Itamaraty terá departamento do agronegócio, diz futuro ministro

Para Araújo, ministério foi a ‘casa do MST’ nos governos do PT, ‘agora estará à disposição dos produtores’

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Por Lu Aiko Otta
2 min de leitura

BRASÍLIA - O futuro chanceler, embaixador Ernesto Araújo, usou ontem sua conta no Twitter para anunciar que criará um Departamento do Agronegócio na estrutura do Ministério das Relações Exteriores. Segundo explicou, ele atuará em sintonia com o Ministério da Agricultura na conquista de novos mercados. “Daremos ao agro a atenção que no MRE ele nunca teve”, escreveu.

Jair Bolsonaro e ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araujo Foto: Dida Sampaio/Estadão

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Sem deixar de lado comentários de cunho ideológico, Araújo afirmou que, nos governos do PT, o Itamaraty foi “a casa do MST”. Agora, disse ele, “estará à disposição do produtor.”

Hoje, o Itamaraty já tem uma estrutura dedicada ao tema: a Divisão de Agricultura e Produtos de Base, que integra o Departamento Econômico da pasta. Num departamento próprio, o agronegócio ficaria um patamar acima na hierarquia administrativa do governo. 

A ideia foi considerada positiva pelo vice-presidente da Sociedade Rural Brasileira (SRB), Pedro de Camargo Neto. Mas ele lamentou que, ao falar do agronegócio, o futuro chanceler não tenha esclarecido os pontos que mais preocupam o empresariado do setor: a ideia de transferir a embaixada de Tel-Aviv para Jerusalém, que coloca em risco o mercado árabe, e a relação com a China, principal comprador do agronegócio do Brasil. “Foi ruim”, disse. “Mais preocupou do que despreocupou.”

Na mesma postagem, Araújo escreveu que “algumas negociações comerciais em curso são ruins para a agricultura”, sem especificar quais, nem por quê. “Vamos reorientá-las em benefício dos produtores brasileiros.”

Mas, na avaliação de Pedro Camargo, as negociações em curso não são ruins para o setor. Pelo contrário: por ser forte, o agronegócio brasileiro consegue atrapalhar as negociações que não lhe são benéficas. “O agro sempre ganha”, disse. “Às vezes ganha pouco, às vezes ganha muito.” Ele admite que a falta de acordos bilaterais prejudica um desempenho melhor da balança comercial, mas atribui a responsabilidade disso mais ao setor privado do que ao Itamaraty.

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Araújo afirmou também que a diplomacia brasileira defenderá o produtor brasileiro da pecha de ser agressor do meio ambiente. “O produtor agrícola brasileiro contribui para a preservação ambiental como em nenhum outro lugar do mundo.” 

A preservação da Amazônia é usada por concorrentes para desgastar a imagem dos produtos brasileiros no mercado internacional, principalmente os do agronegócio. Por isso, produtores se preocupam com a ideia de retirar o Brasil do Acordo do Clima. Entre outras consequências, isso daria mais munição a esses grupos. 

Isso não parece preocupar o futuro chanceler. “O establishment da velha política e da velha mídia quer usar o agro como pretexto para reduzir o Brasil a um país insignificante”, escreveu. “Não adianta ganhar o prêmio de redação da ONU, não é isso que abre mercados nem cria empregos.”

E desafia: “Querem jogar a agricultura contra os ideais do povo brasileiro? Não conseguirão. O trabalho incansável, a fé, a inventividade, o patriotismo dos agricultores são a própria essência da brasilidade.” O chanceler afirma que o Brasil não deixará de exportar soja, carne, frango e açúcar. “Mas passará a exportar também esperança e liberdade”, escreveu. “O fato de ser uma potência agrícola não nos proíbe de ter ideais e de lutar por eles.”

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