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JBS tem perdas com câmbio e Argentina, onde produção pode parar

Por ROBERTO SAMORA
Atualização:

O JBS, maior produtor e exportador de carne bovina do mundo, teve prejuízo de 6,6 milhões de reais no primeiro trimestre de 2008, afetado principalmente pela variação cambial sobre investimentos em moeda estrangeira e também devido às perdas decorrentes da proibição das exportações de carnes na Argentina. Além de Brasil e Argentina, o grupo brasileiro tem unidades nos Estados Unidos, Austrália e na Itália. "Hoje, temos 1,5 bilhão de dólares investidos no exterior. A cada 10 centavos que o dólar se movimenta contra o real, isso representa 150 milhões de reais", exemplificou a jornalistas o presidente do JBS, Joesley Mendonça Batista. "Se o dólar andar 10 centavos negativos, seguramente no próximo trimestre registraremos mais um prejuízo de 150. E o oposto é verdadeiro, se o dólar andar 10 centavos para cima, fechar a 1,80 (real), vamos registrar 150 de lucro", acrescentou. Ele lembrou também que, quando as outras aquisições do JBS nos EUA forem concluídas (National Beef e Smithfield), o investimento externo saltará para 3 bilhões de dólares e o impacto cambial pode dobrar para mais ou menos. Diante disso, ele declarou ter afirmado em reunião com uma alta autoridade do governo brasileiro que o país não está preparado para ser sede de multinacionais. "Toda legislação é estruturada para um país que está sendo comprado." No primeiro trimestre do ano passado, quando ainda não havia operações nem nos EUA nem na Itália (Inalca), o JBS teve lucro de 10,6 milhões de reais, contra prejuízo de 136,1 milhões de reais no quatro trimestre de 2007. Mas, segundo ele, o problema do veto às exportações da Argentina, onde a empresa tem cinco unidades de produção, também teve impacto direto nos resultados. A receita líquida na Argentina caiu 37 milhões de reais, em relação ao período anterior, contra um salto da receita de todo o grupo nos primeiros três meses de 1,27 bilhão para 5,85 bilhões de reais, ante o primeiro trimestre de 2007, graças a incorporação das unidades nos Estados Unidos (receita de 4,28 bilhões de reais) e na Itália (304 milhões). O resultado, no entanto, caiu ante os 6,65 bilhões de reais do quarto trimestre de 2007, também pela variação cambial. O trimestre com uma semana a menos também reduziu o faturamento. UNIDADES PODEM PARAR NA ARGENTINA "Tivemos pontualmente um forte impacto negativo em função das restrições às vendas do governo argentino", disse ele. O presidente do JBS afirmou ainda que a empresa está transferindo boa parte do produto que seria vendido no exterior para o aquecido mercado local argentino, mas salientou que se as restrições aos produtos industrializados (carnes cozidas e enlatadas) prosseguirem, a empresa poderá suspender essa produção, que não encontra demanda internamente. "Vamos parar as nossas atividades, porque não temos o que fazer com esses produtos (processados), estamos fazendo algo que não tem cliente", disse ele, lembrando que se o governo argentino não permitir exportações nos próximos dias a linha de carnes cozidas e enlatadas será paralisada na segunda-feira. Se isso ocorrer, haverá uma redução nas vendas do JBS na Argentina de 30 por cento, disse o presidente, lembrando que a empresa terminou o trimestre com 25 milhões de dólares de produtos processados em estoque e com 15 milhões de dólares de carne in natura estocada. "Temos dificuldade de prever o que vai acontecer na Argentina", disse ele, referindo-se ao país que retém as exportações de carne bovina, um produto básico da população, para tentar controlar a inflação. Essa política está entre os motivos da retomada dos protestos de produtores locais. Com as proibições nas exportações argentinas, no mesmo momento em que a Europa restringe fortemente as vendas do Brasil, o JBS tem abastecido o mercado europeu através de suas unidades na Austrália.

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