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Ipea quer desenvolvimentismo em curso de pós-graduação

Márcio Pochmann reuniu economistas críticos das atuais políticas monetária e fiscal em seminário em Brasília

Por Sergio Gobetti e BRASÍLIA
Atualização:

As mudanças na cúpula do Instituto de Pesquisa Econômica e Aplicada (Ipea) estão empolgando uma velha geração de economistas desenvolvimentistas, que já sonha em retomar a hegemonia que possuía nas universidades até a década de 80. Como parte dessa estratégia, o presidente do Ipea, Márcio Pochmann, realizou ontem um seminário em Brasília com professores de Economia e anunciou o plano de organizar um curso de pós-graduação da própria instituição, reunindo os principais expoentes do pensamento desenvolvimentista do Brasil. "Estamos há duas décadas contaminados pela lógica do curto prazo, sem que o tema do desenvolvimento esteja na pauta", disse Pochmann. Segundo ele, os problemas que o governo está enfrentando na implementação do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) refletem a falta de profissionais "com visão de longo prazo". Atualmente, os cursos de mestrado e doutorado em Economia, com exceção da Unicamp e da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), são dominados por intelectuais ortodoxos - ou neoliberais, na linguagem que acabou popularizada. Pochmann disse que está discutindo a idéia de um novo centro de pós-graduação com a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), instituição do governo federal que financia bolsas de pesquisa no País e no exterior. O objetivo é criar um centro de formação de pensadores desenvolvimentistas ao estilo do que foi no passado a Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (Cepal). "Há um campo novo na economia que começa a despontar", comemorou o presidente do Conselho Federal de Economia (Cofecon), Synésio Batista da Costa. No seminário de ontem, professores e economistas das áreas de Teoria de Desenvolvimento e História do Pensamento Econômico conheceram a experiência de ensino da UFRJ, que possui um forte núcleo de economistas heterodoxos ou desenvolvimentistas. A expressão "heterodoxo" serve para denominar economistas críticos das atuais políticas monetária e fiscal e defensores de uma intervenção mais firme do governo na determinação da taxa de câmbio e da taxa de juros. "Temos de mudar o programa da Associação Nacional de Pós-Graduação (Anpec). O pensamento único é deles", disse o professor Franklin Serrano, referindo-se aos economistas ortodoxos. O representante da Cepal no Brasil, Ricardo Bielschowsky, admitiu que a instituição sofreu mudanças na década de 90, na onda do pensamento neoliberal, mas disse que hoje há uma busca de síntese entre o velho pensamento desenvolvimentista e o novo cenário internacional de inovações e abertura comercial. Essa ala "novo desenvolvimentista", da qual faz parte o ex-ministro tucano Bresser Pereira, também questiona a atual política monetária e cambial, mas é favorável a uma rígida disciplina fiscal.

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