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Japão cresce 0,9% após 5 trimestres de recessão

País é o terceiro membro do G-7 a deixar quadro recessivo neste trimestre, puxado por reação do comércio exterior e do consumo

Por Andrei Netto
Atualização:

O Japão tornou-se ontem o terceiro membro do G-7 (Grupo das sete maiores economias) a abandonar a recessão no espaço de uma semana. Depois da Alemanha e da França, a maior economia do Oriente registrou um crescimento - surpreendente e vigoroso, aos olhos dos analistas - de 0,9% no segundo trimestre, somando 3,7% nos últimos 12 meses. Os números encerram uma sequência de crescimentos negativos que sufocava o país havia cinco trimestres - o mais longo período recessivo desde a Segunda Guerra. As estatísticas foram reveladas ontem, em Tóquio, e teriam relação direta com a recuperação do comércio exterior, em especial das exportações, que cresceram 6,3% no trimestre, e do consumo familiar, que aumentou 0,8% no período. O fator determinante teria sido o pacote de estímulo, cristalizado pelo aumento de 8% nos gastos públicos e pela injeção equivalente a 4% do Produto Interno Bruto (PIB) na economia do país. "As difíceis condições atuais vão continuar, mas nós esperamos que a economia se dirija definitivamente para a clareira", afirmou o ministro japonês de Política Econômica, Yoshimasa Hayashi. O desempenho do Japão, a segunda maior economia do mundo, engrossou o número de países que romperam com a ameaça de depressão - ao menos de forma temporária. Na semana passada, dois gigantes da União Europeia, Alemanha e França, além de Portugal e Suécia, já haviam interrompido a espiral recessiva, apresentando crescimento de até 0,3%. Entre os membros do G-7 seguem em queda Estados Unidos, que caiu 0,3% no segundo trimestre, o Reino Unido (-0,8%), e a Itália (-0,5%). Todos ainda enfrentam recessão. O desempenho do Canadá ainda não foi divulgado. Se for positivo, o G-7 terá mais membros em crescimento do que em recessão. Desde que as estatísticas sobre a performance econômica global no segundo trimestre começaram a ser anunciadas, na quinta-feira passada, um misto de surpresa e ceticismo tem tomado especialistas na Europa e na Ásia. A razão do pessimismo é que a retomada observada no segundo trimestre por diferentes países foi fruto direto dos planos de relançamento da atividade econômica, cujos efeitos positivos tendem a se dissipar entre o fim de 2009 e o início de 2010. Quando o fôlego dos planos se esgotar, restará na maioria dos países um nível de desemprego recorde - de 9,4% na União Europeia e de 5,4% no Japão, o maior em seis anos. Em consequência, haverá menor disposição para o consumo. "Podemos seguramente afirmar que o Japão deixou a recessão, mas o forte crescimento de 3,7% não é sustentável", afirmou ao jornal Financial Times Kyohei Morita, economista-chefe do banco Barclays Capital em Tóquio. Na Europa, a cautela entre experts é tamanha que a Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE) ainda não comenta os números. Para Raymond Van der Putten, analista da Direção de Estudos Econômicos do banco BNP Paribas, de Paris, o cenário não é propício para euforia. "As perspectivas econômicas continuam um tanto sombrias, considerando o cenário de esgotamento dos pacotes fiscais", alerta. "Mesmo que a recuperação mundial deva ganhar terreno nos próximos meses, nós estimamos que o reequilíbrio atual alcançado por alguns países, como o Japão, deverá se esgotar daqui até o fim do ano." No caso japonês, ressalta Van der Putten, a perspectiva é de recuo do PIB de 5,2% em 2009 e de estagnação na maior parte de 2010, quando a atividade deve retomar o crescimento, chegando a 0,8%.

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