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Juro menor estimula vendas a prazo no comércio

Por Agencia Estado
Atualização:

A perspectiva de queda mais acentuada na taxa dos juros este ano, sinalizada na semana passada pelo Banco Central (BC), ao cortar em 0,25 ponto porcentual a taxa Selic, deverá ter reflexos positivos no aumento das vendas a prazo e na redução da inadimplência. Confiantes nesse cenário, grandes redes de varejo começam a se mexer. A Lojas Cem, com 113 pontos-de-venda e especializada em eletroeletrônicos e móveis, saiu na frente e a partir desta segunda-feira começa a trabalhar com taxas mais baixas. A rede reduziu de 5,9% para 4,8% ao mês a taxa para financiamento em 16 prestações. A estratégia para a redução estava definida há 15 dias e só aguardava o anúncio do BC. "As vendas ainda estão baixas, mas a expectativa é de uma retomada a partir de março. Resolvemos correr o risco e sair na frente para alavancar os negócios", diz o supervisor da Cem, Valdemir Colleone. A última vez que a empresa havia reduzido juros foi em outubro de 2000, quando a taxa Selic estava em 14% ao ano, 4,75 pontos porcentuais abaixo da taxa atual, de 18,75% ao ano. "Este ano tem tudo para ser muito bom e estamos trabalhando para ganhar escala e reduzir margens", diz Colleone. Sua estimativa é fechar 2002 com crescimento de 15% nas vendas em relação a 2001. Atentas à concorrência, outras redes de varejo examinam a possibilidade de cortes nas taxas para atrair o consumidor. O Ponto Frio, com 353 lojas, tem feito promoções de vendas sem juros e não descarta reduzir as taxas nos planos normais. O Grupo Pão de Açúcar, líder no setor de supermercados, também reavalia as condições de prazos e juros nas lojas de bandeiras Extra e Eletro. Atualmente, elas cobram de 5% a 6,9% ao mês em até 24 prestações. O Carrefour tem investido em planos de venda a prazo sem juros e vai esperar a movimentação do mercado para tomar uma decisão. O presidente da Associação Comercial de São Paulo, Alencar Burti, prevê que a queda dos juros vai levar as empresas a chamar os clientes inadimplentes para renegociar dívidas. Para Colleone, o acerto de débitos é importante para que o consumidor endividado possa voltar a comprar a crédito. "A decisão do BC mostra que os fatores negativos foram superados de alguma forma e a tendência dos juros é de queda. Isso vai criar um círculo virtuoso, em que a inadimplência cai, as vendas crescem e os empresários investem no aumento da produção e do emprego", observa Burti. Calote - Os números da inadimplência assombram o varejo. Apenas no mês de janeiro a quantidade de cheques devolvidos por falta de fundos aumentou 35,5% em relação ao mesmo período do ano anterior. O volume de devoluções é recorde desde 1991, quando a Centralização de Serviços dos Bancos (Serasa) começou a fazer o levantamento. Foram 14,5 cheques devolvidos a cada mil compensados. Para o presidente da Associação Nacional de Empresas de Recuperação de Crédito, Rogério Bonfiglioli, o recorde de cheques sem fundos reflete o aumento do uso de pré-datados nas compras de Natal. Segundo ele, os quatro primeiros meses do ano concentram despesas que desequilibram o orçamento doméstico, como pagamento de impostos (IPVA, IPTU), despesas com matrícula e material escolar e prestações de compras feitas no fim do ano. O motorista Ademir Fernando Ribeiro enfrentou fila na sexta-feira para tirar seu nome do cadastro de mau pagador do Serviço Central de Proteção ao Crédito. No Natal ele comprou uma TV de 29 polegadas no Ponto Frio, com seis cheques pré-datados, no valor de R$ 119 cada um. O primeiro cheque descontado, em janeiro, foi devolvido por falta de fundos. Ribeiro, que ganha R$ 900 por mês, diz que ficou inadimplente porque teve gastos de R$ 1,5 mil com o pagamento de impostos e da matrícula escolar em janeiro. "Procurei a loja para renegociar a dívida, que foi parcelada em duas vezes", conta. Os efeitos da inadimplência foram captados numa pesquisa feita no fim de janeiro sobre as expectativas de consumo pelo Programa de Administração de Varejo (Provar), da Fundação Instituto de Administração, com 400 consumidores na cidade de São Paulo. O levantamento revelou que 86% dos entrevistados não tinham intenção de comprar nenhum bem durável e semidurável nos próximos três meses. É um resultado bem maior do que o registrado pela mesma pesquisa no início de 2001, quando a economia estava mais aquecida e 53% afirmaram que nada comprariam entre fevereiro e abril. Os produtos incluem itens da linha branca, móveis, eletroeletrônicos, material de construção, automóveis, informática, foto-ótica, cama, mesa e banho. "O consumo no último Natal acabou ficando bem acima das expectativas iniciais, que eram muito pessimistas. O resultado é que o consumidor também se endividou mais e agora está cauteloso com seus gastos", diz o coordenador de pesquisas do Provar, João Paulo Lara de Siqueira. Mas ele ressalva que mudanças importantes como a queda nos juros e o fim do racionamento de energia podem alterar este quadro.

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