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Crônicas, seguros e um pouco de tudo

Opinião|IRB-Brasil Re, dando a volta por cima

Em sete meses, a companhia transformou uma insuficiência de cobertura de provisões técnicas de R$ 3,5 bilhões em suficiência de R$ 543 milhões.

Atualização:

A história do IRB-Brasil Re (antigo Instituto de Resseguros do Brasil) volta para 1939, quando foi criado para deter o monopólio do resseguro no País. Durante quase setenta anos, o IRB teve a exclusividade da atividade resseguradora e, num balanço isento, foi eficiente e fundamental para o desenvolvimento e consolidação do setor de seguros, inclusive depois do Plano Real, quando saltou de menos de 1% do PIB para mais de 6%, com reservas na casa do R$ 1,3 trilhão. Sem o IRB dificilmente isto teria acontecido. Criado para evitar a evasão de divisas fortes por conta das operações de seguros à época, o IRB foi muito além. Se transformou no principal celeiro de mão de obra, formando, durante décadas, alguns dos melhores técnicos de seguros do Brasil.

Superintendência de Seguros Privados (Susep) levantou investigação, iniciada no ano passado Foto: MARCOS DE PAULA/AGÊNCIA ESTADO/AE

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Além disso, baixava as tarifas únicas obrigatórias para todos os ramos de seguros, o que deu base para as seguradoras nacionais se desenvolverem relativamente protegidas e ao mesmo tempo incentivadas a se aprimorarem técnica e operacionalmente. O resultado pode ser observado nos dias de hoje.

Desde 2007, quando foi votado o fim do monopólio do resseguro, tema que causou preocupação por conta da incerteza quanto à capacidade das seguradoras nacionais terem competência para caminharem com as próprias pernas, nenhuma companhia importante quebrou. Ao contrário, o setor, graças à sua capitalização e à competência técnica das empresas, fruto do monopólio do IRB, se expandiu e se aprimorou.

Com o fim do monopólio, o IRB, transformado em IRB-Brasil Re desde 1997, passa a girar como uma companhia local de resseguros e a atuar num mercado onde não mais dava as cartas sozinho, mas tinha que competir com outros players e que, pelas suas características e oportunidades, tem atualmente mais de 100 resseguradoras registradas para operarem no País.

O IRB-Brasil Re deu conta do recado. Se firmou como a maior resseguradora em operação no País e depois na América do Sul, chegando a responder por mais de 70% do lucro do setor de resseguros no Brasil. Isto o transformou num dos 10 maiores resseguradores do mundo por valor de mercado.

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A vida corria aparentemente muito bem, com suas ações lançadas em Bolsa se destacando, até que, em 2019, o IRB foi balançado por notícias e fatos que rapidamente jogaram o ressegurador numa crise profunda. Não cabe aqui analisá-la, mas sim, ver o que aconteceu desde o seu começo até os dias de hoje.

Identificados os problemas, o primeiro passo foi buscar um novo CEO para a companhia. E o nome escolhido foi o do experiente homem de seguros Antonio Cássio dos Santos, que imediatamente iniciou uma revolução dentro do IRB-Brasil Re, redesenhando a gestão e implantando a nova estrutura de comando, baseada em quatro vice-presidências. Além disso, o Conselho de Administração foi redesenhado, passando a contar com nove conselheiros independentes. O balanço de 2019 foi republicado, apontando as principais fragilidades. Os acionistas fizeram um aporte de mais de R$ 2 bilhões. E a companhia lançou debêntures que tiveram uma subscrição de mais de R$ 820 milhões.

No campo operacional, apesar do cenário interno e da pandemia, todas as linhas de negócios foram mantidas. Houve a estruturação de operações de retrocessão de mais de R$ 1 bilhão e foram assinados acordos que resultaram no recebimento de perto de R$ 350 milhões. No final do ano de 2020, os resultados das ações implementadas já sinalizavam a recuperação da companhia que, em sete meses, transformou uma insuficiência de cobertura de provisões técnicas de R$ 3,5 bilhões em suficiência de R$ 543 milhões.

Em 6 de abril de 2021, a Susep levantou a fiscalização especial, iniciada em maio de 2020. Consolidando a nova fase, Antonio Cássio dos Santos deixou de ser CEO para ser apenas presidente do Conselho de Administração. Wilson Toneto está respondendo interinamente como CEO enquanto o IRB procura um novo nome para a posição. Entre secos e molhados, graças ao empenho de todos os envolvidos, o IRB-Brasil Re está dando a volta por cima.

(*) SÓCIO DE PENTEADO MENDONÇA E CHAR ADVOCACIA E SECRETÁRIO-GERAL DA ACADEMIA PAULISTA DE LETRAS

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Opinião por Antonio Penteado Mendonça
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