O cenário de juros altos, alta taxa de desemprego e renda em queda conduziu novamente a um desempenho negativo no volume de vendas do comércio varejista, que caiu 4,36% em julho, ante julho do ano passado . A avaliação é do técnico do Departamento de Comércio do IBGE, Nilo Lopes. Esta foi a oitava queda consecutiva neste tipo de comparação, e o quinto mês consecutivo em que ocorre queda generalizada em todas as atividades pesquisadas do comércio. Foram registradas quedas nos setores de hipermercados, supermercados, produtos alimentícios, bebidas e fumo (-5,46%), demais artigos de uso pessoal e doméstico (-3,83%), tecidos, vestuário e calçados (-6,20%), combustíveis e lubrificantes (-2,43%) móveis e eletrodomésticos (-1,01%) e veículos, motos, partes e peças (-10,90%). Porém, apesar do desempenho negativo, Lopes considerou que a queda de julho foi de menor intensidade, quando comparada com junho (-5,59%) e com a de maio (-6,27%). "Isso não constitui ainda uma tendência de desaceleração na trajetória de queda. Mas significa que as expectativas do consumidor estão melhores quanto ao futuro, e que houve uma pequena melhora no consumo. O ambiente econômico está mais favorável agora do que o registrado em dezembro do ano passado", afirmou. Ele explicou que a queda menor no mês também foi influenciada pelo comportamento do setor de hipermercados, reflexo do panorama geral do comércio e o de maior peso entre as atividades pesquisadas pelo IBGE. O segmento teve queda de 6,65% em maio, recuo de 8 ,61% em julho e, agora, retração de 5,46% em julho. "Houve estabilização de preços dos produtos de cesta básica", disse, observando que o varejista preferiu manter os preços da cesta, para assim estimular o consumo, prejudicado pela retração na demanda interna do País. São Paulo e Rio respondem por 63% da queda As quedas nas vendas do comércio varejista no Rio e em São Paulo em julho foram responsáveis por 63% da queda de 4,36% volume de vendas do setor no mês, ante julho de 2002. As vendas no Rio caíram 7,09% no período, e as de São Paulo recuaram 4,38% no mesmo tipo de comparação. Nilo Lopes observou que o quadro negativo do comércio está generalizado regionalmente. O IBGE registrou queda no volume de vendas em 22 dos 27 estados. "Estamos registrando retração de vendas na maior parte dos estados há algum tempo", afirmou. O técnico disse ainda que os cinco estados a apresentarem resultados positivos em julho não têm tanto peso na formação do índice nacional, como Rondônia (+5,05%), Mato Grosso do Sul (+3,14%), Goiás (+2,47%), Amapá (+2,24%) e Paraná (+0,54%). Reajustes acima da inflação O comércio varejista nacional reajustou seus preços acima do patamar de inflação. Segundo Nilo Lopes, a inflação somente no setor de comércio no País, em 12 meses até julho, ficou em 19,3%. De acordo com ele, este dado pode ser comparado ao percentual do IPCA acumulado em 12 meses até julho, que foi de 15,43%. "Realmente, quando se compara estes dois dados, e se a inflação pelo IPCA em 12 meses é menor do que a do comércio, podemos dizer que o seor está reajustando os preços acima da inflação", disse. Quando questionado sobre aumento de receita, Lopes explicou que a correção inflacionária do período levou a receita do comércio varejista acumulada nos últimos 12 meses até julho a ter alta de 12,6 0%. Entretanto, o economista foi taxativo ao afirmar que o comerciante "não está remarcando os preços porque o volume de vendas está em trajetória de queda", e assim para manter sua margem de lucro. "Os comerciantes estão remarcando os preços sim, mas por aumento de custos, como elevação de preços de seus fornecedores. Portanto, o que está sendo repassado ao consumidor é esta alta de custos", disse, negando que isso seja uma manobra dos comerciantes para permanecer com lucro, mesmo em um ambiente de retração de consumo.