
08 de agosto de 2019 | 13h45
Atualizado 09 de agosto de 2019 | 12h58
O volume investido por pessoas físicas cresceu 5% no primeiro semestre e bateu, pela primeira vez, a marca de R$ 3 trilhões, segundo dados da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima). Em dezembro do ano passado, esse montante era de R$ 2,91 bilhões.
A alta foi puxada por investidores de alta renda e pelo segmento de private banking (com investimentos a partir de R$ 3 milhões). Essas duas categorias, somadas, tiveram crescimento de cerca de 19% do montante investido no semestre.
O aumento do patrimônio nessas faixas de renda, assim como a realocação de recursos para tomar risco, é avaliada como uma das consequências dos juros baixos. “Com as taxas de juros mais baixas, a rentabilidade de produtos mais arrojados tiveram um incremento considerável em relação aos investimentos de renda fixa”, diz Claudio Sanches, diretor de Produtos de Investimento e Previdência do Itaú Unibanco
Para Gilberto Abreu, diretor de investimentos do Santander Brasil, no geral, o aumento não impressiona. “Estamos crescendo perto da inflação, não há tanto dinheiro novo entrando. O que acontece é uma realocação de recursos”, diz. De fato, os números da Anbima mostram que os clientes de patrimônio maior buscaram mais diversificação de ativos, migrando para a renda variável. Desde junho de 2015, o setor de private banking diminuiu de 20,9% para 11,5% os investimentos em LCI e LCA, produtos de renda fixa. Em contrapartida, os montantes em fundos multimercados cresceram de 24,1% para 31,1% no mesmo período, tendo uma leve variação para baixo no último semestre. Cresceu ainda de 3,4% para 6,4% a parcela investida diretamente em ações.
A opção de tomar mais risco foi a escolhida por Rodrigo Quaresma, engenheiro , após o vencimento de um Título do Tesouro Direto no qual havia alocado parte de sua reserva. “Fui instruído sobre a queda dos juros e como isso afetaria a minha rentabilidade na renda fixa”, diz. A escolha de Rodrigo foi diversificar seu dinheiro entre fundos de ações e multimercados.
Se por um lado as pessoas de patrimônio maior lideraram a alta, o varejo tradicional diminuiu em 4,8% os recursos investidos. Do que restou, a maior parte segue aplicada na caderneta de poupança. O professor de economia do Mackenzie Agostinho Celso Pascalicchio avalia que essa queda mostra que pessoas de renda menor estão mais sujeitas à desaceleração da atividade econômica, tendo menos resistência para manter os investimentos. Além disso, ele vê a falta de educação financeira como uma das razões para que as pessoas sigam escolhendo a poupança. “Mais do que uma busca por segurança, vejo a falta de informação como outro fator importante. Há ações, por exemplo, que não têm risco alto”, argumenta.
Paulo César Valadão, que trabalha em uma empresa de tecnologia e automação, voltou para a poupança. “Eu separei um valor do qual achei que não iria precisar e comprei ações. Rendeu bem, mas pouco tempo depois percebi que seria necessário usá-lo, logo preferi não deixar em um investimento de tanto risco”, conta. Ele também já abandonou CDB e LCI: “Prefiro deixar na poupança para tirar quando precisar.”
Para Fabio Macedo, diretor comercial da Easynvest, o movimento observado na corretora foi o contrário. “O que vimos foi mais gente investir com aportes menores. E mesmo os pequenos investidores têm apresentado maior apetite por risco”.
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