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Prévia da inflação atinge 1,73% em abril, maior taxa para o mês desde 1995

Alta foi puxada pelos alimentos, que subiram 2,25%, e pelos combustíveis, que subiram 7,54%.

Foto do author Cicero Cotrim
Por Daniela Amorim (Broadcast) e Cicero Cotrim (Broadcast)
Atualização:

RIO E SÃO PAULO - Turbinada pelo megarreajuste de combustíveis e o encarecimento dos alimentos, a prévia da inflação oficial no Brasil acelerou a 1,73% em abril, maior taxa para o mês desde 1995. Se considerada toda a série histórica, a inflação foi a mais aguda em quase duas décadas. Os dados são do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo - 15 (IPCA-15), divulgados nesta quarta-feira, 27, pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Embora o resultado do IPCA-15 de abril tenha sido um pouco mais ameno que a estimativa de 1,82% de analistas do mercado financeiro ouvidos pelo Projeções Broadcast, a taxa acumulada em 12 meses disparou de 10,79% em março para 12,03% em abril, afastando-se ainda mais da meta de 3,50% perseguida pelo Banco Central (BC) em 2022.

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A expectativa é que a inflação seja mais moderada no fechamento do mês abril, sobretudo pelo fim da cobrança extra da bandeira tarifária de escassez hídrica nas contas de luz. No entanto, o banco JPMorgan aumentou sua projeção para o IPCA de 2022, de 7,6% para 8,0%, enquanto o banco Credit Suisse elevou sua estimativa de 7,8% para 8,3%.

“Apesar do número elevado, há agora a perspectiva mais clara que podemos estar de fato chegando no pico da inflação, uma vez que para maio não devemos ter altas de combustíveis (uma vez que já está sendo plenamente absorvida agora) e assim podemos ter uma alta menor. Não quero com isso apontar que a inflação irá melhorar, mas em termos relativos pode ser ‘menos pior’ em 12 meses”, avaliou o economista-chefe da corretora de valores Necton Investimentos, André Perfeito, em nota.

André Perfeito mantém sua projeção de mais duas elevações na taxa básica de juros, a Selic, para 13,25% ao ano, diante de uma previsão de 8,06% para o IPCA fechado de 2022.

Clientes fazem compra em supermercado; o IBGE divulgou o IPCA-15referentea abril Foto: Wilton Junior/Estadão - 21/10/2021

O economista Alexandre Lohmann, da Constância Investimentos, também manteve suas estimativas de 8,0% para o IPCA de 2022 e de 13,25% para a taxa Selic, mas vê riscos para a inflação de 2023, atualmente prevista por ele em 4,50%, sobretudo diante da chance de dois anos contínuos de impactos negativos do clima decorrentes do fenômeno La Niña, em 2022 e 2023. "No momento atual, não dá para dizer que vamos cumprir o teto da meta em 2023”, alertou Lohmann.

A meta de inflação perseguida pelo Banco Central em 2023 é de 3,25%, com intervalo de tolerância de 1,75% a 4,75%. Para este ano, a meta de 3,50% tem intervalo de 2,00% a 5,00%. No ano passado, a inflação foi de 10,06%, quase o dobro do teto de tolerância de 5,25% perseguido pela autoridade monetária brasileira, que tinha como meta um IPCA de 3,75%.

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A proporção de itens com altas de preços alcançou 79% no IPCA-15 de abril, o que mostra uma pressão persistente e disseminada, avaliou a economista-chefe da Veedha Investimentos, Camila Abdelmalack.

"O que preocupa é essa difusão chegando a quase 80% porque, olhando o cenário prospectivo, os lockdowns na China podem eventualmente vir a manter uma pressão em bens industrializados, se houver uma nova paralisação nas cadeias de suprimentos globais", pontuou Abdelmalack.

Para os economistas Claudia Moreno e Felipe Salles, do C6 Bank, a inflação pode permanecer pressionada por mais tempo devido a choques globais. Eles preveem, por ora, uma desaceleração do IPCA no segundo trimestre, descendo ao patamar de 7,2% ao fim de 2022. Para 2023, a estimativa é de uma inflação de 4,6%.

“A inflação global já está muito elevada e o mundo sofre hoje com dois choques inflacionários: a guerra da Ucrânia e a volta da Covid-19 na China. A desorganização das cadeias globais de produção, que já está complicada, deve piorar ainda mais com esses dois fatores, pressionando os preços em todo o mundo, não só no Brasil”, corroboraram, em nota, os economistas.

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Aumentos no mês

No mês de abril, os aumentos nos custos de alimentação e deslocamento responderam por cerca de 70% do IPCA-15. As famílias brasileiras gastaram 3,43% mais com transportes, resultado impulsionado pelo encarecimento de 7,54% dos combustíveis no varejo, devido ao megarreajuste praticado pela Petrobras em 11 de março nas refinarias (a petroleira elevou o preço médio da gasolina às distribuidoras em 18,77%, enquanto o óleo diesel aumentou 24,93%).

Nas bombas dos postos de combustíveis, a gasolina teve uma alta de 7,51% ao consumidor, item de maior impacto individual na inflação do mês, 0,48 ponto porcentual. Os preços do óleo diesel subiram 13,11%, enquanto o etanol aumentou 6,60%. O gás veicular teve elevação de 2,28%.

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As passagens aéreas ficaram 9,43% mais caras, enquanto o seguro voluntário de veículo teve aumento de 3,03%, oitavo mês consecutivo de alta, acumulando um avanço de 23,46% nos últimos 12 meses. Ainda em Transportes, o táxi subiu 4,36%, o metrô aumentou 1,66%, e as passagens de ônibus urbano tiveram elevação de 0,75%.

Os gastos com alimentação e bebidas tiveram um aumento de 2,25% em abril. Os alimentos para consumo no domicílio encareceram 3,00%. Os destaques foram as elevações no tomate (26,17%) e no leite longa vida (12,21%), mas também houve altas expressivas na cenoura (15,02%), óleo de soja (11,47%), batata-inglesa (9,86%) e pão francês (4,36%). Já a alimentação fora do domicílio teve um aumento de 0,28% em abril.

O custo da habitação subiu 1,73% em abril, tendo como maior pressão o aumento de 8,09% no gás de botijão, uma contribuição de 0,11 ponto porcentual para a inflação. A Petrobras anunciou um aumento de 16,06% no valor do gás liquefeito de petróleo (GLP) vendido nas refinarias em 11 de março, ou seja, o IPCA-15 de abril absorveu a maior parte do reajuste.

O gás encanado também teve alta (3,31%), e a energia elétrica ficou 1,92% mais cara, com impacto de 0,09 ponto porcentual sobre a inflação. No Rio de Janeiro, houve reajustes de 15,58% e 17,30% nas duas concessionárias de energia pesquisadas, a partir de 15 de março.

Oito dos nove grupos de produtos e serviços que integram o IPCA-15 tiveram aumentos de preços em abril. A única deflação foi registrada pelo grupo Comunicação (-0,05%).

Em Vestuário, todos os itens pesquisados ficaram mais caros. No grupo Saúde e cuidados pessoais, o maior impacto foi dos produtos farmacêuticos, alta de 3,37% e contribuição de 0,10 ponto porcentual, em decorrência da autorização de reajuste de até 10,89% no preço dos medicamentos a partir de 1º de abril.

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