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Ipea: alta do juro preocupa mais que ritmo do consumo

Por Ricardo Leopoldo
Atualização:

O presidente do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), vinculado ao Núcleo de Assuntos Estratégicos da Presidência da República, Márcio Pochmann, afirmou hoje que é mais preocupante a possibilidade do Banco Central adotar um novo ciclo de aperto monetário, como foi sinalizado nas atas das reuniões de janeiro e março do Comitê de Política Monetária (Copom), do que o atual ritmo de expansão do consumo e da concessão de crédito que poderia provocar um eventual aumento da inadimplência. "Eu não identifico elementos que possam estimular a inflação, pelo contrário. No atual estágio, o avanço dos investimentos é a melhor política anti-inflacionária, pois amplia a capacidade de produção das empresas e eleva a oferta de mercadorias", comentou. A taxa básica de juros brasileira está em 11,25% ao ano. Para Pochmann, se o Banco Central elevar os juros no curto prazo, o atual estágio de crescimento do País pode ser afetado, o que pode levar o Brasil novamente à trajetória de expansão baixa do Produto Interno Bruto (PIB) registrada nas duas últimas décadas. "Se tivermos um cenário de elevação da taxa de juros poderíamos ter uma situação forçada de inadimplência. Isso significaria menor projeção de emprego e maior custo para o pagamento das dívidas contraídas (pelas famílias)", afirmou. "E isso poderia provocar uma crise de inadimplência que não temos hoje." Crédito fácil Ao ser perguntado sobre os estudos do Ministério da Fazenda relativos a possibilidade de limitar a concessão de crédito para compra de bens duráveis em até 36 parcelas, especialmente para a aquisição de carros, Pochmann disse que o atual ritmo de expansão destes financiamentos precisa ser avaliado com profundidade. Ele frisou que, de um lado, a taxa de endividamento das famílias é relativamente baixa no País e o peso total do crédito em relação ao PIB é muito baixo, pois está ao redor de 34% do PIB. "Mas vejo com certa preocupação determinados setores, produtores de mercadorias de alto valor unitário, que tem praticado prestações de crédito muito exacerbado. E isso pode registrar algum problema de inadimplência mais adiante", opinou. Atualmente, é possível comprar carros em 72 prestações, prazo que já chegou a 99 meses. "Contudo, é preciso ressaltar que o crédito tem sido um instrumento muito importante para a expansão da economia", destacou. Inflação Pochmann ressaltou que a preocupação do Banco Central e do governo com a inflação é importante, mas, para ele, o foco do BC não deveria ser somente a estabilidade econômica. "Ninguém quer a volta do período de inflação alta. A inflação elevada é um constrangimento ao bem estar da população, assim como a falta de emprego, a (escassez) de bens e serviços de qualidade e da qualificação da mão-de-obra", afirmou. "A inflação como os outros problemas deve ser vista neste contexto. O que observamos em um passado não muito distante é que a preocupação extrema com a inflação terminou por inviabilizar a continuidade do crescimento e isto representou um prejuízo importante ao bem estar social", disse. O presidente do Ipea defendeu que o Banco Central deveria ter um papel mais amplo do que o atual no combate exclusivo à inflação. Ele avaliou como mais interessante para o Brasil um mandato dual da autoridade monetária, como ocorre com o Federal Reserve (Fed, o BC dos EUA), que busca equilibrar a menor inflação possível com o maior crescimento do PIB e da geração de empregos. "O modelo do BC nos EUA tem permitido ao Fed (na atual crise) ser ousado sem que isso signifique descompromisso no combate à inflação", frisou. No Brasil, o centro da meta de inflação para 2008, determinado pelo Conselho Monetário Nacional (CMN), é de 4,5%, com margem de tolerância de dois pontos porcentuais para cima ou para baixo.

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