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Itamaraty vê mais oportunidade que ameaça na Aliança do Pacífico

Acordo de livre-comércio entre Chile, Peru, Colômbia e México pode ser útil para o País, avaliam diplomatas

Por BRASÍLIA
Atualização:

Depois do susto pela velocidade com que a Aliança do Pacífico tem andado, o governo brasileiro concluiu que, em vez de prejudicar o comércio, o acordo de livre-comércio entre Chile, Peru, Colômbia e México pode ser útil, desde que o País se apresse para não ficar para trás.Um levantamento feito pelo Itamaraty e obtido pelo Estado mostra que o Brasil tem isenção total ou reduções significativas de tarifas com três dos quatro países da aliança, em níveis semelhantes aos que os membros do grupo têm entre si. A exceção é o México.A aliança tem sido apontada como tudo o que o Mercosul não consegue ser. Os acordos são aprovados rapidamente, vários grupos trabalham ao mesmo tempo para resolver pendências e, em 30 de junho, 90% dos produtos dos quatro países terão tarifa zero entre eles. Os demais 10% terão um prazo "razoável" para serem incorporados, mas sem data à vista. A avaliação dos diplomatas brasileiros, no entanto, é que a liberalização dos quatro países pode favorecer o comércio com o Brasil e não prejudicá-lo, já que o grau de redução tarifária é próxima ao que os membros têm entre si. Eles acreditam que é possível pegar carona na Aliança do Pacífico e ampliar os mercados para os empresários nacionais, mas é preciso investir na relação com esses países.Preferências. Atualmente, 100% dos produtos comercializados entre Brasil e Chile têm tarifas zeradas ou bastante reduzidas, com exceção do trigo e da farinha de trigo, que devem entrar em breve na lista. Com a Colômbia, o Brasil outorgou a redução tarifária a 92% dos produtos e tem hoje 52% das suas exportações nessa situação, o que deve ser ampliado em 2014.Isso ocorre porque, geralmente, acordos de comércio estabelecem um calendário para eliminar as alíquotas de importação. A cada ano ou período, a redução atinge mais produtos.Praticamente 100% dos produtos peruanos exportados ao Brasil têm redução, enquanto no ano que vem 84% das exportações brasileiras terão as tarifas zeradas. A única exceção é o México, em que a redução se aplica basicamente ao setor automotivo, o que representa apenas 7,5% dos produtos.Exportações. Em 2012, o Brasil vendeu aos quatro países cerca de US$ 13,85 bilhões, metade do que exportou apenas aos Estados Unidos, US$ 26,7 bilhões. Os principais produtos são alimentos, petróleo bruto, automóveis e motores, especialmente para o México, mas há uma enorme variedade de manufaturados que poderão sofrer competição feroz da China, já que a Aliança mira uma integração maior com a Ásia. A conclusão do estudo do Itamaraty é que, apesar da velocidade, o impacto da Aliança do Pacífico é menor do que o anunciado e o que seria uma ameaça pode se transformar em oportunidade. Caberá ao País saber aproveitá-la. / L.P. CENÁRIO: Lisandra ParaguassuUm dos maiores articuladores do enterro da Área de Livre-Comércio das Américas (Alca), no início do governo Lula, o Itamaraty vê ecos daquela negociação na Aliança do Pacífico. Tanto quanto um acordo centrado no comércio, o estudo dos diplomatas vê na aliança um viés de coordenação política de nações mais simpáticas à Alca e que tem se refletido nas negociações em outros fóruns da América Latina. O Itamaraty atribui a essa influência, por exemplo, as dificuldades na criação do Banco do Sul, que teve como maior patrocinador a Venezuela. Outro exemplo foi a recente eleição para a direção-geral da Organização Mundial do Comércio. Colômbia, Chile e Peru votaram no mexicano Hermínio Blanco, em vez do brasileiro Roberto Azevêdo. A análise é que o grupo, que tem acordos de livre-comércio com os Estados Unidos há vários anos, seria mais comprometido com "orientações econômicas dos países desenvolvidos". Além disso, o México estaria aproveitando o grupo para ampliar suas influência na América Latina, apesar de ser refratário a propostas de integração regional fora dos seus parâmetros. Os diplomatas apontam, por exemplo, uma contradição entre o discurso de liberalização e a recusa recente do país em retomar negociação sobre o Acordo Estratégico de Integração Econômica com o Brasil.

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