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IPCA tem maior alta para junho em quase 20 anos e avança 8,89% em 12 meses, aponta IBGE

Inflação acelerou para 0,79% no mês passado, o maior índice desde 1996; altas acumuladas no semestre (6,17%) e em 12 meses (8,89%) são as maiores para os períodos desde 2003

Por Idiana Tomazelli
Atualização:

Atualizado às 11h40

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RIO - A inflação medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) ficou em 0,79% em junho, ante 0,74% em maio, divulgou nesta quarta-feira o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Trata-se da maior alta para o mês desde 1996, quando o índice subiu 1,19%.

Com o resultado, a inflação oficial acumula alta de 6,17% no primeiro semestre deste ano, o maior índice neste confronto desde 2003 (6,64%). Já em 12 meses até junho, a variação de 8,89% é a mais elevada desde dezembro de 2003 (9,30%).

O resultado do mês passado veio dentro do intervalo das estimativas dos analistas ouvidos pelo AE Projeções, que esperavam uma taxa entre 0,70% e 0,93%, com mediana de 0,82%. Para julho, a perspectiva é de mais pressão no IPCA, principalmente de reajustes em tarifas administradas, desde taxas de água e esgoto até energia elétrica, passando por gás encanado, táxi, ônibus e telefone celular. 

Com isso, o índice acumulado em 12 meses deve avançar um pouco mais neste mês, admitiu Eulina Nunes dos Santos, coordenadora de Índices de Preços do IBGE. "Isso é fato, porque o índice de julho de 2014 foi zero (0,01%)", afirmou a coordenadora. "Vamos pegar o acumulado de 8,89%, tirar nada e vamos colocar uma taxa mais alta", explicou.

O preço do azar. Segundo o IBGE, os jogos de azar lideraram a lista de impactos sobre o IPCA de junho. O item avançou 30,80%, em função do reajuste nos valores das apostas, vigentes a partir de 18 de maio. Com isso, os jogos de azar adicionaram sozinhos 0,12 ponto porcentual à inflação do mês passado.

Ao todo, jogos de azar, passagens aéreas e taxa de água e esgoto exerceram os três principais impactos no mês e responderam, sozinhos, por cerca de um terço do IPCA de junho. A contribuição total dos três itens foi de 0,29 ponto porcentual.

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Apenas no acumulado de maio e junho, os jogos de azar subiram 47,50%. O resultado do mês passado ainda contribuiu para que o grupo Despesas Pessoais acelerasse de 0,74% em maio para alta de 1,63% em junho. Também influenciou a elevação de 0,66% no item empregado doméstico, "tendo em vista a importância desta despesa no orçamento das famílias", destacou o IBGE.

O segundo maior impacto veio das passagens aéreas, que ficaram 29,19% mais caras no mês passado, com impacto de 0,10 ponto porcentual no IPCA. Ainda assim, o item acumula queda de 32,71% no semestre. Devido às passagens, o grupo Transportes, acelerou a 0,70% no IPCA de junho.

Já o terceiro maior impacto no IPCA de junho veio da taxa de água e esgoto, que subiu 4,95% e respondeu por 0,07 ponto porcentual da taxa do mês passado. O resultado reflete reajustes em São Paulo (12,07%), Salvador (7,26%), Belo Horizonte (6,46%), Curitiba (4,93%), Rio de Janeiro (3,50%) e Recife (1,03%). Com isso, o grupo Habitação subiu 0,86% em junho - um resultado ainda menor do que em maio (1,22%). 

Morar está mais caro. A alta da energia elétrica e da taxa de água e esgoto tem contribuído para que outro item pese no bolso das famílias brasileiras: o condomínio. Em junho, o valor cobrado avançou 0,92%, após um aumento de 0,89% em maio.

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Mas outro fator também está pesando para o aumento do condomínio: a maior inadimplência dos moradores. Com os preços tão salgados, as famílias enfrentam dificuldades para pagar todas as contas, e o compromisso com o condomínio tem sido adiado. "A inadimplência tem sido maior, e os moradores que estão em dia acabam tendo de ratear esse valor", explicou Eulina Nunes dos Santos, coordenadora de Índices de Preços do IBGE.

Os brasileiros sentem o impacto duas vezes. Primeiro, no próprio aumento da energia e da taxa de água e esgoto. Em segundo lugar, no condomínio.

Alimentos desaceleram. O grupo Alimentação e Bebidas, por sua vez, desacelerou de 1,37% em maio para 0,63% em junho. Apesar da desaceleração, o aumento nos preços de alimentos "ainda é firme", afirmou Eulina. "Uma alta de 0,63% em alimentos não é um resultado irrisório. Desacelerou, mas não significa que os preços se reduziram", disse.

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Itens como tomate, cenoura e hortaliças ficaram mais baratos na passagens do mês, enquanto produtos como cebola e pão francês subiram num ritmo mais devagar do que em maio. Segundo o IBGE, o tomate ficou 12,27% mais barato no mês passado. Apesar disso, no ano, a alta ainda é salgada, de 58,28%. A cenoura, por sua vez, registrou queda de 10,78%, enquanto as hortaliças cederam 4,17%.

Ainda no positivo, mas num ritmo menor, a cebola subiu 23,78% em junho, enquanto o pão francês ficou 1,17% mais caro, e as carnes subiram 0,64%. Por outro lado, a alta de alguns itens nos supermercados ganhou força, como foi o caso da batata-inglesa (6,97%), do leite longa vida (2,35%) e das carnes industrializadas (1,93%).

"Os frigoríficos têm assinalado acentuada queda da demanda, principalmente na carne de primeira. As carnes de segunda têm mostrado variações bem mais fortes", contou a coordenadora. "Isso tem a ver com a questão de renda, muito desemprego. As pessoas deixam de ter sua renda e têm que optar por produtos mais baratos", acrescentou Eulina.

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