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Petrobras não pode fazer política pública e 'menos ainda' política partidária, diz Silva e Luna

De saída da presidência da Petrobras após ter sido demitido pelo presidente Jair Bolsonaro, Silva e Luna afirmou que a estatal ainda tem dificuldade de explicar para a sociedade que precisa operar como uma empresa privada

Por Guilherme Pimenta e Denise Luna (Broadcast)
Atualização:

BRASÍLIA e RIO - O presidente da Petrobras, Joaquim Silva e Luna, de saída do cargo após ter sido demitido pelo presidente Jair Bolsonaro (PL), afirmou que a petroleira, por lei, não pode fazer política pública com os preços dos combustíveis e "menos ainda" política partidária.

"Tem responsabilidade social? Tem. Pode fazer política pública? Não. Pode fazer política partidária? Menos ainda", afirmou Silva e Luna em um seminário no Superior Tribunal Militar (STM).

Joaquim Silva e Luna foi demitido da presidência da Petrobras por Bolsonaro em um momento em que o País enfrenta uma forte alta dos combustíveis Foto: Adriano Machado/ Reuters - 14/9/2021

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Ele afirmou que o Brasil "não pode correr riscos de tabelar preços de combustíveis". Para ele, o fato de empresas internacionais não estarem se interessando em leilões no setor no país se deve ao fato de o mercado mercado ficar com "medo de intervenção no preço da empresa". "Todo mundo se recolheu", disse o presidente da companhia, se referindo a leilões realizados no ano passado.

"Empresas que tabelaram combustíveis tiveram perda de capacidade de investimento", afirmou o presidente aos militares. "Essa dívida monstra da Petrobras foi de tabelamento de preço."

Silva e Luna finalizou seu discurso afirmando que a empresa não exerce mais o monopólio e que precisa praticar preços de mercado. A poucos dias de deixar o cargo, Luna reforçou o que vem falando insistentemente nos bastidores: "A aplicação de preços de mercado garante o abastecimento do País".

Segundo ele, passados 25 anos da abertura do setor de petróleo e gás natural, a Petrobras ainda tem dificuldade de explicar para a sociedade que precisa operar como uma empresa privada, já que compete com outras petroleiras no mercado interno e internacional. Desta maneira, justificou Luna, a estatal não pode fazer política pública nem partidária, o que segundo o general, "tem gente que não entende".

A falta de comunicação com a sociedade sobre o preço dos combustíveis teria sido um dos argumentos de Bolsonaro para a demissão do militar do cargo na noite de segunda-feira, 28. Luna assumiu a presidência em abril do ano passado, no lugar de Roberto Castello Branco, demitido pelo mesmo motivo. Para o lugar do militar foi indicado o economista Adriano Pires, também contrário à interferência do governo na estatal

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Luna lembrou que, em 2018, a empresa recebeu R$ 6,8 bilhões do governo para segurar os preços do diesel e acabar com a greve dos caminhoneiros, que chegou a parar o País, dando a entender que como segue os preços do mercado, uma redução deveria vir novamente do governo, e não da estatal.

Ele destacou ainda, que as decisões na Petrobras não são monocráticas e que a existem 21 órgãos de controle fiscalizando suas ações, sendo uma das empresas mais controladas do mundo, afirmou. "Decisões tomadas são coletivas, não há lugar para aventureiros", afirmou o executivo, destacando que pelo desempenho dentro das regras do livre mercado a estatal recebeu no ano passado nove prêmios de conformidade e governança.

Preço internacional

Silva e Luna explicou que outros importadores não trazem cargas para o mercado brasileiro se a Petrobras praticar preços abaixo do praticado lá fora, e que por isso é necessário manter os preços dos combustíveis alinhados com o mercado externo. "É preciso que o abastecimento deixe de ser uma preocupação e passe a ser uma oportunidade (para outros agentes)", disse ao encerrar seu discurso.

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Apesar do executivo afirmar que os preços da empresa são alinhados ao mercado internacional, importadores reclamam de defasagem em relação ao Golfo do México, parâmetro para os preços dos derivados no Brasil. Segundo a Associação Brasileira dos Importadores de Combustíveis (Abicom), porém, com a queda do preço do petróleo nesta terça-feira no mercado externo, a defasagem nos portos brasileiros hoje está zerada para a gasolina e é de apenas 3% em relação ao diesel.

A jornalistas, após o evento, ele se limitou a dizer que o motivo de sua demissão é "complexo". "Vou passar por um período de silêncio. Pretendo conversar com toda a imprensa, colocar informações e tirar dúvidas, até pela reputação da empresa que pode estar sendo arranhada", respondeu, ao confirmar que fica no cargo até o dia 13 de abril. 

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