancário) é que você empreste dinheiro ao banco por meio desse produto financeiro, que também é útil para criar seu fundo de emergência. Mas, cuidado: é necessário escolher um CDB com liquidez diária – há alguns com prazo fechado, ou seja, você só poderá resgatar no prazo de vencimento. 

Há três modalidades para esse investimento:

  • Prefixado: nessa modalidade, os rendimentos são fixos. Ao contratá-lo, você já saberá o valor a resgatar no futuro.
  • Pós-fixado: esse investimento acompanha os rendimentos do CDI. Então, quanto mais altos os juros, maior a rentabilidade.
  • Híbrido: é a junção dos dois anteriores. Parte dos rendimentos é negociada no ato da aplicação do capital e outra depende dos índices da economia, como o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), que mede a inflação.

Nos três casos acima, há cobrança de Imposto de Renda sobre o lucro e, caso resgate o valor antes de completar 30 dias de investimento, também haverá a incidência de IOF. Mas o CDB tem uma vantagem: é protegido pelo Fundo Garantidor de Crédito (FGC), uma associação criada pelas instituições financeiras para proteger os investidores. Assim, se a instituição financeira na qual você está investindo falir, você terá a garantia de ser ressarcido em até R$ 250 mil por aplicações que tenha efetuado.

Publicidade

3. Fundos DI

Conhecidos como investimentos mais conservadores, os Fundos de Renda Fixa Referenciados DI também têm liquidez diária. Compostos de títulos privados e públicos, seu rendimento é ajustado à Taxa Selic ou ao CDI. Portanto, ele é pós-fixado. No entanto, essa opção não tem a proteção do Fundo Garantidor de Crédito (FGC).

Bruna alerta para procurar corretoras que não cobram taxa de administração para investir nesses fundos. “A rentabilidade já é baixa. Mas imagina perder a rentabilidade por causa da taxa de administração? Você estará tendo custo em cima do que está investindo.”

Especialistas recomendam uma reserva de emergência equivalente a três ou seis vezes do seu custo de vida mensal Foto: Marcos Santos/ USP Imagens

4. LCI e LCA

As Letras de Crédito Imobiliário (LCI) e as Letras de Crédito do Agronegócio (LCA) são títulos privados, emitidos por instituições financeiras. Suas taxas e prazos são conhecidos já no momento da aquisição. Além da proteção do FGC, o investimento é isento de Imposto de Renda. Elas podem ser pré ou pós-fixadas.

5. Títulos do Tesouro Direto

O governo federal tem basicamente duas formas de conseguir receita para seus cofres: impostos e títulos públicos. Neste último caso, o governo vende papéis que funcionam como empréstimos ao Estado. Assim, você financia o poder público e tem direito a receber o valor com juros na data do vencimento do título.

Publicidade

Existem algumas modalidades de títulos vendidos pelo governo:

  1. Prefixado: a taxa de juros é predeterminada e já é possível saber quanto o investimento renderá se for mantido até o prazo final. Caso seja vendido antes, está sujeito às oscilações do mercado.
  2. Pós-fixado (pela Selic, IPCA ou outro índice): nesse caso, o rendimento pode acompanhar a Selic ou o IPCA. No caso do último índice, os títulos também têm uma parte de seu rendimento prefixada, uma opção para quem quer se proteger da inflação.

Como a liquidez desses papéis é grande, as operações de compra e venda, sempre feitas via corretoras, são ágeis. Em caso de emergência, o Tesouro comprará seus títulos e transferirá o valor em um dia. Mas é importante ficar atento ao fato de que, ao resgatar o ativo antes do vencimento, pode-se ter prejuízo.

Além disso, há a incidência de Imposto de Renda sobre os lucros desse tipo de operação, que é cobrado no momento do resgate.

Imposto de Renda

A alíquota do IR, que incide sobre os ganhos de algumas aplicações em renda fixa (e não sobre o valor total aplicado), varia de 15% a 22,5% de acordo com o prazo de investimento. 

Quem retira o dinheiro aplicado antes de 180 dias, paga um imposto de 22,5%. De 181 a 360 dias, a alíquota cai para 20%. De 361 a 720, fica em 17,5%. E, acima de 720 dias, 15%.

Publicidade

Por conta disso, diz Bruna, o ideal é manter qualquer tipo de investimento em um produto durante pelo menos três anos. “Se você estiver montando sua reserva de emergência, divida o valor na sua conta digital (com liquidez diária) e outra parte do dinheiro em algum outro produto financeiro.”