Os spreads e os juros mais altos do mundo fazem com que o custo para capital de giro das empresas brasileiras corresponda a 7,5% do preço dos produtos industrializados, de acordo com pesquisa da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp). Para financiar seu capital de giro, a indústria de transformação gasta cerca de R$ 156 bilhões por ano.
A entidade entende que a segunda fase da política industrial do governo Dilma Rousseff, chamada de Plano Brasil Maior, anunciada na semana passada, ainda é insuficiente para resolver o problema de competitividade brasileiro.
Os R$ 15 bilhões oferecidos pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) para financiamento de giro, por exemplo, representam ap1enas 0,5% das necessidades de financiamento do setor industrial.
Um dos fatores que roubam competitividade do produto nacional são os spreads, que encarecem o custo do crédito no País. Spread é a diferença entre o que os bancos pagam na captação do dinheiro e o que cobram nos empréstimos.
"O problema dos spreads é grave", diz o presidente da Fiesp, Paulo Skaf. Ele lembra que a redução da taxa básica de juros (Selic) não foi acompanhada de queda do spread, e os ganhos de escala e eficiência do sistema financeiro, obtido com o crescimento do crédito, também não foram repassados à economia na forma de redução do spread.
Em janeiro de 2004, o crédito total da economia representava 24,3% do Produto Interno Bruto (PIB) e hoje representa 48,8%. "O volume do crédito dobrou, trazendo bastante economia de escala para os bancos, porém não houve redução dos spreads", frisa Skaf.
Segundo a pesquisa da Fiesp, o apoio ao investimento anunciado pelo governo não compensa a perda de competitividade por causa do ambiente hostil de negócios. Por uma razão simples: só após cumprida essa condição, o investimento passa a ser cogitado pelas empresas.
Para efeito de comparação, o documento cita que apenas os benefícios "ilícitos" concedidos na guerra dos portos equivalem a um barateamento de 7% nos produtos importados. "Nenhuma condição de financiamento do BNDES, para investimento ou capital de giro, é capaz de compensar essa competição desleal", argumenta a Fiesp.
A entidade considera a redução das taxas do BNDES essencial para ampliar o investimento. Mas, para que isso ocorra, ressalva ser fundamental a melhoria no acesso aos recursos. Em 2011, a participação dos recursos públicos no investimento industrial foi de apenas 14,6%, enquanto os recursos próprios responderam por 68,8%.
Além do crédito caro, outros componentes do custo Brasil tiram poder de competição do setor. Exemplo: não bastasse o peso da carga tributária (representa 40,3% do preço dos produtos), as empresas gastam muito para pagar impostos. No total do preço do setor, 2,6% se devem ao custo com a burocracia para pagar tributos."O governo está atento ao fenômeno da desindustrialização, mas as medidas são muito tímidas diante do tamanho do problema", diz Skaf.