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IPCA de março fica em 0,93%, e acumulado em 12 meses vai a 6,10%, acima da meta do BC

Inflação informada é a maior para o mês desde 2015, quando houve crescimento de 1,32%; famílias brasileiras gastaram 3,81% a mais com transportes

Por Daniela Amorim (Broadcast) e Maria Regina Silva
Atualização:

RIO E SÃO PAULO - Pressionada pelos aumentos nos preços dos combustíveis, a inflação oficial no País ficou em 0,93% em março, o resultado mais elevado para o mês desde 2015, segundo os dados do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), divulgados nesta sexta-feira, 9, pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

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Embora tenha vindo abaixo das expectativas de analistas do mercado financeiro ouvidos pelo Projeções Broadcast, a taxa acumulada em 12 meses acelerou de 5,20% em fevereiro para 6,10% em março, rompendo o teto de tolerância (5,25%) da meta de 3,75% perseguida pelo Banco Central este ano.

“A última vez que o acumulado em 12 meses ultrapassou o teto da meta foi em novembro de 2016. O teto da meta em 2016 era de 6,5%, e, em novembro de 2016, o acumulado em 12 meses era de 6,99%”, pontuou André Almeida, analista da Coordenação de Índices de Preços do IBGE.

No primeiro trimestre, o IPCA registra alta de 2,05% e, no acumulado dos últimos 12 meses, de 6,10%, acima dos 5,20% observados nos 12 meses até fevereiro Foto: Gabriela Biló/Estadão

  

As famílias brasileiras gastaram 3,81% a mais com transportes em março, um impacto de 0,77 ponto porcentual sobre a inflação. Os preços dos combustíveis aumentaram 11,23%. A gasolina subiu 11,26%, sendo responsável sozinha por quase dois terços da taxa de inflação. Também ficaram mais caros o etanol (12,59%) e o óleo diesel (9,05%), contribuindo conjuntamente com mais 0,11 ponto porcentual para o IPCA.

Em 10 meses de aumentos consecutivos, a gasolina já ficou 42,39% mais cara, observou Pedro Kislanov, gerente do Sistema Nacional de Índices de Preços do IBGE.

O encarecimento do gás de botijão, que subiu 4,98%, também pesou no bolso em março, acumulando um aumento de 20,01% nos últimos 12 meses. Apesar de mantida a bandeira tarifária amarela, a energia elétrica ficou 0,76% mais cara em março, em decorrência de reajustes nas tarifas de concessionárias de energia no Rio de Janeiro.

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Por outro lado, os alimentos subiram menos. O fim do pagamento do auxílio emergencial pelo governo às famílias mais vulneráveis e o recrudescimento da pandemia podem estar por trás de uma redução na demanda por itens alimentícios, com reflexo sobre os preços, acredita Pedro Kislanov. Os gastos com alimentação e bebidas aumentaram 0,13% em março.

“Pode ser que tenha a ver com auxílio emergencial sim, a gente não teve auxílio no primeiro trimestre. E, por conta de questões de lockdown, pode ter a ver com demanda reprimida. As pessoas compram menos alimentos perecíveis nesse período”, justificou Kislanov.

Segundo ele, o endurecimento de medidas restritivas para conter a disseminação da covid-19 reduz a demanda de restaurantes e de famílias por alimentos perecíveis, o que pode fazer os preços diminuírem. No entanto, as condições climáticas favoráveis e a sazonalidade das lavouras também contribuíram para uma oferta maior de alimentos.

O custo da alimentação no domicílio caiu 0,17% em março, com recuos nos preços do tomate (-14,12%), batata-inglesa (-8,81%), arroz (-2,13%) e leite longa vida (-2,27%). As carnes ficaram 0,85% mais caras.

“O dólar alto estimula as exportações (de carnes), e além disso teve aumento do custo de produção do animal, com aumento de preço da ração”, contou Kislanov.

Já a alimentação fora do domicílio subiu 0,89% em março, puxada pelas altas do lanche (1,88%) e da cerveja (1,70%).

Para o economista do Goldman Sachs para América Latina, Alberto Ramos, os resultados do IPCA ainda devem dar ao Banco Central algum conforto relativo, apesar das intensas pressões dos preços de alimentos, combustíveis e industriais nos últimos meses. Ele frisa que a inflação geral não está fora de controle, mas que a dinâmica recente, que inclui o forte aumento nos preços dos combustíveis, exige um monitoramento.

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"Em nossa avaliação, neste estágio, o principal risco de alta para a inflação é financeiro e de custos, e não de demanda", afirma Ramos, alertando para os riscos políticos e fiscais com potencial para afetar o câmbio e perspectivas de inflação.

Pedro Kislanov, do IBGE, concorda que ainda não há sinais de pressão de demanda sobre a inflação.

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“Porque a gente nota que os serviços ainda têm uma variação pequena, inclusive em alguns casos com deflação. E essa aceleração do IPCA nos últimos meses tem muito a ver com monitorados, não tem tanto a ver com demanda. Gás de botijão, gasolina, os combustíveis são reajustados nas refinarias, e eventualmente chegam ao consumidor final. Não dá para dizer que tenha demanda, ainda mais nesse momento de medidas restritivas”, lembrou Kislanov.

O economista Raphael Rodrigues, do banco BV, pondera que a taxa de inflação brasileira ainda está pressionada, com preços industriais em níveis elevados. Apesar da expectativa de que o IPCA arrefeça para cerca de 0,40% em abril, a taxa acumulada em 12 meses pode alcançar 7,17% em junho, voltando a desacelerar apenas a partir de julho, prevê.

"O IPCA de março gera algum alívio no curto prazo, mas nada tão grande, justamente por essas pressões que continuam afetando. Não conseguimos ser tão otimistas", disse Rodrigues, que projeta que o IPCA encerre 2021 em 4,20%, embora a estimativa tenha viés de alta, por conta das pressões em preços administrados, energia elétrica e industriais.  

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