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Itaú BBA reabre banco em Portugal para se preparar para Brexit

Unidade de Lisboa será uma divisão complementar do Itaú de Londres; operações lusitanas seriam o braço do banco para o cliente que está fora da Inglaterra

Foto do author Célia Froufe
Por Célia Froufe (Broadcast), correspondente e e Eduardo Gayer
Atualização:

LONDRES e SÃO PAULO - Para se preparar para as consequências da saída do Reino Unido da União Europeia, o chamado Brexit, o Itaú decidiu reabrir o Itaú BBA Internacional, voltado para o segmento de atacado, em Lisboa. As operações devem ter início nas primeiras semanas de 2020, já que, conforme apurou o Estadão/Broadcast, os trâmites regulatórios estão adiantados e a marca brasileira aguarda apenas o aval final do Banco de Portugal.

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De acordo com informações obtidas pela reportagem, Lisboa será uma divisão complementar do Itaú de Londres, uma subsidiária que deve ser comandada pelo CEO da instituição no Reino Unido, Renato Lulia-Jacob. Não há, dessa forma, perspectiva de transferência de sede de uma capital para a outra. Cerca de 80 colaboradores atuarão na nova unidade, alguns deles vindos de outros núcleos do banco na Europa.

O Itaú BBA comemorou, no mês passado, 25 anos de atuação na Europa - a entrada no continente se deu, justamente, por Lisboa. Em 2010, abriu uma unidade em Londres, centro financeiro europeu, e optou por diminuir as operações na capital portuguesa, que passou a contar apenas com uma agência. Na Inglaterra, o foco do banco é a área de mercado de capitais internacional, voltada para a distribuição primária de emissões brasileiras e do próprio Grupo Itaú, além do mercado secundário de papéis públicos e privados de emergentes.

A instituição também atua na Suíça - mas tanto este país quanto o Reino Unido estão fora da zona do euro. Assim, as operações lusitanas seriam o braço do banco para o cliente que está fora de Londres. Atualmente, há um acordo entre os britânicos e o restante do continente para que as instituições financeiras possam atuar nos dois lados, desde que possuam o que é chamado de "passaporte". É com ele que o Itaú atende seus clientes em outras praças, a partir da City. No entanto, há incertezas sobre como ficará essa questão após a saída do Reino Unido da União Europeia.

Itaú Unibanco Foto: Daniel Teixeira/ ESTADÃO

Com o Brexit, a intenção é usar a unidade em Portugal para operações que por ventura não possam ser feitas a partir de Londres, quando e se o divórcio for concluído. O cronograma da separação conta com a retirada britânica da União Europeia em 31 de janeiro e com um prazo de transição até o fim de 2020. Na terça, 17, os mercados do continente foram abalados pela notícia de que o primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, quer usar sua maioria recém obtida no Parlamento para mudar a lei que trata do Brexit e garantir que essa fase de transição não seja estendida, como havia sinalizado a UE.

Por mais que esteja ocorrendo em paralelo com a questão do divórcio, a ampliação das atividades do Itaú em Lisboa também faz parte de um processo de expansão do banco, como apurou o Estadão/Broadcast. Por isso, a escolha por Portugal tem sido considerada como "natural" e servirá como mais uma base de atendimento para os clientes corporate e institucional do banco na Europa, atendendo a todos os clientes do segmento atacado, até do private bank. Não há, contudo, intenção de ampliação da área de varejo para fora da América Latina.

A notícia repercutiu com força em Portugal, país que tem sido procurado por empresas brasileiras que desejam atuar na Europa. A semelhança do idioma, a boa perspectiva para a economia do país e o crescimento da comunidade brasileira por lá têm sido apontados como razões para a escolha do local como ponto de expansão de negócios no Velho Continente. De acordo com o Serviço de Estrangeiros e Fronteiras de Portugal, a nacionalidade brasileira mantém-se como a principal comunidade estrangeira no país.

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Procurado pela reportagem, o Itaú preferiu não se pronunciar.

Travessia do Canal da Mancha

A transferência de funcionários do setor financeiro da City para outras capitais europeias tem sido uma constante desde que o Brexit foi anunciado. Algumas cidades, como Frankfurt, na Alemanha, chegaram a expor sua preocupação com a infraestrutura insuficiente para receber um aumento expressivo de profissionais e suas famílias. Em outras, como Madri, na Espanha, houve campanha para atrair bancos, corretoras e seus trabalhadores, com diferenciais não apenas em relação ao custo de vida mais baixo, mas pela quantidade de dias de sol no ano superior a Londres.

O fluxo de imigração, no entanto, acabou sendo, até o momento, menor do que o previsto. Em entrevista ao Estadão/Broadcast em maio, o prefeito da City, Peter Estlin, argumentou que nem 10 mil profissionais do setor financeiro saíram do país por conta do Brexit - um número irrisório, tendo em vista a contratação de 35 mil no segmento de Fintechs e de um mercado de 2,3 milhões de pessoas.

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