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Juro real elevado é o principal entrave para Bolsa

Analistas afirmam que a recuperação da Bolsa depende, em primeiro lugar, de uma queda expressiva no juro real. Mas este é um obstáculo difícil, dado que, no Brasil, taxas elevadas são usadas para atrair recursos externos e para o controle da inflação.

Por Agencia Estado
Atualização:

Uma queda na taxa de juro real - a taxa de juros nominal menos a inflação - é a principal condição para uma recuperação da Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa). Esta é a opinião unânime dos analistas ouvidos pela reportagem da Agência Estado. Para o diretor de renda variável da BankBoston Asset Management, Júlio Ziegelmann, existem outros fatores que prejudicam a Bolsa hoje, como a incidência da Cobrança Provisória sobre Movimentação Financeiro (CPMF) e o aumento da alíquota de Imposto de Renda (IR), mas a elevada taxa de juros tem peso maior na decisão dos investidores na hora de escolher a aplicação. "Os juros elevados inibem o crescimento econômico e diminuem o lucro das empresas. Isso é ruim para o mercado de ações. Além disso, o investidor prefere colocar seus recursos em renda fixa e garantir ganhos elevados, sem o risco do mercado de ações. O resultado é um esvaziamento dos negócios da Bolsa", afirma o diretor. O analista-chefe da Itaú Corretora, Reginaldo Alexandre, concorda. "Um cenário positivo para a Bolsa será provocado por uma inflação controlada, que permitirá uma queda acentuada das taxas de juros, favorecendo o crescimento econômico. Ou seja, a chave para a melhora do mercado de ações é o crescimento com sustentabilidade, que passa essencialmente por uma queda da taxas de juros", diz Alexandre. O estrategista de renda variável do JP Morgan, Pedro Martins Júnior, acredita que quando a taxa de juro real for menor do que 10% ao ano, a Bolsa será mais atrativa. "Os fundos de pensão são os maiores poupadores do País. Eles têm meta de rentabilidade. Atualmente, é o resultado de um índice de inflação mais uma taxa anual de juros de 6%. Considerando-se uma meta de 9%, um ganho inferior a este na renda fixa poderia estimular a migração destes recursos para a Bolsa", declara Martins Júnior. Segundo dados da Associação Brasileira das Entidades Fechadas de Previdência Privada (Abrapp), em novembro do ano passado, os fundos de pensão direcionavam R$ 26,955 bilhões para a compra de ações. Este montante representava 18,9% dos recursos totais destes fundos. Em dezembro de 1994, esta parcela destinada para o mercado de ações era de 39,1% do total de recursos dos fundos de pensão Por que os juros não caem? Redução de juros é um obstáculo difícil no Brasil. O problema é que existem problemas macroeconômicos que impedem uma queda significativa nas taxas de juros. "Basicamente os juros não caem porque o País precisa atrair capital estrangeiro, já que necessita de recursos estrangeiros para financiar suas contas. Outro entrave: a política monetária é guiada pelo cumprimento das metas de inflação", afirma o chefe de análise de investimentos do Banco Safra, Sérgio Goldman. Ziegelmann explica que o Brasil é muito suscetível às crises externas e isso faz com que as cotações do dólar sejam pressionadas para cima sempre que há problemas no exterior. A alta da moeda norte-americana influencia os índices inflacionários e, com a necessidade de cumprimento das metas de inflação, os juros não caem. Além disso, taxas elevadas atraem o investidor interno, que opta por colocar os recursos na renda fixa, reduzindo a demanda por dólares, o que contribui para o controle da inflação. Veja nos links abaixo como os analistas avaliam a queda no volume de negócios na Bovespa e quais as medidas adicionais que especialistas deste mercado propõem para aumentar a atratividade do mercado de ações.

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