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JBS negocia rolagem da dívida que fez com BNDES para comprar a Pilgrim''s

Menos de um ano depois de ter levantado R$ 3,4 bilhões junto ao banco estatal para comprar a empresa nos Estados Unidos, o frigorífico da família Batista discute uma segunda operação, desta vez maior, somando R$ 4 bilhões

Por Chiara Quintão , Fabiana Holtz , Irany Tereza e Alexandre Rodrigues
Atualização:

Antes de completar um ano da emissão de debêntures que totalizou R$ 3,479 bilhões, dinheiro usado na aquisição da americana Pilgrim"s Pride, o frigorífico JBS informou ontem ao mercado estar negociando nova emissão, para substituir a primeira, desta vez de R$ 4 bilhões. A empresa informou estar conversando com o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), que subscreveu a maior parte da primeira operação, a substituição dos papéis. O banco não se manifestou oficialmente sobre o assunto. Segundo o Estado apurou, a proposta do JBS ainda não foi analisada pela diretoria. Por ora, o frigorífico está inadimplente com o banco numa das cláusulas do contrato da primeira operação.A subscrição das debêntures, em janeiro deste ano, foi condicionada à abertura de capital da subsidiária americana do frigorífico, a JBS USA, sob pena de pagamento de multa de US$ 300 milhões, caso a oferta de ações não fosse concluída até dezembro. De acordo com o comunicado da empresa, a nova emissão retirará a obrigatoriedade da abertura de capital da subsidiária - o que, na época, foi uma imposição do BNDES. Em agosto, o presidente do grupo, Joesley Mendonça Batista, havia declarado considerar satisfatório o adiamento do IPO (abertura de capital) para 2011, mesmo que tivesse de pagar multa, devido ao momento crítico do mercado acionário americano. O anúncio afetou as ações da JBS na Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa). Os papéis ordinários (ON) fecharam o dia com recuo superior a 4%, em que o Ibovespa caiu 1%.Analistas. Apesar da queda das cotações, a segunda emissão não é vista como negativa por analistas. Na avaliação da chefe da área de análise da corretora Ativa, Luciana Leocadio, a operação não tem impacto nos papéis. A Votorantim Corretora reiterou a recomendação de manutenção para as ações da JBS, com o preço-alvo de R$ 8,80 para setembro de 2011. Por não ter realizado o IPO da subsidiária norte-americana este ano, a empresa pagará um prêmio de R$ 260,97 para cada debênture da primeira emissão, no total de R$ 521,940 milhões. Mas o mercado já esperava o pagamento da multa. "O prêmio para não ter de fazer a abertura de capital da JBS USA é elevado, mas não chega a ser surpresa", disse a analista da Ativa. No fato relevante publicado ontem, a empresa lembrou que o BNDES ficou com 65,1% do total das debêntures lançadas em janeiro de 2010. A empresa diz estar "em estágio avançado de negociação com o principal debenturista" para a segunda emissão. O preço de conversão será de R$ 9,50 por ação, acrescidos dos juros pagos aos debenturistas, líquido de impostos, e deduzidos de toda remuneração paga aos acionistas no período (dividendos, juros sobre capital próprio, etc); e opção de subscrição com as debêntures da 1ª emissão.Confiança. O entendimento do mercado é que o estímulo à consolidação em um setor no qual o Brasil tem vantagem competitiva conquistou os técnicos do BNDES. Entretanto, o problema pode ter sido o excesso de ousadia da companhia: ao se comprometer com a abertura de capital da JBS USA, a companhia esperava um ambiente melhor no mercado americano. Com a lenta recuperação da economia do país, a JBS já adiou duas vezes o lançamento das ações, aumentando as suspeitas de que a operação não rendeu os resultados esperados. PARA ENTENDERBNDES apoiou crescimento do grupoOriginário de um açougue no interior de Goiás que abatia cinco cabeças de gado por dia nos anos 50, o JBS Friboi já fazia quase seis mil abates diários nos anos 2000, com o crescimento por meio de aquisições. Foi então que encontrou no BNDES um motor para potencializar seu DNA de comprador e multiplicou a capacidade por dez. A exemplo do que vem fazendo com o rival Marfrig, o banco estatal tem dado suporte financeiro às aventuras internacionais do JBS, que já conta mais de 50 unidades no Brasil e em países como Estados Unidos, Argentina e Austrália e atualmente ocupa o posto de maior companhia de proteínas do mundo. Nos últimos anos, o BNDES colocou cerca de R$ 10 bilhões no JBS para expansões e suporte financeiro a aquisições como a da Pilgrim"s Pride, o passo mais ousado de sua trajetória de crescimento. O grupo também fez aquisições no Brasil com o apoio do BNDES, como a compra do frigorífico Bertin. Ávido por viabilizar multinacionais brasileiras, o BNDES aposta no setor de carnes para criar gigantes capazes de competir lá fora. A diretriz vem da política industrial do governo Lula.

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