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Professor da PUC-Rio e economista-chefe da Genial Investimentos, José Márcio Camargo escreve quinzenalmente

Opinião|Reverter o teto do gasto e a Lei das Estatais teria efeito negativo sobre PIB e estabilidade

A reação dos investidores já se faz sentir na reversão da trajetória de valorização cambial, queda dos juros e aumento dos preços das ações

Atualização:

O projeto de lei aprovado pelo Congresso que classifica combustíveis, energia elétrica, telecomunicações e transporte coletivo como bens essenciais e cria um teto para a alíquota de ICMS desses bens em 17% ou 18%, dependendo do Estado, é a melhor proposta apresentada até agora para reduzir os efeitos negativos da aceleração inflacionária e aumento dos preços dos combustíveis.

A proposta deverá resultar em uma queda dos preços desses bens. Estimamos que o efeito sobre a taxa de inflação será da ordem de 2,1 pontos de porcentagem.

Propostas mais negativas são as que sugerem reversão de reformas Foto: Estadão

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Como esses bens são parte importante da cesta de consumo das famílias, principalmente das mais pobres, teremos um aumento da renda real das famílias e menos regressividade da estrutura tributária do País.

Vai sobrar mais renda para as famílias comprarem outros bens e serviços, o que significa mais crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) e aumento do bem-estar da população.

As outras propostas em discussão, um voucher caminhoneiro de mil reais, aumento do Auxílio Brasil para R$ 600 e do auxílio-gás, ainda que transitórias, vão exigir aumento dos gastos e rompimento do teto, o que fragiliza o regime fiscal, aumenta o risco e reduz o fluxo de investimentos para o País, consequências que deverão exigir um aumento das taxas de juros.

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As propostas mais negativas são as que sugerem reversão de reformas implementadas ao longo dos últimos seis anos que mudaram estruturalmente o regime fiscal brasileiro, em especial o teto do gasto e a Lei das Estatais.

Com o teto do gasto, qualquer proposta que signifique um rompimento dele é exaustivamente discutida pela população e pelos investidores, forçando o governo a apresentar seus prós e contras.

Da mesma forma, a tentativa de mudar a Lei das Estatais com o objetivo de facilitar a interferência política na direção dessas empresas. Essa interferência, no passado recente, gerou corrupção, má gerência das empresas e desperdício de dinheiro público.

Reverter essas reformas seria um importante retrocesso institucional que, além dos efeitos de curto prazo, teria um efeito bastante negativo sobre o crescimento e a estabilidade de longo prazo da economia brasileira.

A reação dos investidores já se faz sentir na reversão da trajetória de valorização cambial, queda dos juros e aumento dos preços das ações que caracterizou o primeiro trimestre de 2022 desde que essas propostas começaram a ser discutidas. 

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* PROFESSOR APOSENTADO DO DEPARTAMENTO DE ECONOMIA DA PUC-RIO; É ECONOMISTA-CHEFE DA GENIAL INVESTIMENTOS

Opinião por José Márcio Camargo
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