PUBLICIDADE

Publicidade

Juro menor é desafio para investidor

Títulos de renda fixa emitidos por empresas ganham espaço; letras imobiliárias e de agronegócio são opções

Por Leandro Mode
Atualização:

O investidor médio brasileiro está entre a cruz e a espada. De um lado, se vê diante da menor taxa de juros da história do País, que diminui o rendimento das aplicações em títulos do governo, principal referência para os produtos de renda fixa. De outro, está escaldado pela expressiva queda da bolsa de valores entre setembro e dezembro. O dilema é tentar encontrar uma alternativa mais rentável do que os papéis governamentais, mas nem tão arriscada como as ações. Nesse contexto, opções que outrora nem sequer eram consideradas pelas pessoas físicas começam a entrar no radar. Os títulos privados de renda fixa, como debêntures e notas promissórias, estão entre eles. Liao Yu Chieh, professor de Finanças do Insper, acrescenta as Letras de Crédito Imobiliário (LCIs) e as Letras de Crédito do Agronegócio (LCAs). No início de abril, a Oi, maior operadora de telefonia do País, fez uma emissão de debêntures com uma característica inovadora: cada papel tinha valor de face de R$ 1 mil. "Identificamos a demanda potencial (dos pequenos investidores) e contratamos os dois principais bancos de varejo do País (Itaú e Bradesco) para distribuir a operação", conta o diretor de Finanças e de Relações com Investidores da Oi, Alex Zornig. A estratégia funcionou. Dos R$ 2,6 bilhões captados pela empresa, R$ 800 milhões foram subscritos diretamente pelas pessoas físicas - sem contar a participação indireta, por meio de fundos de investimento de renda fixa que têm na carteira esse tipo de papel. "No total, 55 mil pessoas compraram nossas debêntures", comemora Zornig. É um número expressivo, levando-se em conta que o total de pessoas físicas cadastradas para operar diretamente na Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) chega a 517 mil. A principal vantagem para a Oi, segundo o executivo, foi a taxa de juro paga pelo papel - 120% do Certificado de Depósito Interbancário (CDI), que acompanha a taxa básica de juros. Com a Selic atual, de 9,25%, representa um empréstimo de 11,10% ao ano. "Em um banco, tivemos uma oferta de 145% do CDI", revela Zornig. Segundo ele, os tradicionais compradores desse tipo de bônus - fundos de pensão e grandes investidores - também cobrariam mais para financiar a companhia. Para o investidor comum, a principal vantagem foi o juro maior do que o recebido nas aplicações em títulos do governo e na poupança e um risco inferior ao de uma incursão em bolsa de valores. O professor Liao pondera, no entanto, que isso não significa a ausência completa de riscos. "O primeiro deles é de crédito, uma vez que uma empresa, por melhor que seja, tem um risco maior (de inadimplência) que o de um governo." Além desse, ele cita a falta de liquidez. Em outras palavras, a dificuldade de o investidor vender a debênture. "As pessoas têm de considerar que vão ficar com esse dinheiro empatado até o resgate do papel porque não há mercado secundário." No caso da operadora de telefonia, houve duas séries de debêntures: uma com vencimento em dois anos e outra, em três. Zornig observa que a Oi contratou o chamado market maker, uma instituição do próprio mercado financeiro cujo objetivo é dar liquidez ao papel. Ou seja, comprar a debênture antes do vencimento, se um investidor decidir vendê-la. Segundo Liao, mesmo o market maker não eliminará por completo esse risco, uma vez que provavelmente cobrará do investidor uma taxa relativamente alta para aceitar a operação. Na prática, significaria uma queda no rendimento final. O presidente da Associação Nacional das Instituições do Mercado Financeiro (Andima), Sérgio Cutolo, afirma que o País está começando a se preparar para a nova realidade - juros estruturalmente mais baixos - que se avizinha. "Existe muita ignorância até mesmo no mercado", pondera. O executivo lembra que, pela primeira vez na história do Brasil, a quantidade de títulos de renda fixa emitidos por empresas se aproxima à de papéis do governo - R$ 1,201 trilhão ante R$ 1,267 trilhão, respectivamente, ao final de maio. A maior parte (67%) ainda é concentrada em Certificados de Depósitos Bancários (os tradicionais CDBs de bancos), mas Cutolo acredita que a tendência é de crescimento da participação dos outros papéis do segmento, como as próprias debêntures. Liao cita, ainda, ao menos duas outras modalidades de investimento que devem ser consideradas pelos poupadores no ambiente atual: as Letras de Crédito Imobiliário (LCIs) e as Letras de Crédito do Agronegócio (LCAs). Ambas são emitidas pelos próprios bancos e têm uma vantagem tributária nada desprezível: a isenção de Imposto de Renda. TESOURO DIRETO Para os que ainda acham cedo demais para desprezar os títulos do governo, a opção sugerida pelos especialistas é o Tesouro Direto, que permite a aquisição desses papéis diretamente pelo investidor, pela internet. "O cuidado, nesse caso, é ser familiarizado com informática, prestar atenção à taxa cobrada pela corretora por meio da qual se faz o negócio e conhecer bem o papel (pré ou pós-fixado) que se quer comprar", explica o administrador de investimentos Fabio Colombo. Implementado pelo Tesouro Nacional em parceria com a BM&FBovespa em 2002, o programa já tem um estoque próximo de R$ 3 bilhões e tem batido recordes sucessivos. Em maio, por exemplo, as vendas chegaram a R$ 150,5 milhões, 55% mais do que no mesmo mês do ano passado. O investidor tem basicamente três opções: papéis prefixados (ou seja, com juro já definido na compra), pós-fixados atrelados à taxa Selic e pós-fixados corrigidos por índices de inflação, como o IPCA, indicador que baliza a meta do governo.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.