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Juiz decreta prisão de 9 no caso Cisco

Entre eles, está Carlos Carnevali, ex-presidente da empresa; um dos acusados está foragido

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Por Marcelo Godoy
Atualização:

Os principais dirigentes do esquema de ''''laranjas'''' e empresas fantasmas envolvendo a Cisco Systems, que causou prejuízo de R$ 1,5 bilhão ao governo tiveram suas prisões preventivas decretadas ontem pela Justiça. Ao todo, nove executivos ligados à Cisco e a outras três empresas responderão presos ao processo na 4ª Vara Criminal Federal de São Paulo. Oito estão presos, seis dos quais já estavam detidos temporariamente. O nono acusado não estava em casa quando os agentes federais bateram em sua porta. Entre os presos está Carlos Roberto Carnevali, ex-presidente da Cisco do Brasil e membro da organização global de Estratégia e Planejamento da Cisco. A decisão de decretar a prisão preventiva dos acusados foi tomada pelo juiz Alexandre Cassetari a pedido dos procuradores Priscila Schreiner e Marcos José Gomes Correia e da delegada Erika Nogueira. O Ministério Público Federal (MPF) e a Polícia Federal haviam pedido a prisão de 11 pessoas. Os procuradores e a delegada entendiam que, soltos, os acusados seriam uma ameaça à ordem econômica, poderiam fugir ou causar problemas ao processo. O magistrado concordou que esse risco havia em relação a 9 das 11 pessoas da lista. ''''É inquestionável que, com o grau de influência e comando de cada um deles, há o risco de que, caso soltos, voltem a praticar ações idênticas, em prejuízo da ordem econômica.'''' Cassetari justificou-se ainda dizendo que os acusados seriam responsáveis pelo esquema de ''''interposição fraudulenta'''' (laranjas), ''''seja de forma direta ou indireta, participando do quadro societário de empresas do grupo ou em controle indireto, bem como em funções ligadas ao comércio exterior''''. Carnevali, por exemplo, é suspeito de estar por trás da empresa Mude Comércio e Serviços Ltda, uma das que, segundo os investigadores, participavam do esquema de blindagem da multinacional americana. Era por meio delas que se fazia a importação de equipamentos da Cisco para o Brasil. As mercadorias entravam no País como se fossem peças para serem montadas na Bahia, a fim de aproveitar incentivos fiscais do Estado. Além disso, era comum as empresas informarem que os softwares constituíam a maior parte do valor das importações, em vez dos equipamentos. Assim, aproveitavam-se fraudulentamente da isenção de imposto de importação de softwares. Por fim, suspeita-se que o grupo enviava divisas ilegalmente para o exterior como se tratasse de pagamento de direitos autorais dos softwares. A operação para justificar a remessa de divisas ao exterior serviria para ocultar o patrimônio de empresas e de executivos. O juiz afirmou, em seu despacho, que, ''''pelo elementos apurados, há anos essas pessoas atuam na condução de seus negócios dessa mesma forma, com indícios fortes de práticas criminosas, sendo vital para a aferição de risco à ordem econômica o fato de que há indícios de que esses investigados já fizeram substituição das empresas de fachada após terem descoberto que eram alvo de outras investigações''''. Ele se refere ao hábito de o grupo fazer rodízio de empresas fantasmas. Cada vez que a atuação de uma era descoberta pela Receita Federal, o esquema a abandonava. Como era fantasma e os donos, laranjas, a Receita ficava sem ter de quem cobrar as multas e os impostos sonegados. O juiz negou a decretação de prisão de dois dos acusados por entender que eles são figuras secundárias no esquema e não teriam como influenciar a condução das empresas caso permanecessem soltos. São eles: Gustavo Henrique Castellari Procópio, gerente de operações da Mude, e Reinaldo de Paiva Grillo, apontado como sócio da empresa de assessoria What''''Up e gerente de logística da Mude. A What''''s Up é apontada como controlada de fato pela Mude, distribuidora de produtos Cisco no Brasil. Além de Carnevali, o juiz decretou as prisões de quatro pessoas ligadas à Mude. São três sócios - Hélio Benetti Pedreira, Fernando Machado Grecco e Moacyr Álvaro Sampaio -, o diretor de Operações e Finanças, José Roberto Pernomian Rodrigues, e o diretor comercial, Marcelo Naoki Ikeda. Também teve a prisão decretada Paulo Roberto Moreira, apontado como controlador do Grupo South, cuja empresa de logística South America Overseas Corp é apontada como uma das fantasmas que atuavam no Estados Unidos para esconder as vendas da Cisco ao Brasil. Os dois últimos acusados que tiveram a prisão decretada foram os sócios Cid Guardia Filho, o Kiko, e Ernani Bertino Maciel. Ambos são apontados como controladores de diversas empresas, chamadas pela PF e pelo MPF de ''''grupo K/E''''. Cid já estava preso. Maciel era um dos três acusados em liberdade que a Justiça resolveu mandar para a cadeia - os outros foram o diretor comercial Ikeda e Grecco, um dos sócios da Mude. APRESENTAÇÃO O criminalista Luciano Almeida, que defende Maciel, afirmou que seu cliente não está foragido. ''''Ele foi ouvido anteontem pelo juiz e liberado. Então resolveu fazer uma pequena viagem com a mulher e vai se apresentar hoje à Polícia Federal. Ele não imaginava que ia ser preso de novo e pensava que ia responder em liberdade.'''' AS 9 PRISÕES Carlos Roberto Carnevali: ex-presidente da Cisco do Brasil e membro da organização global de Estratégia e Planejamento da Cisco Moacyr Alvaro Sampaio: presidente da Mude Helio Benetti Pedreira: sócio da Mude Comércio e Serviços Ltda Fernando Machado Grecco: sócio da Mude José Roberto Pernomian Rodrigues: diretor de Operações e Finanças da Mude e advogado Marcelo Naoki Ikeda: diretor Comercial da Mude Paulo Roberto Moreira: controlador do Grupo South Cid Guardia Filho: controlador do grupo de empresas K/E Ernani Bertino Maciel: fiscal aposentado controlador do grupo K/E

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