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JBS compra unidade do grupo Marfrig por     US$ 1,5 bilhão

Com dívida em alta, Marfrig se desfaz de sua subsidiária na Europa e diz que vai, com isso, reduzir sua ‘alavancagem financeira’

Por Alexa Salomão
Atualização:
 Foto: Reuters

No momento em que o fantasma do alto endividamento volta a assombrar os resultados, a Marfrig Global Foods, de Marcos Molina, se desfaz de mais um negócio. A companhia anunciou ontem a venda da irlandesa Moy Park, sua subsidiária na Europa, para o JBS, da família Batista, por US$ 1,5 bilhão (o equivalente a R$ 4,7 bilhões).   As duas empresas divulgaram fato relevante ao mercado confirmando a operação. Pela transação, US$ 1,19 bilhão será pago à vista e em dinheiro. Os demais US$ 300 milhões (o equivalente a 200 milhões de libras) representam dívidas da Moy Park que serão assumidas pelo JBS. Com o negócio, o JBS fortalece a posição em produtos processados a base de aves e amplia a presença em território europeu, onde tem apenas uma unidade de embutidos na Itália. A Marfrig por sua vez anunciou que com os recursos vai “antecipar, de forma significativa, a redução já prevista dos níveis de alavancagem financeira, reduzindo despesas de juros”.  Com 13 unidades na Irlanda, Inglaterra e França, a Moy Park era uma das unidades mais saudáveis da Marfrig. Em outubro do ano passado, Sérgio Rial, então ainda na presidência da companhia (ele deixou a empresa em janeiro deste ano) anunciou numa entrevista ao americano Wall Street Journal, um dos diários mais importantes do mundo, que a Moy Park abriria o capital. Uma parte dos recursos seria investida na empresa e a outra, usada para aliviar a alavancagem da Marfrig. Câmbio Os resultados da empresa, em especial a dívida, têm sofrido com a variação cambial. No primeiro trimestre deste ano, todas as unidades de negócio do grupo registraram crescimento e a receita líquida chegou a subir 23%, indo a R$ 5,9 bilhões. No entanto, a Marfrig teve prejuízo líquido de R$ 571 milhões – principalmente por causa do impacto da desvalorização do real frente ao dólar. O prejuízo foi muito maior que as perdas de R$ 96 milhões registradas no mesmo período do ano passado. Para a dívida, foi pior. Cerca de 94% dela está cotada em moedas estrangeiras. A empresa fechou o quarto trimestre de 2014 com uma dívida líquida de R$ 8,402 bilhões – uma alta de 12% em relação aos R$ 7,5 bilhões registrados ao final do terceiro trimestre de 2013. O endividamento bruto consolidado, por sua vez, esbarrou em R$ 11 bilhões, uma alta de quase 24% em relação aos R$ 8,9 bilhões em que estava em dezembro de 2013. Sem refresco, entre o final de dezembro e o de março, a dívida teve mais uma alta. Foi um acréscimo de 24%, indo a R$ 13,4 bilhões.  Em relatório no mês passado, a agência de risco Fitch avaliou que a empresa em 2015 deveria concentrar esforços para reduzir o nível de endividamento. No final de março, o índice medido pela relação dívida líquida/Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização) estava em 6,2 vezes, principalmente por causa do efeito da valorização do dólar ante o real. Sem o efeito do câmbio, segundo a empresa, o índice estava em 3,36, o que também não seria confortável. A Fitch estimou que o índice seria reduzido, ficando entre 4 a 4,5 vezes até o final do ano. Não é a primeira vez que a Marfrig se desfaz de bons ativos para aliviar a dívida. Em junho de 2013, vendeu a Seara ao mesmo JBS por cerca de R$ 6 bilhões. Pareceu ao mercado que os negócios haviam ingressado numa fase mais promissora. O fundador Molina deu sequência à reestruturação do grupo e acelerou o processo de profissionalização. Transferiu a presidência para o executivo Rial em janeiro de 2014 – ele deixou o cargo em janeiro deste ano sem entregar resultados brilhantes. 

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