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Investimento produtivo e competitividade

Por Mario Bernardini
Atualização:

As deficiências sistêmicas do País, medidas apenas parcialmente pelo "custo Brasil", fazem com que produzir aqui seja mais caro do que na grande maioria dos países que são nossos concorrentes. Por outro lado, nossa moeda, ainda valorizada por uma taxa de câmbio fora do ponto de equilíbrio, favorece a importação e desestimula as exportações, tornando cada vez mais difícil a competição da indústria brasileira, tanto no mercado externo quanto no interno. Essa falta de competitividade que o País impõe à produção nacional desestimula os investimentos produtivos e é a principal causa da baixa relação entre o investimento e o Produto Interno Bruto (PIB). Isso faz com que nosso estoque de máquinas e equipamentos seja inferior ao necessário para garantir crescimento sustentado e esteja com uma idade média que é praticamente o dobro da dos países desenvolvidos - duas condições necessárias para sermos competitivos. O resultado é uma conjunção de baixo crescimento econômico, como de fato o Brasil vem apresentando nos últimos anos, com perda progressiva de competitividade da indústria brasileira. Pelas razões expostas, a indústria não tem reagido a estímulos pontuais, o que acaba se refletindo em desindustrialização precoce, confirmada pela perda de peso da manufatura no PIB, pelos resultados da balança comercial e pelo crescente déficit em conta corrente. No próximo ano o novo governo, seja ele qual for, terá de tomar medidas para retomar o crescimento. Este, entretanto, só ocorrerá se, além de criar um ambiente macroeconômico favorável ao investimento, o novo governo finalmente atacar o "custo Brasil", para reduzi-lo de forma contínua e sistemática, e ajustar progressivamente a taxa de câmbio para um nível que permita à indústria competir. Caso sejam criadas as condições mínimas necessárias para a indústria voltar a crescer, é fundamental que a nova administração entenda que é o estoque de recursos produtivos - ou seja, o total de bens de capital e infraestrutura disponível para cada trabalhador brasileiro - o principal instrumento para aumentar, no curto prazo, a produtividade do trabalhador brasileiro, que é a responsável, no médio e no longo prazos, pela competitividade da indústria e pelo crescimento do País. A produtividade do trabalho depende, basicamente, de três fatores: do estoque de capital produtivo por trabalhador; do capital humano, representado pelo nível de educação de sua mão de obra; e da produtividade total de fatores, que, de forma simplificada, é explicada pelas condições do ambiente produtivo, ou seja, pela qualidade de nossas instituições. Sem diminuir a importância da escolaridade ou da necessidade de termos maior qualidade em nosso conjunto de leis e mais eficiência em nossas instituições como fatores que influenciam a produtividade do trabalho, o fato é que o item de maior peso, que responde por cerca de 60% do total, é o estoque líquido de capital físico, ou seja, a quantidade e a qualidade dos recursos produtivos e de infraestrutura disponíveis por trabalhador. Essa é a principal razão para criar um programa que incentive a substituição de máquinas antigas por novas e, assim, induzir a um forte aumento do estoque de capital, ao trocar equipamentos sem valor residual por bens com valores atualizados, bem como um sensível crescimento da produtividade e da inovação em função da introdução de novas tecnologias associadas a bens de capital modernos. Os principais benefícios desse tipo de programa serão, obviamente, um maior crescimento sustentado do PIB, com geração de renda e de empregos de qualidade, por meio do aumento da competitividade da indústria brasileira como um todo, permitindo ao produto nacional competir no mercado externo e no interno. E, para a indústria brasileira, participar em pé de igualdade das cadeias globais de valor.*Mario Bernardini é diretor de competitividade da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (ABIMAQ)

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