Uma semana de decisões de política monetária. Nos Estados Unidos, o Federal Reserve (Fed) aumentou a taxa básica de juros em 0,5 ponto de porcentagem, antecipou novos aumentos nas próximas reuniões e iniciou o processo de redução de liquidez com a venda de ativos (Treasuries e MBS). Nos primeiros três meses serão vendidos, no máximo, US$ 47,5 bilhões e, a partir do quarto mês, as vendas poderão atingir no máximo US$ 95 bilhões.
Ao contrário do que muitos analistas esperavam, o comitê não indicou que irá acelerar o ritmo de aperto da política monetária, e o presidente da instituição, Jerome Powell, desconsiderou explicitamente a possibilidade de aumentar a taxa dos Fed funds em 0,75 ponto de porcentagem na próxima reunião. Ainda assim o dirigente tentou passar a ideia de que o Fed está efetivamente preocupado com o nível atual e a trajetória de inflação nos próximos meses.
Para os investidores, o sinal inicial foi de que o Fed não pretende endurecer a política monetária neste momento, o que refletiu imediatamente nos preços dos ativos (dólar e juros em queda e bolsas em alta). Entretanto, dados os elevados níveis de inflação, o mercado de trabalho apertado com taxa de desemprego muito baixa, os aumentos de salários incompatíveis com a meta para a inflação e os persistentes choques de oferta, o consenso entre os analistas é de que a política monetária está atrasada e que, eventualmente, o Fed terá de acelerar o ajuste. A “ressaca” que dominou o mercado financeiro no dia seguinte à reunião reflete essa percepção.
No Brasil, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) decidiu aumentar a taxa Selic em 1,0 ponto de porcentagem e, no comunicado, antecipou um “provável aumento adicional de menor magnitude” na próxima reunião, ou seja, deixou em aberto a possibilidade de que o aperto monetário ainda tenha algum fôlego no futuro.
Como o Banco Central brasileiro iniciou o processo de regularização da política monetária mais cedo que outros bancos centrais, está em estágio mais avançado, tendo, a nosso ver, já atingido um nível de taxa de juros acima do neutro. Com isso, está menos pressionado a acelerar o ajuste dos juros nas próximas reuniões. Entretanto, dados os persistentes choques de oferta, ao deixar aberta a porta para novos aumentos da Selic, o BC dá o sinal de que está disposto a fazer o que for necessário para manter a inflação sob controle no longo prazo.
* PROFESSOR APOSENTADO DO DEPARTAMENTO DE ECONOMIA DA PUC-RIO. É ECONOMISTA-CHEFE DA GENIAL INVESTIMENTOS