PUBLICIDADE

Juro bancário é o mais alto desde março de 2006

Segundo o BC, spread também subiu em novembro, para o maior nível desde julho de 1994

Por Fabio Graner
Atualização:

Apesar do discurso do governo de que o crédito estaria se normalizando em novembro, os dados divulgados ontem pelo Banco Central (BC) mostraram piora, especialmente para as famílias. Os juros médios subiram, os prazos foram encurtados, a inadimplência das pessoas físicas aumentou e o crescimento do estoque total no mês, que atingiu 40,3% do Produto Interno Bruto (PIB), foi mais lento do que em outubro e sustentado graças aos bancos públicos. Veja gráfico com a evolução do crédito, inadimplência e juros Os números mostram que a taxa média de juros subiu 1,2 ponto porcentual, atingindo 44,1% ao ano em novembro. Nos financiamentos para as pessoas físicas, a taxa média subiu de 54,9% para 58,7% anuais, nível mais alto desde março de 2006. Segundo o chefe do Departamento Econômico do BC, Altamir, essa alta reflete o medo dos bancos em emprestar. Para pessoa jurídica, os juros até caíram (0,2 ponto porcentual), para 31,2% ao ano. Mas poderiam ter recuado mais se os bancos não tivessem embolsado parte da queda do custo de captação e elevado o spread - diferença entre taxa de captação paga pelo banco e o juros cobrado do cliente - para o nível mais alto desde julho de 1994: 18,3 pontos porcentuais. Os dados preliminares do BC para dezembro não mostram melhora. A taxa média de juros até o dia 11 deste mês seguia em 44,1% ao ano e para pessoa física subiu mais 0,8 ponto porcentual, para 59,4% anuais. Além de pagar juros mais altos, os bancos estão emprestando por prazos menores, especialmente para pessoa física, em que o prazo recuou de 490 para 482 dias. Segundo Altamir, um reflexo do sofrível desempenho do crédito automotivo, que caiu 10,6% na média diária de novos empréstimos com a redução de 25% nas vendas. O economista da Tendências Consultoria Bruno Rocha ressaltou que o movimento de aumento nas concessões de crédito pessoa física para modalidades pré-aprovadas, como cheque especial e cartão de crédito, continuou em novembro. A participação desses segmentos subiu para 66,9% em novembro, ante 65,5% em outubro e 61% em setembro, o que é ruim. "Essa mudança na composição ainda é incipiente, mas pode trazer novas elevações de inadimplência", disse Rocha, ao lembrar que a inadimplência neste grupo atingiu 7,8% - o maior nível desde agosto de 2003. Altamir também destacou que é preciso "observar" a elevação na inadimplência das famílias. Outro dado ruim foi a desaceleração no ritmo de expansão do estoque total de operações no País, de apenas 2%. Em outubro, a expansão foi de 2,9%. Em dezembro, o ritmo está ainda menor: 0,7%. A média diária de novos empréstimos subiu 4,2% no mês passado, mas o volume emprestado ao dia foi menor. O crescimento do crédito total só não foi menor porque os bancos públicos registraram em novembro um aumento de 3,6% nos empréstimos. Nas instituições privadas, a alta foi de 1,2%. O destaque foi o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), onde a expansão chegou a 4,2%, embora a desvalorização cambial tenha inflado o número. PROJEÇÃO Depois de dois anos de crescimento ao redor de 30%, o ritmo de expansão do crédito deve cair praticamente à metade em 2009, prevê o BC. Segundo Altamir, a taxa esperada é de 16%, levando a relação entre crédito/PIB para 43%. Apesar da desaceleração prevista, Altamir tentou transmitir otimismo. "É um crescimento na casa de dois dígitos. Evidentemente não é igual ao que vínhamos tendo, mas não é baixo." Esse dado foi considerado para a projeção de expansão de 3,2% para o PIB do ano que vem, divulgada anteontem pelo BC. O economista Bruno Rocha considera factível a projeção do BC e trabalha com uma taxa de crescimento real de 13%. Rocha também espera que o movimento de alta na inadimplência das pessoas físicas continue, com a taxa superando 8%. Segundo ele, o desempenho dos bancos públicos será importante para a expansão.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.