Os juros básicos (Selic) estão agora no piso histórico de 4,5% ao ano. O fato de ter sido decisão do Copom amplamente esperada não tira sua importância, tanto para a economia como, também, para o dia a dia do brasileiro.
Como se conclui a partir do comunicado divulgado logo após a reunião do Copom, já não se dá como certo para janeiro novo recuo da Selic. Mas esses juros baixos deverão continuar a produzir efeitos relevantes.
O relatório do Tesouro já informara que, em outubro, o estoque da dívida pública federal caiu 0,84% em relação à posição de setembro, em boa parte graças à queda dos juros. O barateamento do crédito reduziu os custos da produção e aumentou a demanda por mercadorias e serviços. Incentivada por inflação sob controle e na meta, a confiança também vai readquirindo força. Nesta quarta-feira, por exemplo, o CDS (Credit Default Swap) do Brasil, de 5 anos, importante medidor de confiança, caiu aos 109 pontos, nível mais baixo desde maio de 2013 (veja o Confira).
Convém pontuar que os juros não teriam desabado até esse ponto se a inflação não tivesse sido domada sem artificialismos. O repique de novembro (inflação de 0,51%), que em alguma proporção deverá se repetir em dezembro, não tem a ver com aumento do volume de moeda na economia, mas com outro tipo de impacto: o de custos momentâneos. Os preços da carne, por exemplo, dispararam porque a China aumentou suas importações para suprir a demanda interna, prejudicada pela peste suína. E foi o esticão nas cotações do dólar que encareceu os produtos importados, os derivados do petróleo e alguns alimentos de presença importante na cesta de consumo do brasileiro.

Há consenso de que a queda da inflação e dos juros é fenômeno estrutural da economia e não apenas episódico. Daí a pergunta insistente: até que ponto os juros podem se manter nesse patamar ou podem até cair? Por acaso, o aumento da demanda que viria com o aumento da renda não empurraria a inflação novamente para cima?
A resposta tem a ver com a capacidade que o País terá de controlar a dívida pública. Se as reformas continuarem e se as despesas se mantiverem sob controle, não haverá razões graves que revertam o comportamento favorável da inflação. Nos países ricos, os juros chegam a ser negativos, fator que ajuda a mantê-los no chão também por aqui. E há muita tecnologia a ser incorporada no Brasil, para redução de custos e aumento da produtividade, portanto para contenção dos preços. Se o aumento da demanda vier acompanhado por mais produção, não haverá por que temer por nova puxada da inflação.
Juros a 4,5% ao ano no Brasil já recanalizaram aplicações financeiras antes depositadas em ativos de renda fixa para a renda variável, especialmente ações. Contados a inflação do ano, a taxa de administração e o Imposto de Renda, o retorno real da maioria das aplicações de renda fixa está muito perto do zero ou até mesmo abaixo disso. Se não acontecer nenhum desastre, essa migração para a Bolsa deve se acentuar.
CONFIRA
» Tombo na avaliação de risco
O gráfico mostra a evolução do CDS (Credit Default Swap) dos títulos do Tesouro brasileiro de 5 anos. O índice mede o nível de confiança. Um CDS alto mostra que o investidor tem em conta alto risco de calote. Se ele é cadente, reflete um 'seguro' mais baixo. O investidor tem a percepção de que a economia vai melhorando, graças às reformas e à política fiscal responsável. O recuo do CDS é fonte de pressão para que as agências de avaliação de risco melhorem a nota do Brasil, hoje em grau de especulação.