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Investimento social busca inspiração no mercado financeiro

Impetus Trust, principal ONG britânica de venture philantropy, trata doação como investimento de longo prazo

Por Mariana Barbosa
Atualização:

Uma brasileira está mudando a forma como são feitos os investimentos em causas sociais na Inglaterra. Daniela Barone Soares, 36 anos, é presidente da Impetus Trust, principal ONG britânica de venture philantropy, nova modalidade de investimento social que busca inspiração nas melhores práticas do mercado financeiro. Economista com MBA pela Universidade Harvard, Daniela estava iniciando uma carreira de sucesso no mercado financeiro - com passagens pelo BankBoston, Citibank e Goldman Sachs - quando resolveu deixar seu emprego na City de Londres e se dedicar ao terceiro setor. Trabalhou bastante como voluntária em Londres até ser contratada pela Save the Children UK, onde era responsável por desenvolvimento estratégico e arrecadação de recursos. Mas foi como presidente executiva da Impetus Trust, cargo que assumiu em junho do ano passado, que conseguiu fundir as duas carreiras, aplicando seus conhecimentos de mercado financeiro ao terceiro setor. A Impetus foi criada em 2003 por um dos mais conceituados executivos de venture capital da Inglaterra, Stephen Dawson, da ECI Ventures. Assim como os fundos de venture capital, que investem em empresas jovens com potencial de gerar grandes resultados, os fundos filantrópicos como o Impetus estão em busca de entidades capazes de gerar impacto social. Para os fundos filantrópicos, a doação é tratada como investimento de longo prazo. E a exemplo de seus similares capitalistas, isso significa avaliar balanços e investigar mercado para descobrir onde estão as oportunidades para gerar maior impacto social. Foi o que foi feito com a St Giles Trust, ONG britânica que trabalha com ex-prisioneiros. Até conhecer a Impetus, a St Giles era uma entre 300 entidades voltadas para a causa da falta de moradia. "A concorrência nessa área de sem teto é enorme. E todas disputam uma verba pública que vem diminuindo a cada ano", conta Daniela. Mas a St Giles tinha um trabalho único que a diferenciava das demais, com ex-prisioneiros, que consumia apenas 20% de seus esforços. "Com a ajuda da Impetus, a St Giles mudou sua estratégia e passou a focar nesse diferencial", explica. De 2004 para cá, a entidade registrou um crescimento anual de 109% no número de ex-prisioneiros atendidos, de 200 para 1.700. A taxa de reincidência de crimes entre os ex-prisioneiros, que é de 55% em toda a Inglaterra, caiu 20% nas 20 prisões em que a St Giles atua. Além disso, as receitas da entidade vêm registrando aumento de 37% ao ano, de £1,34 milhão em 2003/4 para £3,2 milhões em 2006/7. Para arrecadar esses recursos, porém, Daniela fez com que os dirigentes da St Giles aprendessem a se apresentar a potenciais investidores/doadores. "Eles fizeram um road show para investidores, do mesmo jeito que uma empresa que sai em busca de sócios", explica. Em média, cada libra (R$ 3,5) doada para a Impetus alavanca outras 5,5 libras (R$ 20). Desse valor, 3 libras (R$ 11) referem-se ao trabalho prestado por voluntários e 2,5 libras (R$ 9) são doações de terceiros que investem na entidade por conta da associação com a Impetus. "Minha obsessão é impacto. Como somos um intermediário entre doador e receptor, se não estivermos obcecados em adicionar valor, não temos porquê existir", afirma Daniela, que nas horas vagas dedica-se a escrever poesia e à meditação. É voluntária em centro de meditação e desenvolvimento pessoal Inner Space, onde dá aulas de meditação e palestras sobre como equilibrar trabalho e vida pessoal. O chamado "mercado de capital social" com os fundos filantrópicos começou nos EUA há uns anos e está começando agora na Europa. No Brasil, ainda é uma miragem. "No mundo todo há uma carência de investimentos institucionais para o desenvolvimento das próprias entidades", diz Daniela. "Da mesma forma que as empresas precisam de processos, metas e disciplina, as ONGs também precisam. Consultores, gestores e economistas com MBA custam caro e salários que as ONGs pagam está mais para subsídio." Os recursos do Impetus saem de instituições financeiras, principalmente da área de private equity e venture capital. No mês passado, Daniela e sua equipe - formada só por mulheres - comemoraram um investimento milionário do fundo ISIS Equity Partners pelos próximos cinco anos. FRANQUIA Com o forte ritmo de crescimento das nove entidades hoje apoiadas pela Impetus - o portfólio vem aumentando, mas de forma bastante criteriosa. Daniela hoje se debruça no desenvolvimento de um modelo de negócios que permita que as entidades cresçam sem gerar ineficiências. "Estamos tentando desenvolver um modelo para ganhar escala e continuar eficiente. É como uma franquia. Você centraliza o desenvolvimento do projeto, a formação de pessoal e monta uma rede de ?vendedores? para executar o serviço", diz Daniela.

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