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Juíza descobre fuga de US$ 70 milhões do corralito

Por Agencia Estado
Atualização:

A juíza argentina María Romilda Servini de Cubría afirmou hoje que 148 correntistas do Banco General de Negócios tiraram do país cerca de US$ 70 milhões depois da decretação do ?corralito? (congelamento parcial dos depósitos), em 3 de dezembro. Por decisão da juíza, todos eles vão depor sobre o caso, a partir de amanhã. "Até agora só analisamos uma pequena parte da documentação apreendida no banco, e chegamos a esse montante", disse. Na terça-feira da semana passada, Servini de Cubría mandou fazer uma devassa no BGN e decretou a prisão preventiva, por lavagem de dinheiro, do presidente e do vice-presidente do banco, os irmãos José e Carlos Rohm. Carlos foi preso quando já estava dentro de um avião prestes a sair do país. José já tinha viajado para a Suíça e agora estaria nos Estados Unidos. Além de capitais argentinos, o banco possui capitais dos bancos JP Morgan Chase, Credit Suisse First Boston e do Dresdner Bank. Entre a documentação apreendida na devassa estaria um manual de instruções do banco que explica aos correntistas como retirar dinheiro do país. A operação era feita com depósitos a prazo fixo realizados depois da entrada em vigor do corralito, e transferidos para o exterior por meio de empresas vinculadas ao BGN estabelecidas na Argentina e no Uruguai. "Nunca imaginamos que iríamos encontrar tudo o que encontramos. Pensávamos que iríamos nos deparar com muito menos", disse a juíza. Entre as 148 pessoas intimadas a depor, e que devem ser acusadas de fraude, estão o ex-embaixador argentino na Alemanha, Ignacio Keller Sarmiento, a apresentadora de televisão Cecilia Zuberbühler, o ex-secretário de Planejamento do Ministério da Defesa durante o governo de Carlos Menem, Jorge Pereyra de Olazábal, e a empresária María Teresa Blaquier, cuja família é uma das principais produtoras e comercializadoras de açúcar da Argentina. Muitos dos citados pela juíza pertencem a famílias tradicionais. Seis depositantes serão ouvidos por dia. "As pessoas que vão prestar depoimento terão de explicar como era feita a operação", afirmou Servini de Cubría. A juíza também convocou para prestar depoimento o ex-presidente do Banco Central do fim do governo de Fernando de la Rúa ao início da gestão de Eduardo Duhalde, Roque Maccarone. E confirmou que o ex-ministro da Economia Domingo Cavallo "vai ser investigado". Ela quer saber por que o BC concedeu empréstimos (redescontos) ao BGN e a outros bancos na mesma época em que dólares saíam ilegalmente do país. "Comprovamos que entre os dias 17 e 20 de dezembro, duas semanas depois de instaurado o corralito, o Banco Central concedeu redescontos de US$ 35 milhões ao BGN", afirmou a juíza. Hoje, Servini de Cubria mandou a Polícia Federal fazer outra devassa no banco dos irmãos Rohm. Dessa vez foram revistados cofres particulares, abertos com chaves que estavam no banco e foram apreendidas na operação da semana passada. O que está nos cofres não foi apreendido, mas foram lavradas atas detalhando o conteúdo de cada um deles. José Rohm teria acusado seu irmão Carlos de ter promovido um desfalque de US$ 250 milhões no Banco General de Negócios. A fraude teria sido cometida ao longo de dez anos, por meio de operações com a empresa San Luis Investments, vinculada ao Banco Comercial do Uruguai, que pertence ao BGN. Em declarações feitas supostamente em Nova York ao jornal La Nación, José Rohm, fugitivo da Justiça argentina, negou ter acusado seu irmão de cometer a fraude. Mas a juíza Servini de Cubría disse que, segundo lhe contou um advogado do JP Morgan, José Rohm foi a Suíça pedir um empréstimo aos seus sócios para cobrir a fraude cometida por Carlos. Os diretores do Credit Suisse First Boston, do Morgan e do Dresdner Bank que ouviram o pedido de José durante um jantar na semana passada se comunicaram com a sede do JP Morgan nos Estados Unidos. A decisão tomada, ao contrário de ajudá-lo, foi comunicar o desfalque ao Banco Central da Argentina, que na segunda-feira passada apresentou o caso à Justiça como denunciante. Como José Rohm é uruguaio e estaria casado com uma cidadã americana, o processo contra ele será complicado. Leia o especial

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