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Política, terrorismo e emprego

Por José Pastore
Atualização:

Logo após os pavorosos ataques terroristas em Paris e em San Bernardino, os candidatos de extrema direita ganharam enorme espaço na opinião pública de seus países. Quase que em sintonia planejada, Marine Le Pen e Donald Trump propuseram o imediato banimento da entrada de migrantes muçulmanos na França e nos Estados Unidos. Apesar de criticada como politicamente incorreta e atentatória aos direitos humanos mais fundamentais, a ousada xenofobia alavancou imediatamente os nomes daqueles candidatos nas pesquisas eleitorais. Entre outubro e dezembro deste ano, a popularidade de Marine Le Pen subiu de 15% para 30% do eleitorado (quase ganhou no último domingo) e a de Donald Trump saltou de 20% para 30%. É provável que os dois candidatos tenham sido informados a respeito do conhecimento acumulado sobre a clara relação existente entre terrorismo e comportamento eleitoral. Um estudo recente apresenta extensa resenha de pesquisas realizadas nesse campo, todas elas mostrando que, como regra geral, ataques terroristas fazem decrescer a intenção de votos em candidatos de linha mais democrática ou centristas e subir a disposição de votar nos que defendem medidas drásticas dentro de uma linha mais dura (Abel Brodeur, Terrorism and employment, Bonn: Institute for the Study of Labor, novembro de 2015). O que leva os eleitores a buscar candidatos de posições extremadas no clima de terror? A literatura pertinente indica haver fatores subjetivos e objetivos. No primeiro grupo estão a insegurança, o medo e o pânico que dominam as pessoas que vivem nas cidades atacadas pelo terror, assim como nas regiões vizinhas. No segundo grupo há o impacto objetivo dos ataques na oferta de empregos na localidade atingida. Ao analisar dezenas de atos terroristas perpetrados nos Estados Unidos desde o fatídico 11 de setembro de 2001 (queda das torres gêmeas), e usando uma metodologia bastante robusta e que leva em conta vários controles estatísticos, Brodeur constatou uma redução média de 5% na oferta de empregos ao longo do primeiro ano na localidade alvejada pelo terror. A depender da composição da economia local, essa redução é ainda mais grave, como no caso das cidades que dependem de turistas que cancelam viagens e mudam de itinerário. O impacto negativo direto do terrorismo sobre o emprego tende a se limitar ao primeiro ano do ataque. Mas há efeitos negativos indiretos que operam por mais tempo e que não podem ser desprezados. Vários autores mostram que as cidades atacadas tendem a aumentar substancialmente os dispêndios públicos e privados com medidas antiterror com vistas a inibir novos ataques, o que, é claro, desvia parcelas expressivas de capital de atividades produtivas para outras não produtivas. Nos ataques mais violentos, planos de investimentos públicos e privados são adiados ou cancelados. Tudo isso conspira contra a geração de empregos ao longo de alguns anos, mesmo quando se considera a geração de postos de trabalho ligados aos projetos voltados para o combate ao terror. Apesar de as economias locais se ajustarem em pouco tempo, pelo menos no primeiro ano, não há dúvida de que ataques terroristas influenciam as decisões dos consumidores e dos investidores, assim como o comportamento político dos eleitores – dimensões claramente relacionadas entre si. Para os candidatos, é evidente, conta mais o que ocorre no tempo da eleição do que no tempo da sua administração. Não é à toa que propostas tão extremadas como as apresentadas por Le Pen e Trump ganhem espaço na mídia e atraiam a atenção de tantos eleitores. No imaginário do cidadão comum é provável que essas promessas funcionem, ao mesmo tempo, como um bálsamo para afastar o medo e uma âncora para garantir empregos. É dessa forma que eles fazem dos limões uma vantajosa limonada.*José Pastore é professor da FEA-USP, presidente do Conselho de Emprego e Relações do Trabalho da Fecomercio-SP, é membro da Academia Paulista de Letras

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