PUBLICIDADE

EXCLUSIVO PARA ASSINANTES
Foto do(a) coluna

Professor da PUC-Rio e economista-chefe da Genial Investimentos, José Márcio Camargo escreve quinzenalmente

Opinião|Confisco de reservas internacionais russas deve afetar o papel do dólar e das criptomoedas no mundo

No longo prazo, devemos observar uma perda da posição da moeda americana como reserva de valor

Atualização:

 E m resposta à invasão da Ucrânia, os países do Ocidente, sob a liderança dos Estados Unidos, adotaram duras retaliações econômicas à Rússia com o objetivo de excluí-la do sistema financeiro e do mercado de trocas global. Pressão para que empresas interrompam voluntariamente suas atividades comerciais com as contrapartes russas, exclusão do acesso dos bancos do país ao sistema Swift e confisco das reservas cambiais do governo russo, denominadas em dólares, ouro e títulos do Tesouro americano, custodiadas nos bancos centrais do mundo ocidental, foram algumas das sanções adotadas. Os efeitos dessas sanções no longo prazo poderão ser bastante preocupantes.

Moeda fiduciária é uma dívida soberana do governo; se o país se recusa a honrar a dívida, a credibilidade da moeda é duramente afetada Foto: Dado Ruvic/ Reuters

PUBLICIDADE

A moeda fiduciária é uma dívida soberana do governo que a emitiu com o agente que se dispôs a reter a moeda em seu portfólio. Se o governo emitente se recusa a honrar a dívida, a credibilidade da moeda é duramente afetada. Neste contexto, a decisão de congelar as reservas russas custodiadas nos bancos do mundo ocidental poderá gerar uma quebra na credibilidade do dólar e de outras moedas fiduciárias.

Não existem alternativas de curto prazo e alterações no arcabouço de meios de pagamento global ocorrem de maneira lenta. Porém, no longo prazo, devemos observar uma perda da posição do dólar como reserva de valor. 

Os governos buscarão diversificar suas reservas como forma de reduzir sua exposição ao dólar, títulos do Tesouro americano e outras moedas fiduciárias, pois estes ativos se mostraram menos líquidos e seguros do que o antecipado. As criptomoedas são um ativo que deverá se beneficiar a longo prazo com esta fragilização das moedas fiduciárias. Devido a seu caráter descentralizado, estas moedas não são afetadas por sanções que visam ao congelamento de recursos, além de atuarem como instrumento de transferência internacional, que pode mitigar os efeitos de sanções que buscam a exclusão de determinado agente do sistema global de pagamento.

A elevada volatilidade das criptomoedas põe em xeque o seu papel como reserva de valor no curto prazo, limitando a utilização delas como reservas internacionais para os países. Porém, no longo prazo, esta discussão certamente estará na mesa.

Publicidade

Em outras palavras, o confisco das reservas internacionais russas é um evento que, no longo prazo, deverá afetar o papel das moedas fiduciárias e das criptomoedas no sistema financeiro internacional.

* PROFESSOR APOSENTADO DO DEPARTAMENTO DE ECONOMIA DA PUC-RIO. É ECONOMISTA-CHEFE DA GENIAL INVESTIMENTOS

Opinião por José Márcio de Camargo
Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.