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Itaú descarta vender participação na XP

Dono de 46% das ações, banco entrou em atrito com corretora após veicular comercial questionando modelo de agentes autônomos

Foto do author Aline Bronzati
Por Aline Bronzati (Broadcast)
Atualização:

A arena que se transformou a relação da XP com o seu maior acionista, o Itaú Unibanco, deu sinais de trégua. Enquanto a corretora espera que a "confusão" seja uma página virada, o banco, maior em ativos da América Latina, segue firme na sua posição e não pretende vender suas ações - nem parte delas, adquiridas em 2016, apurou o Estadão/Broadcast.

Mesmo entre farpas e ofensas após uma campanha expor a relação, o Itaú estaria satisfeito com o investimento na XP, diz uma fonte próxima ao banco. Reconhecido por seu talento em selar bons negócios, a corretora foi sua 27ª aquisição e a maior da gestão de Candido Bracher, que no fim deste ano atinge idade limite para chefiar a instituição. Desde que o banco entrou para a sociedade, o valor de mercado da XP saltou de R$ 12 bilhões para mais de R$ 130 bilhões após ter listado ações no mercado norte-americano. 

Itaú usou comercial para contestar XP, que revidou com incentivos a saques Foto: Daniel teixeira/Estadão

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Embora o fundador e CEO da XP, Guilherme Benchimol, e como outros executivos, terem recomendado que o Itaú se desfaça de sua participação, caso não esteja satisfeito com o negócio, não parece estar nos planos do Itaú desinvestir da "concorrente"no curto prazo. "Em nenhum momento, passou pela cabeça vender a participação na XP, que permite ao banco estar em um mercado em crescimento. Isso não quer dizer que enquanto concorrentes, não haverá competição", diz um executivo, próximo ao Itaú, na condição de anonimato.

Nos bastidores, o banco tem afirmado que reconhece o "talento" da liderança da XP, mas que "modelos perfeitos" envelhecem e que o potencial de um negócio está na sua capacidade de se transformar. E essa ainda seria sua visão em relação à corretora.

O Itaú adquiriu 49,9% da XP em 2016 após o Banco Central ter barrado a aquisição do controle da maior corretora do País. Com a abertura de capital na Nasdaq, que recebe as empresas de tecnologia ao redor do globo, em dezembro de 2019, sua fatia foi diluída para 46,05%, e o banco embolsou cerca de R$ 2 bilhões com a oferta pública inicial de ações (IPO, na sigla em inglês). O Itaú ainda tem a possibilidade de uma única aquisição adicional em 2022, que se aprovada pelos órgãos reguladores - o que é bastante questionável no mercado, poderia empurrar sua fatia para até 62,4%.

Campanha publicitária deu início à briga

A briga pública com a XP na semana passada levantou, porém, questionamentos sobre uma possível intenção do Itaú de deixar o capital da XP. Em campanha para evidenciar a plataforma de investimentos do seu banco de alta renda, o Personnalité, o banco joga luz sobre a remuneração dos assessores de investimentos. Sem citar a concorrente, sinaliza que exatamente o que fez a corretora chegar até aqui, pode não ser mais garantia de seu sucesso no futuro: os agentes autônomos. 

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A propaganda, veiculada em horário nobre na TV Globo, incomodou a XP, que partiu para o contra-ataque para defender seu modelo. Dentre as ações, distribuiu cinco mil coletes, item de moda indispensável na Avenida Faria Lima, reduto financeiro de São Paulo, para clientes que fizessem transferências eletrônicas (TED) do banco para a corretora. Em troca, bateu o recorde diário de mais de 20 mil transferências e R$ 150 milhões que deixaram o Itaú com destino à XP. O banco já era o que mais sofre com a concorrência da corretora em número de clientes e quantidade de recursos.

No Itaú, a ação com os coletes foi vista como uma resposta  "divertida" e "bem-humorada", apurou o Estadão/Broadcast, condicionando a concorrência para uma linha mais 'saudável'. A despeito das farpas trocadas com a XP, o Itaú deve manter a campanha da plataforma de investimentos do Personnalité no ar. Nos próximos dias, inclusive, novos filmes devem ser veiculados, apurou a reportagem

Na visão do banco, diz um interlocutor, a campanha atingiu o resultado esperado, ao motivar um debate 'importante' no universo dos investimentos: a remuneração dos assessores. Além disso, ajudou a mostrar para o mercado que o banco está 'vivo' e que os pesos pesados do setor financeiro não estão parados, a espera de serem 'devorados' pela concorrência, relata a fonte, na condição de anonimato.

Em paralelo, o Itaú também pretende fazer pesquisas para mensurar o efeito da campanha. Não se trata de uma ação específica por conta do efeito junto à XP, da qual é sócio, mas uma prática comum na organização. 

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A competição é uma 'coisa maravilhosa'

O presidente do Itaú, Candido Bracher, disse, em vídeo semanal a funcionários, que se tornou tradicional às sextas-feiras, em meio à pandemia, que a campanha provocou um "certo agito" no mercado. Ao contextualizar a ação, afirmou que competição é uma "coisa maravilhosa" e que faz empresas e países serem melhores. Bracher também enfatizou que a campanha não foi feita para 'criticar os outros'. 

"Especialmente, a campanha não foi feita para falar dos agentes autônomos. Nós respeitamos muito os agentes autônomos tanto que estamos contratando vários deles para trabalharem conosco", alfinetou o presidente do Itaú, orientando que os funcionários do banco participem das discussões, evidenciando as qualidades do banco e não dos "concorrentes". "Especialmente, muito cuidado nas redes sociais. A nossa competição sempre foi e sempre será na bola". 

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O tom de "bandeira branca" erguido por Bracher foi seguido por Benchimol. Em live da Bluetrade, um dos escritórios de agentes autônomos da XP, o executivo disse, no sábado, dia 27, esperar que a "confusão" com o Itaú tenha sido superada. Ele classificou a campanha como "infeliz", mas afirmou que o banco é um sócio importante e que deseja que, passado o imbróglio com o seu maior acionista, a corretora "possa agora focar no que interessa".

Apesar da aparente trégua, na XP, o clima é de "alerta total". Fontes afirmam que não vão deixar de responder com "firmeza, e à altura, qualquer ataque à imagem, propósito ou parceiros". Já no banco, o termo "trégua" é rechaçado. "Nunca XP e Itaú estiveram em guerra. Portanto, não há porque se falar em trégua", rebate uma fonte, próxima ao banco.

Procurados, Itaú e XP não comentaram

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