Isolamento elétrico custa R$ 6,3 bilhões aos consumidores

País tem 235 localidades desplugadas, a maioria na Região Norte, que dependem da energia produzida a partir da queima de diesel

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Por André Borges
Atualização:
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BRASÍLIA - Os reflexos do isolamento elétrico da cidade de Boa Vista (RR), única capital do País que ainda não está plugada na malha do sistema interligado nacional de energia (SIN), ficaram mais nítidos em março deste ano, quando Roraima deixou de importar energia da Venezuela e passou a depender, exclusivamente, da geração de usinas térmicas brasileiras, praticamente todas elas movidas a combustível. Boa Vista, no entanto, está longe de ser a única localidade do País que sofre com as limitações do setor.

Os dados do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), órgão que gerencia o abastecimento diário do País e planeja sua demanda para os anos seguintes, apontam que, atualmente, ainda existem 235 localidades no Brasil que não possuem ligação com o SIN. São os chamados “sistemas isolados”, que dependem diariamente da energia produzida por usinas locais para ter luz. Em 99% dos casos, tratam-se de quilowatts gerados pela queima de óleo diesel.

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O levantamento oficial mostra que, quando considerada a malha interligada de energia, a qual já chega a 141.388 quilômetros de extensão, os isolados são apenas 0,6% das localidades do País. O custo para 2020 desses 235 locais, porém, nas contas do ONS, chegará a R$ 6,31 bilhões, um valor que é pago por todos os consumidores de energia do País, por meio de subsídio incluído mensalmente na conta de luz.

Boa Vista é a única capital sem conexão no País Foto: Paulo Liebert/AE

Os isolados. São oito os Estados que possuem locais isolados do sistema elétrico nacional. Amazonas é o que possui o maior número desses pontos, com 95 regiões. Roraima está em segundo lugar, com 82 localidades fora da rede interligada.

“Naturalmente, há regiões que precisam imediatamente ser conectadas, como é o caso de Boa Vista, que consome boa parte da energia dos sistemas isolados. Há outros locais, porém, que efetivamente não precisam dessa conexão, e sim de uma solução mais adequada de abastecimento, para que o preço da energia dessa região caia”, diz Claudio Sales, presidente do Instituto Acende Brasil, especializado no setor elétrico.

Os números falam por si. Enquanto o custo de energia nas áreas interligadas tem ficado em R$ 176 o megawatt (MWh), o preço dessa mesma energia para o sistema isolado é de R$ 1.287 o MWh, por causa do alto custo do diesel, que também é o suprimento mais poluente da matriz elétrica. “Isso mostra o quanto essa situação precisar mudar, com o avanço de novas ligações e outras fontes de geração”, diz Sales.

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Em maio deste ano, dois meses depois de romper com o abastecimento precário gerado por hidrelétricas da Venezuela, o governo brasileiro conseguiu fazer um leilão para Roraima com geração a gás, pelo custo de R$ 833 o MWh. Essa energia, que sairá de uma térmica do Amazonas, no entanto, só passa a chegar em 2021. “É uma queda importante de preço se comparada ao custo anterior, mas ainda é alto quando se vê o preço pago pelo resto do País”, afirma o presidente do Acende Brasil.

O ONS reconhece que, neste ano, a interrupção da importação de energia da Venezuela, ainda que fosse precária e com apagões diários, tem “um alto impacto na operação no ano de 2019 e na previsão de atendimento energético do sistema de Boa Vista para o ano de 2020”. Segundo o órgão, essa situação terá “um impacto significativo no consumo de óleo diesel” previsto para o ano que vem.

Plugadas. Bernardo Folly de Aguiar, superintendente de projetos de geração da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), órgão responsável pelo planejamento do setor elétrico, afirmou que, até 2023, há previsão de que ao menos 47 localidades isoladas sejam finalmente plugadas na rede nacional. Outras tantas, porém, não têm previsão para que isso ocorra: “É uma equação econômica que precisa ser feita. Em muitos lugares, não é viável levar a rede de transmissão, mas sim investir em diferentes fontes de energia para garantir o abastecimento.”

Se somada a energia consumida pelas 235 localidades isoladas, chega-se a um total de 468 MW médios, diz Claudio Sales. “Para se ter uma ideia do que isso significa, a cidade de Santos, no litoral de São Paulo, por exemplo, consome sozinha 700 MW médios. Por isso, é preciso analisar o que vale a pena, em cada caso.”

Nas contas do ONS, em 2020 está previsto um aumento de 7,8% no consumo de gás natural e de 0,2% de óleo diesel pelos sistemas isolados. A redução no custo dessa energia está na diminuição da dependência de combustíveis fósseis e no investimento de outras fontes complementares, como a energia solar.

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